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SEXOPATIAS IMAGINÁRIAS

 
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SEXOPATIAS IMAGINÁRIAS

Sem qualquer rigor científico ou pretensão intelectual, apresentamos a seguir um elenco de sexopatias imaginárias para o entretenimento do leitor e como convite para que o mesmo contribua com suas próprias descrições imaginativas de doenças relacionadas com uma sexualidade e que realmente reflitam a diversidade de gênero e de relações verificada nos dias de hoje. Sempre é bom lembrar que os manuais de Educação Sexual dos novecentos ainda traziam homossexualidade e masturbação em sua lista de perversões e comportamentos reprováveis sendo necessário, portanto, um esforço multidisciplinar e sensível para reconsiderar o que realmente é doentio e causador de sofrimento humano na vivência da sexualidade. É fundamental o leitor ter em mente que o presente texto não se leva a sério em nenhum momento e tampouco pretende estabelecer mais que um olhar curioso sobre os assuntos que levanta.

1- síndrome cu-boca-boceta
Conjunto de sintomas e alterações funcionais envolvendo a vagina o ânus e a boca em função de repetidas práticas sexuais em órgãos cuja função original e estrutura orgânica foram progressivamente alteradas. O resultado dessa síndrome é a perceptível alteração da sensibilidade dos órgãos citados e o desenvolvimento de sintomas característicos da excitação sexual não encontrados normalmente nesses órgãos, tais como, entumescimento, lubrificação e franca dilatação em contacto destes referidos órgãos com o pênis.
Estudos indicam que essa patologia seja sexualmente adquirida, visto não se manifestar em menores impúberes ou em adultos celibatários. Outras pesquisas têm procurado identificar o agente patogênico - provavelmente uma bactéria multirresistente - cuja propagação se daria pela penetração do pênis nos citados órgãos da síndrome e cuja presença contínua nesses mesmo órgãos termina por lhes alterar funcionalmente. O curioso é que no pênis o agente patogênico não cria alterações funcionais perceptíveis, haja vista que entumescimento, lubrificação e franca dilatação sejam atributos próprios da ereção. Não obstante, cientistas evolucionistas defendem ter sido justamente a simbiose deste agente patogênico com o órgão masculino que lhe dotou das características que hoje o distinguem. Os órgãos da síndrome feminina, ao contrário, apenas muito recentemente e de modo bastante seletivo adquiriram semelhanças com a ereção masculina, a ponto que os sintomas da síndrome - comuns na sexualidades masculina - fossem tidos como doentios e desagradáveis na sexualidade feminina. Muitas mulheres ao redor do mundo lutam quotidianamente contra a síndrome cu-boca-boceta evitando novos contactos com o órgão reprodutor masculino e fazendo uso contínuo de analgésicos e antibióticos para inibir comichões e lubrificações involuntárias diante do pênis. Por outro lado, o uso de preservativo parece contribuir para o acto sexual normal entre marido e mulher não se degenere numa prática interminável e exaustiva, na qual ânus, boca e vagina tenham de ser continuamente estimulados.
Em casos extremos, o descontrole na sexualidade feminina advindo da erotização dos referidos órgãos na mulher leva à adopção de práticas sexuais em grupo, tendo em vista a estimulação simultânea e contínua dos órgãos. Segundo relatos de pacientes pesquisadas, há dificuldades em se manterem monogâmicas ou mesmo um intenso sofrimento pela privação do sexo grupal. As pesquisas para neutralizar o patógeno responsável pela síndrome continuam intensas enquanto terapias psiquiátricas procuram mitigar as consequências socialmente desagregadoras que a síndrome fatalmente tende a desenvolver. A OMS, o MBL, as Igrejas cristãs e as indústrias de fármacos defendem vigorosamente a ampliação da pesquisa de tratamentos para fazer frente a essa terrível síndrome que erotiza órgãos que jamais deveriam ter função sexual, visto que para essas instituições a sexualidade feminina deveria ser restrita à reprodução humana e acontecer apenas após a formalização do contrato de matrimônio para o resto da vida.

2- xenofilia sexual
Sexopatia crônica, de âmbito psíquico-neurológico, caracterizada pela incapacidade do indivíduo em obter prazer sexual com pessoas conhecidas e, consequentemente, dentro de relacionamentos estáveis. A atração exclusiva por estranhos acaba por minar tais relacionamentos pelo contraste entre a apatia do acto sexual monogâmico com a exuberância e diversidade do acto nas relações extraconjugais que se permite.
Recentemente, pesquisas neurológicas indicaram que os centros de prazer na actividade cerebral destes indivíduos se comporta de maneira distinta ao comparados com a actividade cerebral considerada normal. O facto é que, apesar de construírem relações afetivas profundas com seus parceiros ou parceiras, tão logo a relação se estabiliza a actividade sexual com estes deixa de ser interessante, fazendo com que o paciente se veja continuamente em busca de relações sexuais fora de seu relacionamento, bem como relatando ter um prazer e satisfação que simplesmente desconhece em sua relação estável. O resultado é o desenvolvimento de uma vida dupla que lhe provoca muito sofrimento psicológico. Muitos pacientes descrevem uma atração sexual irresistível e irrefreável em face de situações que impliquem a possibilidade de sexo com estranhos. Outros, manifestam uma compulsividade pavloviana diante de prostitutas a se exibir em espaços públicos, relatando ser simplesmente impossível resistir ao apelo de uma sessão de sexo pago com uma mulher que normalmente não lhe atrairia, ao passo que a mera perspectiva de intimidade com a própria esposa - cuja beleza e sensualidade o paciente exalta e reconhece - lhe parece desestimulante tão logo surge. Há relatos de pacientes que afirmam não terem relações sexuais com os cônjuges há anos, embora se definam como plenamente amados e comprometidos com a relação em que se encontram. Descrevem o acto sexual como uma actividade fisiológica, não como acto de carinho e devoção.
O tratamento da xenofilia depende do desenvolvimento de drogas que actuem capazes de actuar na regulação da actividade cerebral. Há uma tendência em ver nesta sexopatia uma causa genética, portanto, a procura de genes específicos no DNA de pacientes diagnosticados que possam ser associados a essa actividade cerebral exuberante tem sido a frente de pesquisas mais promissora. Todavia, sendo uma doença dificilmente assumida em função da incompreensão social que acompanha esse tipo de comportamento adúltero, a tendência é que o paciente evite tanto o diagnóstico neurológico quanto o tratamento psicanalítico disponíveis e continue com sua vida dupla até se tornar insustentável.

