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Vivendo & Escrevendo - X

 
ACORDEI CEDO e vim para cá em frente a Casa lotérica na Avenida dos Portugueses. A aglomeração das pessoas na parada, o movimento intenso de veículos, ônibus e caminhões > Uma funcionaria talvez a gerente suspendeu uma das portas e entrou. um senhor perguntou se ela era a diretora. a caixa, a mesma que abriu a casa deu-me o troco errado, em vez dos trinta centavos, deu-me um real e cinquenta centavos. fico em duvida se devolvo ou não resolvo dar uma de escroque,fui até o semáforo , refleti, olhei para a lotérica lotada, mas desisto de ser um bom samaritano, se fosse uma boa quantia teria escrupuloso para devolver? Acho que não me lembro de um episódio, quando fui trocar uma cédula com seu Ezequias, o velho avaro dono da fabrica de gelo, enganou-se de deu-me mais do que o devido, eu mais que depressa sai da fabrica e ele saiu mais atrás de mim me chamando. Repreendeu-me bruscamente e fora outras falcatruas que já cometi. na cabeça a abertura de 'Tropico de Câncer' - a espera da enfermeira para me entregar a cartela de comprimidos. Sr. K. e sua aventuras: ontem pela manhã, apareceu na lojinha uma menina de 13 anos com corpo de moça de l6 anos, que o deixou quase louco de tesão. branquinha, esbelta, perfeita xoxotinha. Ele a viu de calcinha no provador quando foi levar uma saia para ela experimentar. . A menina com corpo de moça contou-lhe a historia de sua triste vida, que o deixou muito emocionado. A mãe fora morta num acidente próximo a residência onde moravam. O Pai a abandonara e fora morar com outra. Os padrinhos dela que a criaram. Ficou devendo lhe onze reais. Não deu em nada e minha cunhada continua no mesmo impasse diante de sua sonhada aposentadoria. Sentido-me um idiota, não consigo redigir como gostaria ao estilo de Miller ou Kerouac. Um completo idiota que pensa que é escritor, por que já publicou quatro livros e sonha em escrever uma grande obra. Mas esforço-me, leio e releio os grandes clássicos até os neurônios entrarem em curto e escrevo e reescrevo, mas não chego ao ponto onde quero. Mas não desistirei do meu intento, continuarei na minha obstinada luta incessante, tudo é uma questão de perseverança, não devo desisti porque ninguém ainda comprou os meus livros, eles são umas porcarias? Os piores dos piores? - foram apenas experimentos que ainda não deram certos, mas que gosto; Lutarei conta mim mesmo, sou meu próprio inimigo nesses últimos tempos, achando-me incapaz de fazer o que sempre fiz. Se eu não fosse um escritor não teria escrito meus diários, talvez eu não tenha o mesmo talento e a inteligência de um Miller, mas possuo o meu estilo próprio que não quero aceitar devido a certos padrões que assimilei depois de muitas leituras. Não posso julgar-me pelos outros, vejo o exemplo de Graciliano ramos, de Rosas - cada um no seu nicho - e por que querer imita-los? Devo apenas aperfeiçoar-me com o minha maneira peculiar. Cometi um erro crasso ao mexer na estrutura do texto, não gostei achei que desvirtuava-o. Um belo passeio pelas ruas históricas da Lisboa antiga com o revisor Raimundo Silva, personagem do mestre Saramago - deu-me vontade de fazer o mesmo, de andar a esmo pelos becos e ruelas do centro naquela área entre a Rua do Ribeirão e a Avenida Rio Branco, uma zona pouco conhecida. Perambulo com mais profundidade pelo bairro de Praia Grande (Reviver) e lógico o meu Desterro querido, onde nasci e me criei. Aos poucos vou encontrando o meu norte, o meu azimute, estou no rumo certo.

