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Num Espelho...o reflexo

 
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Levanto-me cedo. Olho-me ao espelho, mas não me reconheço!!!

Quem é esta? Sou Eu?! Não sei!!!
Acho que não, acho que sou só um reflexo de mim, porque em mim existem duas pessoas.
Existe esta que está no espelho, e a outra que está para além dele.
A do espelho está gasta, taciturna, fragelizada, e debilitada.
A outra a deste lado está alegre, feliz, hiperactiva e cheia de vivacidade.
Será? Acho que às vezes não as destingo, não sei diferenciar uma da outra, e é como se as duas fossem uma, é como
se uma encarnasse as duas.
Quería que essa que está por detrás do espelho, fosse mais espontânea mais humilde, mais humana, mas também quería que fosse mais feliz.
Ou será que misturando o que resta de uma e o que sobra da outra conseguiría uma homogeneidade e conseguiría um ser perfeito?
Não sei, ficarei sempre na expectativa. Acho melhor reguardaar o espelho e não mais olhar para além dele, e simplesmente deixar as coisas correrem o seu ritmo normal, sem pensar o impensável e sem olhar o que é proibido olhar.

Ás vezes sinto que sou no teu espelho onde os teus olhos me contemplam.
Este Inverno, não sei porquê, desejaría ter uma lareira ateada para queimar os meus devaneios, e manter-se assim a iluminar os meus dedos amedrontados a tentarem rabiscar o que ficou para lá das montanhas.

Não sei como vejo tudo calmo, e no entanto sinto medo e alegria em simultâneo, e um despenhadeiro imenso parece arrebatar-me. Sinto que sou um pássaro mas que as minhas asas são tão frágeis e tão impuras que nem devería usá-las.
Sinto as palavras como pétalas inundando-me, e meus dedos num impulso rodam escrevinhando nos labirintos das manhãs deste Inverno que parece não finalizar.
Agora os meus braços flácidos caem num gesto repentino e obscuro, sobre o perigo de um perfume que paira sobre a madeira fria e seca da secretária castanha, onde escrevo. Ás vezes sinto que sou o teu espelho onde te vejo e tu me vês em simultâneo, sem razão aparenrte, e que reflete uma luz, e eu sigo essa luminosidade que me acorda e me mantém num descanso sem dormir - num acordar sem adormecer.
Os meus dedos trémulos escrevem o teu nome que se divide em mil fragmentos, e se quebra, como este espelho que me persegue e do qual eu não consigo me apartar.

E.L.
2008/4/08


E.L.

 
Autor
Emilia Lamy
 
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