3- transvestismo homofóbico
Doença comportamental observada em indivíduos que, embora reconheçam prazer em se transvestir, manifestam mesmo transvestidos total intolerância com a homossexualidade, tanto do seu gênero original quanto do gênero em que se transveste. É uma postura de difícil compreensão que envolve a sensibilidade para o facto de que a identidade de gênero não acompanha necessariamente a sexualidade. De facto, ao transvestir-se o paciente vê-se como pertencente ao outro gênero, não como homossexual. Muitos pacientes relatam que sua identidade de gênero acompanha o modo como se apresentam, logo, quando se veste como homem, sente-se macho; quando se veste como mulher, sente-se fêmea… O importante, para o paciente, é que sentindo-se deste ou daquele gênero o seu desejo também acompanha a identidade, ou seja, vestido como homem, deseja mulheres; vestida como mulher, deseja homens. Obviamente, a maioria dos pacientes não apresenta tamanha versatilidade no quotidiano, preferindo transvestir-se de modo esporádico e longe dos ambientes em que vivem. O facto é que repudiam veemente o homossexualismo, muito pelo contrário. Em alguns casos, quando o transvestismo evolui para o transsexualismo, a sexualidade assumida pelo paciente após o tratamento para mudança de gênero é radicalmente heterossexual. Tais pacientes relatam que se sentiam como "nascidos no gênero errado" e que o tratamento "consertou" a realidade do corpo com a identidade de gênero. Todavia, não consideram que sentem desejo por alguém do mesmo sexo biológico, haja vista não se identificarem com seu sexo biológico e, consequentemente, não se identificam como homossexuais.
O problema é quando essa ânsia em "consertar" o facto biológico extrapola para a visão de mundo que adquirem. Afinal, se eles "consertaram" o que estava "errado", todos também poderiam e mesmo deveriam fazê-lo. Logo, entendem a homossexualidade como comodismo e, em alguns casos, como promiscuidade. O homossexual, a seus olhos, seria uma pessoa que não encara sua identidade de gênero com seriedade como ele próprio fizera, enveredando para o que considera imoralidade pervertida. Essa percepção conservadora da sexualidade desemboca n'um comportamento homofóbico ainda mais radical ao propor que a transexualidade seja, em última análise, uma espécie de "cura gay". É uma terrível homofobia - que ignora ou não compreende formas de ambiguidade de gênero como a androgenia, a bissexualidade, o poliamor ou mesmo a identidade sem-gênero - por evocar ardentemente um desejo de normalidade ou adequação do ser humano à dicotomia masculino-feminino, bem como às formas consideradas "decentes" de sexualidade.
Embora o diagnóstico seja evidente - como qualquer outra homofobia - o tratamento é ainda mais complexo tendo em vista as convicções pessoais que motivaram o paciente em seu próprio processo de transexualização. É necessária muita cautela na abordagem de tais temas com o paciente e uma progressiva reflexão sobre a própria diversidade do ser humano e as diferentes formas de sexualidade vistas sem qualquer juízo de valor moral. Boa sorte…