ANDO DESNORTEADO sem saber o que vou escrever no próximo livro, isso me deixa triste e deprimido, tanta historia para por no papel, mas não consigo, um bloqueio mental, um desanimo fora de serie - Me questiono será que os grandes passaram por isso? Não imagino Balzac ou Dostoievski martelando as suas férteis mentes em busca de inspiração, era a inspiração que vinha a eles assim como na maioria deles. Miller ou Kerouac sofreram as dores do parto? Acho que não, pois tinham mentes brilhantes e prontas para entrarem em erupção a qualquer momento desejado, bastavam cutuca-las como fazem os metalúrgicos de uma siderúrgica na boca do alto-forno para jorrar a lava incandescente do ferro. Mas minha mente corroída durante anos por analgésicos, THC e álcool agora começa a mostrar os efeitos colaterais. Esquecimento é pior delas. Como sofro com a perda espontânea dela. Começo uma coisa e não termino, um desanimo brabo, principalmente quando me dano a pensar nos bons momentos que passei ao lado de Dona Van, nós dois nus na cama, nas belas tardes amorosas de domingo embalados a cervejas e de vez enquanto um baseado como nos amávamos. Confesso que não dei sorte com as mulheres, sou um fracasso, tenho ejaculação precoce por mais que me esforço não adianta. Mas não posso lamentar-me quando lembro-me de um certo homem que conheci no beco da oficina no Portinho, vinha injuriado gritando de raiva no meio da rua e aquilo me chamou atenção e deixando a vergonha de lado resolvi interpela-lo diretamente por causa era o motivo de tamanha indignação. Respondeu-me abaixando a bermuda: "Você já viu um home sem pau e com vontade de foder e não poder" - olhei e compreendi os seus motivos bem forte; "Agora vou mandar tirar os culhões" - suspendeu a bermuda e continuou a sua caminhada lamentando-se em voz alta a sua triste sina. Ele fora vitima de um peixinho chamado Candiru muito comum nos rios da região norte, sobe pela urina e aloja-se no canal da uretra e abre-se com um guarda-chuva invertido, causando infecção e não há outro remédio, se não a amputação do pênis. Aleluia!Aleluia! Seu Pietro fez-me uma surpresa agradável para mim dando-me cinco reais, que com mais cinco que havia pedido para a minha cunhada inteirei para comprar um desodorante que não usava quase uns seis meses e um sabonete. Obrigado, Seu Pietro. Reescrevi o capitulo inicial diretamente no computador, deleitei o que tinha digitado do Caderno Vermelho. Absorvido na leitura do mestre português, gosto do seu estilo sem parágrafo. Fiquei no segundo capitulo onde contarei a minha infância.
MAIS UM CHATO DIA, Larissa com feição preocupada coloca panela com água no fogo do fogão para preparar o café. Os dois parceiros de copo e de garrafa estavam sentadinhos, lado a lado, ombro a ombro debaixo da arvore nua e morta, conversavam amenidades como sempre, não poderiam dar-se ao luxo de trocarem outras ideias, a não ser aquelas corriqueiras e as de sempre. Matraquinha com o pé no assento do banco coçava a cabeça, tomara apenas um dose misturada do Mundé, enquanto o seu fiel parceiro que chegara desde cedo as seis horas em ponto antes que, ingerira três doses e agora aguardavam a sorte de alguém aparecer para inteirar uma garrafa. Uma vovozinha que mora no canto, chamou Matraquinha para comprar o pão. Um moreno de boné puxando um jovem Rottweiler aproximou-se de nós e sentou-se onde outrora estava Matraquinha; Um chegado das antigas - confidencia-me Gato Guerreiro ou Lindomar ( nome este que detesta e se zanga facilmente quem o chamar). E conversa vai e conversa vem, Matraquinha caminhando tropegamente caxigando de um lado e para o outro, mas lento não podia por causa do rotula do joelho esquerdo que de vez enquanto incha, assim como os pés ficam rosadinho. Gato sutilmente pede ao moreno de boné um inteira para garrafa, Matraquinha dirigia-se para conversar com escanzelado pedreiro Sales com quem muitos anos atrás trabalhara com ajudante. O moreno de boné concordou, Gato gritou para Matraquinha voltar, pois o parceiro do Rottweiler ia fechar, ele perguntou quanto já tinha, Matraquinha contente respondeu que cinquenta centavos - O moreno de Boné com o rottweiler que rosnou para uma cadela vadia dar um real; Agora falta apenas um real disse Gato que olhou tristemente para Matraquinha e voltou para o antigo mestre, depois de muita conversa e disse-me-disse conseguiu extirpar mais uma moeda, pois Seu Sales não dava nada pra ninguém. Pela contabilidade deles faltava um real. Para a surpresa Neneca uma senhora morena nada respeitável, cozinheira de mão cheia, biriteira, mãe de três deficientes mentais chamou Matraquinha e deu-lhe uma cédula emendada de dois reais que um dos filhos rasgara num acesso de raiva. Contente Gato correu até o box de Bruno dentro do mercado perto de um dos portões para minuto depois retornar triste com a cédula e as moedas na mão. Instigado pela rapaziada Gato seguiu para o box de Seu Raposo onde obteve êxito e assim trouxe o primeiro troféu. Matraquinha a muito custo levantou-se e com seu passo miúdo foi em casa passar uma agua na cabeça, na volta trouxe um saquinho com pedaços de galinha assada que a vovozinha do canto deu-lhe para tira-gosto. E assim como dizem os poetas, vou aos poucos galgando a escada do paraíso literário com a ajuda luxuosa de Saramago com sua maneira peculiar de contar sua historia singular (como gostaria de ser assim).
