Alma Cativa
Sou o náufrago à deriva,
Numa cerração de breu,
Minha alma voga cativa
Sob o negrume do céu.
Há promontórios a pique
E serenas enseadas;
Reboa o mar, num despique,
No alvor das madrugadas.
É longo o tempo de espera,
Que só minha alma macera.
A noite descerra o véu,
Que alivia a inquietude;
Um facho brilha no céu
Luzente de mansuetude.
Nesse farol busco a lira
Em cujas cordas harpejo
O som que ao mundo atira
A toada do desejo,
Que não cessa na procura
De ver vencida a refrega,
De voar nessa aventura
Da mais estreita entrega,
Mas só encontro a desfeita
Que meu intento sujeita.
Na alma em fogo despida
Em cinzas fátuas vencida
Faz-se dum jeito vidonho
O desenlaçar do sonho,
E só em sonhos revejo,
Nas tintas com que bosquejo,
O frescor dessa nascente
Do teu bosque florescente.
Juvenal Nunes