4- carência nutricional espérmica
A pesquisa da carência nutricional de substâncias consideradas não-alimentares ainda engatinha no meio científico. Todavia, após o acompanhamento de pacientes que se diziam "viciados" em esperma ou que diziam preferir o sexo oral a qualquer outra forma de sexo, investigações mais profundas sobre a composição vitamínica do esperma e seu poder nutricional conduziram a verdadeiras descobertas que extrapolam os estudos sobre sexualidade humana. De facto, pessoas com certas carências vitamínicas encontram no esperma um verdadeiro coquetel de substâncias que mesmo em quantidades ínfimas são capazes de equilibrar seu balanço químico-hormonal. Por outro lado, estudos confirmaram que o acto de sugar e lamber próprio do sexo oral activa a produção de hormônios semelhantes aos que induzem bebês a sugar o seio materno durante a lactância. Isto explica porque o prazer maior está em chupar que em ser chupado, sejam os seios; seja o pênis, haja vista que a felação em si proporciona grande liberação de endorfinas. Portanto, em caso de prolongada ausência de sexo oral, à carência vitamínica soma-se abstinência química por causa da dependência que o organismo desenvolve com as endorfinas copiosamente liberadas durante a felação.
As pessoas acometidas de tal carência relatam uma quadro pavloviano diante de mulheres de busto avantajado ou de homens seminus. Os seios ou pênis em evidência transportam a imaginação imediatamente para a felação, n'um mecanismo de dependência a um só tempo angustiante e doloroso. A felação se lhes torna uma monomania na qual os seios ou o pênis do parceiro se tornam uma parte autônoma do corpo deste. Dir-se-ia que o resto do corpo do parceiro lhe é indiferente, enquanto que a felação se caracteriza por uma sugação frenética na ânsia de aleitamento e, por conseguinte, satisfação de sua carência nutricional.
É uma forma de dependência muito dolorosa visto que, socialmente, feladores compulsivos pouco se fixam no parceiro enquanto pessoa, não desenvolvendo qualquer relação afectiva. Suas relações são ausentes de carícias e de penetração, acontecendo não raro com estranhos em espaços colectivos, como banheiros públicos e vestiários. Por se tratar d'uma forma de alimentação, a felação compulsiva demanda sucessivas ejaculações para a saciedade do paciente, o que faz com que desenvolva um comportamento sexual promíscuo e de risco. A ausência dos nutrientes presentes no esperma faz com que o felador se apresente com uma irritabilidade e fraqueza incompatíveis com a dieta normal das demais pessoas. Recentes pesquisas têm procurado identificar o nutriente presente no esperma bem como a quantidade mínima deste para a saciedade dos pacientes na esperança de sintetizá-lo e incluí-lo em polivitamínicos, mas todas as tentativas de substituir a felação por alguma forma mais comum de alimentação ou medicação se mostraram insípidas, tendo em vista que o movimento de sugar não pôde ser reproduzido com o consumo de nutrientes sintetizados em laboratório ou extraídos diretamente do esperma humano desidratado. A solução mais satisfatória até o momento foi o preparo do esperma desidratado como "shake diet" servido n'uma espécie de mamadeira em formato fálico. Todavia, mesmo seguindo o tratamento recomendado para o suprimento nutricional de vitaminas, o felador compulsivo insiste em manter a prática tal como antes…

5- síndrome da assexualidade socialmente adquirida
A assexualidade é um comportamento sexual que se caracteriza pela falta de atração ou interesse sexual do indivíduo por parceiros sexuais de qualquer gênero. Sem embargo, estudos em escala mundial têm comprovado se tratar sobretudo de uma síndrome, isto é, um complexo de sintomas de doenças associadas que culminam com a pouca ou nenhuma afinidade com o sexo. É preciso salientar que não se trata de pessoas celibatárias ou misantropos. Ao contrário, muitos dos pacientes diagnosticados com esta síndrome se encontram em relacionamentos estáveis há muitos anos com parceiros que relatam grande sofrimento pelo desinteresse do parceiro e que confundem a assexualidade com falta de amor ou afectividade do paciente. Todavia, após um contacto aprofundado com o histórico médico e de criteriosa anamnese, o profissional de saúde distingue se tratar de um misto de perturbações fisiológicas - desde vaginismo e à disfunção hormonal com ausência de libido - somado a preconceitos familiares ou educacionais bem falácias moralizadoras que desenvolveram nos pacientes a ideia da prática sexual como algo sujo ou mesmo degradante. Não se trata, portanto, de falta de interesse afectivo pelo parceiro, ao contrário, muitos pacientes relatam estar apaixonados e têm o acto sexual como extremo sacrifício (por doloroso, desinteressante ou humilhante) para demonstrar seu amor a despeito do desprazer próprio. Há quem defenda para além da fisiologia do sexo que tal síndrome seja fruto d'um condicionamento social adquirido por certos indivíduos e não por outros sujeitos aos mesmos paradigmas culturais.
A religiosidade, com seus dogmas universais e idealizados, se caracteriza por pretender ter soluções a priori para todas as situações. No caso da sexualidade, muitos denunciam o carácter castrador que as religiões, via de regra, desenvolveram ao longo dos séculos como alternativa aos conflitos humanos próprios da passionalidade. Forçoso é admitir que com o que se conhecia sobre reprodução humana até a Revolução Industrial, a Ciência pouco ou nada contribuía n'esse debate acerca do apropriado e do inapropriado em termos de sexualidade. Contudo, a perpetuação de tais paradigmas em detrimento das necessidades e desejos humanos tornou doentia a relação de fiéis e/ou religiosos com a sexualidade. Isso porque sexualidade sadia pode ser definida como uso do corpo pubescente ou adulto para a prática sexual com consentimento e liberdade de todos os envolvidos. Todavia, religiosos se veem forçados a negar ou camuflar a própria sexualidade no afã de acalmarem suas consciências diante dos grandes ideais que advogam. O resultado, como se tem percebido, é a progressiva anulação do aspecto sexual nas vidas de religiosos e religiosas, seja por meio do celibato; seja por meio relações monogâmicas estáveis. Relatos de pacientes acometidos por tal síndrome explicitam a quase completa falta de desejo sexual em frases como: "sexo me é indiferente…" ou "posso passar anos sem relações…". Mas pior do que o o que é dito, é o que não é dito, visto que, por tabu, pensar ou falar sobre a sexualidade é algo desaconselhável ou mesmo proibido como pecado de concupiscência.
A síndrome de assexualidade é uma doença perigosa não somente por dar azo a práticas sexuais doentias como a pedofilia ou o casamento cristão, mas ainda por prejudicar o equilíbrio hormonal do organismo e, com isso, potencializar a dependência química, notadamente por substâncias capazes de substituir os mecanismos naturais de prazer produzidos pelo sexo quotidiano. Ou seja, sem as endorfinas do orgasmo, tais pacientes passaram a demandar antidepressivos para lhes propiciar artificialmente a sensação de bem-estar, bem como analgésicos para diminuir ao máximo a sensibilidade do organismo não somente à dor, mas antes ao toque. Por outro lado, também os entorpecentes - químicos ou culturais - têm papel importante no mecanismo fisiológico da síndrome, haja vista o desejo de fuga da consciência e ou da corporalidade que tais pacientes aparentam desejar no combate à sexualidade. O êxtase, por exemplo, pode ser usado para descrever tanto o estado de espiritualização por excelência quanto a droga sintética que pretende induzir o usuário a uma "fuga de si"… De facto, sem prazer, o próprio corpo não parece ser um bom lugar para se estar.