DIA DA ELEIÇÃO - fico imaginando na vida de meu colega Matraca, que tal como um navio em alto mar no piloto automático faz somente uma rota. Acorda de manhã cedo. As cinco vai comprar o pão da vovozinha na volta encosta na barraca de Mondé para entornar a primeira. deixa os pães e retorna para a Praça do Bacurizeiro e assim quando for nove para dez como ele diz estará enfeitado que nem boi de Laurentino, vai para casa com seus passos trôpegos. Há muitos anos que não trabalha, o corpo franzino e mirrado revela o estado de fraqueza aparente, sempre reclamando de uma dor na rotula do joelho ou no ombro do braço esquerdo. Mora com a mãe e os irmãos de outro pai. È o primogênito da bondosa Dona Cândida. Minha cunhada amanheceu mais zangada que nos outros dias, grita para Larissa, briga com as princesinhas que ainda dormem no seu sonho angelical. Vou dar deambular pelo mercado. O céu cinzento. Ainda reescrevo o primeiro capitulo, acrescento ou corto alguma frase. Balzac ficaria feliz com esses recursos que o computador nos oferece.
A brisa suave do Rio Anil no encontro com o mar revolto da baia de São Marcos. A velha mureta quase secular da antiga Avenida beira-mar depois de exercer o direito da minha cidadania e de fugir tal qual um criminoso que foge da policia esgueirando-me pelas paredes do casario da Avenida Dom Pedro II, assim que sair do prédio da prefeitura, onde voto, quase dei de cara com Deline, a deficiente e irmã de Denis com quem fiz um negocio malfeito que sugou uma pouco a minha integridade profissional. Conseguir avista-la a tempo, reconhecendo-a pela cadeira de roda num canteiro rodeada por uns amigos em frente ao antigo edifico João Goulart, onde por um determinado tempo funcionou a Tv Difusora. Fazia quase uns seis meses que não vinha aqui no centro de la cittá - centre de la ville ou cientro de la ciudad e uns bons longos anos que não me sentava neste local. è um dos cartões postais mais belo de minha amada cidade. Saramago esta comigo reposando dentro da velha e rasgada mochila. Observo o fluxo e refluxo das ondas na rampa com seu barulho peculiar, a pancada, o sobe e desce num movimento continuou. Presumo que a maré esta vazando. Uma lua tímida num céu límpido e azulissimo. Os ônibus semi-vazios. Um dos meus sonhos de consumo era morar numa dessa belas casas localizadas de frente para o mar. deve ser gostos acordar com o cheiro de ar salgado e o vento frio das madrugadas.. Uma banda exótica com membro de uma tribo que não é a minha toca alegremente no coreto em frente ao mirante do Palácio dos Leões, pura percussão de caixas, tarois e maracás executadas por belas e altivas meninas das pernas grossas. E sol caminhando para o seu repouso. O maestro dar alguns retoques enquanto alguns pasajos cantan en los nidos dos galhos das arvores. Uma pausa ou talvez até mesmo o encerramento do ensaio. Enfim a vista encadeia com o belo sol descendo por trás das nuvens no horizonte bem na minha frente. Um espetáculo cotidiano que me emociona muito. Os indianos veneram o por do sol entoando mantras. A banda reinicia os seus maracatus. O divino por do sol - OM - É com eu tivesse na sagrada Benares ou Varanasi a beira do sagrado Ganges. A maré continua a sua dança e o dia encerrou-se, para os muçulmanos o dia começa ao entardecer. As luzes dos postes de ferro, imitando os velhos lampiões de outro começam acender

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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