Prosas Poéticas : 

LADRÃO SENHOR DE IDADE

 
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LADRÃO SENHOR DE IDADE

Era ladrão, mas era um senhor de idade
Apontou-me a arma, anunciando o assalto.
Eu lhe dei quanto tinha, mas ele queria o que ele queria.
Mui respeitosamente eu lhe disse: -- "Meu senhor, eu não tenho nada mais."
Ele insistia. Abriu minha carteira e virou-me os bolsos.
Tempo todo, o cano da arma em minha direção.

Em dado momento, eu vi medo em seus olhos.
Afinal, eu ainda sou jovem e bem mais forte que ele.
Mas não valia a pena tentar nada, visto que tão pouco me levava. Ele me rodeava, desesperado, talvez por ver que assaltava alguém ainda mais pobre que ele.
Frustrado de todo, subiu na garupa da moto do parceiro e azulou.
E eu fiquei ali, perplexo.
Vivo -- são e salvo -- mas perplexo.


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/09/2016 22:52  Atualizado: 24/09/2016 22:52
 Re: LADRÃO SENHOR DE IDADE
*instigante!
Um olhar sobre o desespero humano foi o que senti.
Grande abraço
K*


Enviado por Tópico
MaryFioratti
Publicado: 26/09/2016 16:49  Atualizado: 26/09/2016 16:49
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Usuário desde: 09/02/2014
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 Re: LADRÃO SENHOR DE IDADE
Uma vez Ricardo, ouvi uma palestra com o Psiquiatra Paulo Gaudencio (muitosssss anos atras, quando eu era Secretaria na Johnson&Johnson no Brasil). E ele disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeca.
Que quando somos assaltados, nunca sabemos como sera nossa reacao. Se de raiva ou de pena.
Mesmo que o que assalta esteja armado. Ou desarmado. Sempre eh uma surpresa o modo que nos sentimos.
Isso me choca muito. Fui assaltada uma vez tambem em Sao Paulo. Custei para me refazer.
Tao triste isso. Na epoca eu senti medo.
Mas uma vez no metro, eu entrando apressada no meio de toda aquela gente, e vi um menininho passar por mim, deveria ter o que? uns 7 anos? Passei a mao no cabelo dele, todo sujinho, magrelinho... Subindo a escada com minha passagem, ele tentou tirar meu relogio, mas com muita forca. Na hora nem entendi como ele poderia ter toda essa forca. E lembro que me senti triste.

Abracos,

*Mary Fioratti*