6- sinestesia multiorgásmica
Há quem descreva esta sexopatia como uma bênção; outros, como uma maldição. O facto é algumas pessoas desenvolvem uma percepção sinestésica do sexo, fazendo com que sons, cores, odores, sabores, humidades, texturas, pressões e humores consigam se complementar n'uma espécie de concerto cujo resultado são orgasmos múltiplos e intensos. Bênção, porque os pacientes que desenvolvem este quadro se caracterizam por uma sexualidade diversa e exuberante, onde "quanto mais estímulos, melhor" e mesmo atributos que isolados podem ser considerados inocentes, como a "visão parcial d'uma nuca d'onde exala almíscar…" pode desencadear um mecanismo de atração sexual poderoso que se alimenta continuamente de sensações. Maldição, pela falta de autocontrole que tamanha embriaguez dos sentidos atiça, prejudicando o julgamento do paciente em face das situações do dia a dia. Pesquisas fisiológicas e genéticas têm identificado estruturas diferenciadas em portadores de sinestesia multiorgásmica e sugerem que a percepção do prazer se torna muito mais aguçada com o tempo que em pessoas comuns. Outro aspecto importante descoberto nessas pesquisas é a ideia de "memória prazenteira" que funcionaria de modo inverso aos traumas, os seja, eventos positivos seriam capazes de deixar marcas físicas e psíquicas n'essas pessoas de tal modo que a repetição por terceiros, ainda que involuntária, de situações afins seriam capazes de levar o sinestésico a novos episódios de orgasmos múltiplos. Seria praticamente impossível ao sinestésico dominar seus impulsos diante de apelos sexuais similares àqueles que correspondem à sua memoria de prazer.
Se a profunda experiência de prazer que sinestésicos relatam faz com que se assemelhem a loucos mansos às voltas com abstracções, por outro lado as alterações neurossensoriais fisiológicas são bem concretas, sendo perceptíveis em exame clínico: sinestésicos apresentam em geral as extremidades nervosas com inchaço e vermelhidão. Nos olhos, as pupilas se dilatam e faíscam diante do objecto de desejo a ponto de lhe perceber as mínimas nuanças de cor e textura na pele e lhe associar às feromonas que espalha pelo ambiente. São, portanto, indivíduos muito exigentes quanto à variedade e à estética do acto sexual, valorizando o bom e o belo de modo sistêmico, integrado e complementar. Sem esse entrelaçamento de sensibilidades, o sinestésico se decepciona com práticas sexuais apressadas e descuidadas, elevando o sexo ao estatuto de arte total, isto é, quando mais que apreciada, a beleza envolve o corpo e o transforma.

7- doença da libido inibida
A inibição de libido é considerada patológica quando o paciente se mostra absolutamente incapaz de reagir a qualquer forma de estímulo sexual. Sem embargo, muitos inibidos apresentam desinteresse típico pelo sexo em função do desequilíbrio hormonal ou trauma psicológico. O uso contínuo de anabolizantes e entorpecentes também é considerado no diagnóstico desta sexopatia, mas não é determinante: Hábitos sedentários, tabagismos, alcoolismo e, sobretudo, quadros depressivos incluem a inibição da libido como sintoma. A sexopatia, contudo, é definida em si quando se apresenta não como sintoma de outras doenças, mas sim como a doença mesma. Ou seja, o inibido crônico não tem em seu diagnóstico nenhuma das doenças listadas e mesmo assim apresenta inibição contínua da libido e, por conseguinte, ausência de interesse sexual. Uma vez descartadas todas as doenças listadas acima, a doença da libido inibida resta como diagnóstico seguro, embora de tratamento ainda mais complexo.
O inibido é alguém que por princípio e/ou por hábito desenvolveu indiferença à maioria de atrativos sexuais e demonstrando desinteresse pela sexualidade em geral. É uma pessoa em perfeita saúde física e psíquica, geralmente monogâmica ou celibatária, que tem uma vida absolutamente normal. O processo de inibição de libido é, portanto, fruto de treinamento constante ao longo de anos, transformando situações e ações prazerosas em insípidas, até que tal prática termine por lhe afastar os impulsos e desejos sexuais, mesmo quando demandada insistentemente pelo parceiro. Causa espécie o facto de que, mesmo havendo ligação afectiva autêntica, o inibido não consegue responder sexualmente aos impulsos do ambiente: Calor, frio, nudez, perfumes, pressão, textura, umidade… Nada lhe causa qualquer sensação! Pesquisas comportamentais, contudo, estabeleceram uma relação interessante entre inibição da libido e o combate ao autoerotismo bem como ao homossexualismo. De facto, ficou configurado que quadros de inibição de libido eram muito mais raros entre pessoas que se masturbam e ainda mais raros entre homossexuais que entre heterossexuais. O hábito da masturbação permite um interesse continuado e renovado do indivíduo pela sexualidade, o que parece influenciar a desinibição da libido. Entrementes, o práticas homossexuais ampliam o universo erótico das pessoas e concorrem para buscar uma diversidade de impulsos e atractivos que lhes garante a renovação do interesse sexual.
Muitos estudiosos concordam que a sexualidade é um comportamento humano pautado pela novidade de sensações. Isso faz com que as pessoas necessitem continuamente variar suas práticas sexuais sob pena de perderem o interesse em repetir actos e gestos cujas sensações são há muito conhecidas, por mais prazerosas que já tenham sido. Verifica-se, por exemplo, que o casal de lésbicas que a princípio se excitava apenas com a felação mútua passe a demandar com o passar do tempo o uso de próteses penianas para ter relações com penetração, tendo em vista dar mais variedade às sensações durante o acto sexual. Essa exploração do corpo em busca de novas sensações e prazeres é, talvez, a grande responsável pelo popularização de práticas sexuais antes vistas como degradantes, como a anilíngua e a penetração anal. O facto é que essa busca pelo desconhecido mantém o sexo como algo interessante e novo, de modo que o tratamento da doença da libido inibida passe, forçosamente, pelo permitir-se formas de contacto sexual ainda não experienciadas.

8- hipersensibilidade disfuncional aguda
Hipersensíveis são sexopatas que desenvolvem exagerada sensibilidade a certos estímulos, chegando ao orgasmo com carícias um tanto excêntricas como beijos nos pés, dedilhar do lóbulo da orelha ou mesmo uma súbita lufada de ar frio nos genitais… É uma doença terrível, pois expõe o sexopata ao vexame de ter orgasmos intensos ainda que em situações nada eróticas ou de se esgotar sexualmente ainda durante as preliminares do acto sexual. O hipersensível é uma pessoa tensa e exausta que tenta constantemente desarmar a bomba relógio do próprio desejo. Certas vezes o impulso que lhe causa a descarga de prazer pode vir por completo acidente durante acções quotidianas… Por outro lado, o acto sexual propriamente dito é algo muito insatisfatório para esse sexopata, haja vista que, para agradar o parceiro, mantenha-se na relação mesmo após ter se esgotado sua atracção sexual. Participa do sexo sem qualquer prazer, posto já ter atingido o orgasmo (e escondido ao máximo isso) bem no início da relação. No caso dos homens, evidentemente, a hipersensibilidade causa ejaculação precoce que torna o problema ainda mais explícito além de qualquer tentativa de se manter a relação sexual, pouco convincente… Para as mulheres, entretanto, a hipersensibilidade faz do acto sexual um calvário de 30 segundos de intenso prazer e seis minutos seguintes de exercícios aeróbicos com a mente evadindo para a trama da novela ou da série televisiva. Ao fim, para massagear o ego do parceiro, geme despudoradamente e vira os olhos n'um teatro digno de actrizes pornográficas. Seria perfeito não fosse a rápida escapulida da cama para se lavar… O mais triste d'essa sexopatia é a ideia de que é tolerável a repetida frustração de encontros humanos assim.
A evolução do quadro de hipersensibilidade leva a um comportamento sexual semelhante à assexualidade, visto que a sexualidade torna-se efêmera e falsa. O hipersensível passa a evitar o acto sexual a qualquer pretexto, passando de semanas a meses sem qualquer intimidade a dois. Evita até as minimas carícias, beijos inclusive, sob pretexto de que, se insistirem, fatalmente irão iniciar outra relação sexual na qual será obrigada a simular prazer após ter tido o próprio orgasmo. Paradoxalmente, os hipersensíveis passam por pessoas seca, frias e avessas ao contacto físico, dada a necessidade de autocontrole a que são forçados a disciplinar o próprio corpo no afã de evitarem relações com pessoas com as quais não compartilham interesses ou mesmo afeição. Quando monogâmicas, tendem as pessoas hipersensíveis sexualmente tendem a esconder suas peculiares capacidades orgásmicas buscando restringir a esfera sexual da existência ao acidental. São os hipersensíveis, d'estarte, mais sujeitos a escapadas das suas relações estáveis, procurando no sexo casual a exploração plena e egoísta de sua hipersensibilidade ao se permitir formas e posições sexuais que normalemente não pratica com seu parceiro monogâmico. No sexo casual, a própria frustração em não se agradar o parceiro/a parceira do seu relacionamento estável desaparece n'essas escapadas, visto que a ausência de envolvimento afectivo os liberta para gozarem de sua hipersensibilidade sem culpa, ou seja, simplesmente chegam ao orgasmo e se abandonam nos braços do outro. Já no caso dos homens, após uma ejaculação precoce despudorada, passam a satisfazer a parceira com vibradores ou oralmente, sem qualquer maiores questões pela sua rapidez em alcançar o orgasmo.

9- mal de charlie sheen
Essa é a doença do canalha consciente de seu canalhismo. Exposta a exaustão pelo actor Charlie Sheen - tanto em suas personagens ficcionais quanto em sua pública vida pessoal - o canalha consciente é um tipo que sabe que prejudica os outros em sua busca ilimitada de prazer, mas jamais se intimida por isso. É verdade que os canalhas, tal como outros sexopatas, refugiam sua afectividade n'um território distante de seu quotidiano de conquistas efêmeras e sexo casual, manifestando amor exclusivamente por pessoas sem qualquer vínculo sexual, via de regra seus filhos ou seus pais. Essa RESERVA AFECTIVA (em maiúsculas mesmo, visto serem um conceito importante na compreensão da canalhice) liberta os sexopatas à Charlie Sheen para viverem de maneira irresponsável com os sentimentos alheios, considerando que preservam os sentimentos d'aqueles que realmente são importantes para eles. Ao delimitar tal reserva de sentimentos para preservação de sua afectividade, o comportamento sexual dos canalhas torna-se cínico e pragmático. Quaisquer dispositivos morais elencados para as relações humanas convencionais - fidelidade, cuidado, atenção, reciprocidade etc… - são substituídos pela mais reles manipulação, n'um jogo onde a única coisa que realmente importa é o interesse sexual do canalha. Observa-se que esse tipo de sexopatia raramente configura relações de abuso ou violação, embora sejam muito dolorosas àqueles que comumente relacionam afectividade à sexualidade, visto que o canalha sente prazer inclusive com a sedução do outro e vibra com o facto de persuadir sua conquista a se entregar sexualmente a alguém que não pretende ser fiel ou construir uma relação estável
Ao contrário de outros sexopatas, o canalha não se apresenta como um mero predador que desumaniza suas vítimas. Não, o canalha prefere continuar seu jogo de manipulação indefinidamente, mantendo as portas abertas ao máximo de pessoas possível. Sempre tenta persuadir o outro que a relação impossível no momento realizar-se-á um dia e que as circunstâncias são implacáveis com seus sucessivos desencontros a minar a fantasia no quotidiano etc… O canalha - ou a canalha, visto não ser uma sexopatia exclusivamente masculina - sabe que será, vez ou outra, surpreendido em suas mentiras e que pessoas vão se ferir aqui e ali, mas ele simplesmente não se importa. Evitando relacionamento no trabalho e nos negócios, bem como cultivando sua Reserva Afectiva o mais longe possível de suas aventuras sexuais, nada em seu estilo de vida é afectado pela sexopatia da qual nunca se lamenta.

10- catalepsia sexual
Embora rara e pouco estudada, a catalepsia sexual envolve uma espécie de submissão extrema do sexopata ao seu parceiro. Algo que vai muito além de jogos sexuais de dominação, mas que podem ser explicitados pela sua prática. N'essa sexopatia o doente se comporta como um boneco, assumindo sem qualquer resistência formas e posições dadas por outrem. Muitos advogam que se trata de uma prática advinda de traumas pré-púberes, nos quais a catalepsia se desenvolve como reacção interior ao abuso sexual sofrido, ou seja, a falta de domínio da criança sobre o próprio corpo ou sobre a situação em que está inserido faz com que a sexualidade seja percebida exclusivamente como forma de agradar o outro, seja este um abusador ou não. Os sentimentos conflitantes típicos do abuso pré-púbere dentro do ambiente familiar torna a catalepsia uma resposta ao mesmo tempo capaz de isentar a vítima do abuso de qualquer responsabilidade na participação do mesmo - uma vez que ela "não faz nada" - ao mesmo tempo que a impede de responder mal ao abusador quando este é uma pessoa que no imaginário da criança é objeto de afeição extrema. A confusão entre amor e sexualidade em pré-púberes torna a resposta corporal aos estímulos sexuais, mesmo enquanto abusos, muito complexa, levando ao estado de catalepsia durante o acto sexual. Após a puberdade, o indivíduo termina por se refugiar inconsciente na catalepsia, identificando estas relações sexuais fruto de relacionamento afectivos como novos abusos aos quais não querem reagir (porque amam) e não podem reagir (porque se exitam com culpa). O resultado é que o cataléptico é erroneamente diagnosticado como frígido, haja vista se comportar de maneira absolutamente inusitada durante o acto sexual, quando na verdade se trata d'uma pessoa que desenvolveu um modo peculiar para se conectar com parceiros, n'um complexo onde distanciamento e submissão são na verdade entrega e mesmo amor. O cataléptico, por questões óbvias, é passivo, distinguindo-se das demais formas de catalepsia por assumirem a condição especificamente quando submetidos as estímulos sexuais, permitindo-se mover sem resistência conforme o gosto ou desejo de seus parceiros. Sem a compreensão destes, a catalepsia sexual se torna causa de muito sofrimento para o sexopata, excluindo-o de relacionamentos ao longo da vida.

11- priapismo prostático
Condição extremamente comum entre os homens, o priapismo prostático é uma sexopatia mais verificada em homens de meia idade, cujo exame clínico de toque da próstata lhes passa a percepção do tubo retal como zona erógena n'um momento em que a potência sexual de suas ereções passa por visível decadência. Tal descoberta da relação entre estimulação prostática e ereção leva o sexopata a um grau profundo de autoexploração anal, mediante o uso de plugues e próteses penianas cada vez maiores para autopenetração, mormente durante a masturbação. A sexopatia se torna evidente quando o nível das ereções se torna tão absoluto que, mesmo quando o orgasmo é alcançado, a ereção continua plena enquanto se mantiver houver penetração anal. Passa a haver uma relação de dependência entre ereção e estimulação prostática, de modo que qualquer outro estímulo sexual se torna incipiente, tanto para a manutenção da ereção quanto para o orgasmo.
Vale comentar que não existe necessariamente relação entre a prática da estimulação prostática e o homossexualismo masculino, mas antes com a decadência da potência sexual em homens de meia idade. Mesmo sexopatas sem histórico de relações homoeróticas ou que não manifestem atração sexual por outros homens apresentam episódios de priapismo durante estímulo prostático. Muitos relatam, inclusive, dificuldades em manter a próprio ereção durante a penetração sem o estímulo prostático em relações puramente heterossexuais. Tal sexopatia se revela muito cômoda quando a parceira não se sente insegura da preferência sexual do parceiro e do consequente risco de "ser trocada por um homem". Em todo caso, muitos homens passam de facto a transar com homens somente após chegarem à meia-idade, muito embora não se identifiquem como homossexuais… São indivíduos que relatam não sentir atração afectiva ou mesmo sexual por homens, mas se permitem relações esporádicas tendo em vista o estímulo prostático e o incremento que reconhecem tanto na ereção quanto no orgasmo. N'esses casos, entretanto, não se verifica priapismo, uma vez que cessado o estimulo prostático com o orgasmo do parceiro, cessa também a ereção.

12- vaginismo crônico
O vaginismo é uma sexopatia amplamente estudada e comum. A ausência de prazer feminino na penetração da vagina e a recorrência de episódios de dor durante o acto sexual faz com que o vaginismo traga enorme limitação à vida sexual de mulheres em todo o mundo. Não obstante, quando o vaginismo se torna crônico ao longo de anos de vida sexual limitada e desagradável - provavelmente pela necessidade de a mulher se sentir "normal", ignorando sua sexopatia - o vaginismo evolui para um estranho desejo de provar a cada relação sexual, para si mesma e para o parceiro afectivo, a inutilidade de tudo aquilo. É uma ideia de que a anormalidade quotidiana se torna a normalidade por excelência… A vaginista crônica desconfia sistematicamente de qualquer relato de felicidade sexual ou sexualidade exuberante. É absolutamente incapaz de compreender as razões que motivam alguém a tomar uma decisão realmente importante em relação à sua vida (mudar de carreira, de parceiro, de tipo de relação etc…) por causa da sexualidade. Tendem a desenvolver visões preconceituosas de mundo, enxergando nos comportamentos sexuais ao seu redor como "fraqueza moral" ou simples "patifaria". É uma sexopatia grave à medida que converte pessoas profundamente imbuídas d'um sentido de "normalidade" em solitárias e amargas questionadoras do quotidiano das pessoas que não se encaixam em seus padrões. Dificilmente as vaginistas crônicas entendem que têm um problema de saúde, mas antes preferem entender que os outros, inclusive parceiros, têm problemas de incontinência com sua sexualidade absurdamente exuberante. E, quando não há problema, não há tratamento…

13- ultramixoscopia do quotidiano
Trata-se d'uma sexopatia radical que consiste em sexualizar cada vez mais o quotidiano - enxergando estímulos sexuais em cenas e situações absolutamente comuns - mediante uma imaginação fantasiosa absoluta. O sexopata ultramixoscópico vai além do voyerismo tradicional uma vez que este não prescinda de situações francamente sexuais (visão de nudez, roupas provocantes, casais praticando sexo etc…) para obter estímulos sexuais. Ou seja, é um sexopata capaz de extrair de sua imaginação todo um enredo fantasioso no qual a sexualidade transparece mesmo quando inexistente. Extremamente detalhista, a vida d'esse sexopata consiste em em visualizar sexualidades perversas imaginárias por sob as aparências em todas as pessoas de sua convivência. É um profundo curioso acerca do prazer alheio, estimulando-se à exaustão com especulações safadas dos hábitos sexuais de seus conhecidos.
O ultramixoscópico enxerga sexo em tudo e todos, independente d'haver sexualidade implícita nas situações que presencia. Ele extrapola sensações e intuições em fantasias doentias, sempre tendendo a perversidades extraordinárias a que jamais haveriam-de supor seus pares… D'estarte, é incapaz de reconhecer as pessoas senão como personagens em suas epopeias eróticas idealizadas, onde o prazer é absoluto e a existência é quase que um exclusivo acúmulo de experiências sexuais variadas e extremas, mas isentas de passionalidades trágicas. Ao transformar pessoas comuns em heróis e heroínas sexuais, sexopata vive constante alheamento d'uma realidade que presencia senão como ponto de partida para suas imaginações perversas. A triste consequência d'este estado de coisas é sua incapacidade absoluta de se conectar efetivamente com qualquer pessoa real, visto que se torna incapaz de enxergar o parceiro como ele de facto é em suas inseguranças e necessidades. Para ele, o outro deseja apenas ser o mais livre e disponível possível para viver as fantasias que projecta sobre o mesmo e, por mais que este se coloque diante do sexopata em sua humanidade sensível, o ultramixoscópico não é capaz de ver alguém que não deseja participar de seu jogo de perversidades sem fim, mas antes uma afectividade genuína e respectiva sexualidade enquanto carinho reservado àqueles que se ama.
Enfim, conviver com tal sexopata pode ser extremamente doloroso e frustrante, uma vez que ele tenta continuamente transformar as pessoas em suas fantasias e se cansa d'elas quando as percebe incapazes de se comportar como ele imaginou que se comportariam.

14- autoerotismo absoluto
Eis uma sexopatia absolutamente prosaica… O autoerótico absoluto é um sexopata que percebe a sexualidade apenas como autossatisfação, prescindido, portanto, de parceiros. É um estágio de prazer solitário em que deixa de desejar a presença do outro no acto sexual, exactamente por considerá-lo incapaz de incorporar as práticas e estímulos que percebe necessários à sua plenitude sexual. Tais autoeróticos podem até manter relações afectivas e ter intimidade sexual com um parceiro, mas jamais vêm tais momentos senão como concessões instrumentais feitas para preservar seu verdadeiro estilo de vida. A realização de sua sexualidade é sempre solitária, livre de maiores julgamentos de terceiros.
Mutos identificam o autoerotismo absoluto como uma forma de dependência química de matriz sexual onde, mais que um hábito, a masturbação se torna voluntariamente o centro da vida sexual do indivíduo, motivando seu progressivo desinteresse sobre a companhia de parceiros. Tal frente de estudos incorpora ainda a dependência da pornografia na dinâmica autoerótica bem como o vínculo entre dificuldade de relacionamentos em geral com a dificuldade de intimidade sexual. É uma sexopatia extremamente disseminada e estimulada pela presença cada vez maior da pornografia no quotidiano das pessoas, sempre aventada como processo de superação dos problemas inerentes aos relacionamentos estáveis e à solidão. Enfim, muitos estudiosos o classificam como um mal menor, enquanto outros concordam ser uma sexopatia potencialmente limitante e frustrante quando confrontada com outras necessidades sociais e afectivas do ser humano.

15- deficit de atenção erótica crônica
Outra sexopatia muito comum nos dias de hoje, diz respeito à falta de interesse geral em relação à sexualidade por longos períodos de tempo. É considerada quase um contrassenso em virtude da gama de estímulos sexuais de toda ordem que bombardeiam a sensibilidade do homem e da mulher contemporâneos. Todavia, verifica-se ao mesmo tempo uma frequência cada vez menor de relações sexuais entre parceiros monogâmicos e tanto quanto entre celibatários. Mais do que as exigências cada vez mais invasivas da carreira e do trabalho sobre o tempo livre das pessoas, esse déficit crônico se manifesta como uma espécie de "desapontamento" com a sexualidade, sobretudo quando comparada com a exuberância e diversidade sexual apresentados pela pornografia on-line. Não obstante, mesmo quando o deficitário sexual não apresenta hábitos pornográficos, seu desinteresse pelo sexo se torna continuado, abalando seus relacionamentos. A pessoa que convive com um deficitário tende a se sentir menos importante em sua vida, compreendendo seu desinteresse como mudança de seu objeto de afeição ou de desejo sexual, quando, na verdade, o desinteresse é pelo sexo em si, não pelo parceiro…
É uma sexopatia que envolve certo sofrimento, tanto da parte do desinteressado quanto da parte do parceiro, mas, infelizmente, parece ser uma tendência nas relações humanas. Há sexólogos que defendem ser o déficit de atenção erótica uma consequência clássica da dinâmica da atracção sexual humana, ou seja, que a sexualidade é um fenômeno intrinsecamente relacionado à ideia de novidade e diversidade enquanto estímulos necessários para a manutenção do interesse sexual do indivíduo, o que, evidentemente, se choca com a necessidade afectiva e social de se construir relações estáveis e felizes. Parece haver uma relação ainda pouco compreendida entre a frequência da prática sexual e a manutenção de relações monogâmicas, mas percebe-se já o esboçar de teorias que explicitam a dificuldade de se manter o interesse sexual pelo mesmo parceiro ao longo dos anos. Assumir o deficit de atenção erótico como fenômeno comum das longas relações estáveis e monogâmicas parece ser um consenso entre terapeutas e estudiosos do comportamento, divergindo do entendimento sexológico que verifica algo de doentio na renúncia ao prazer sexual mesmo quando motivado por uma busca de felicidade pautada em padrões sociais e de relacionamentos. Enfim, é um poderoso embate entre disciplinas no qual o bom senso orienta mútua compreensão.

……………..

Concluímos nosso relato de doenças sexuais imaginárias com o desejo de ter divertido o leitor e, ao mesmo tempo, dar-lhe o que pensar. Repetimos nosso desejo de não sermos levados a sério bem como o convite à contribuição do leitor para a construção d'um verdeiro COMPÊNDIO DE SEXOPATIAS IMAGINÁRIAS. Afinal, pensar em problemas sexuais pode ser sempre uma ferramenta de autocompreensão.
É isto.

Belo Horizonte - 02 05 2018


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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