Crónicas : 

Ah! O CELULAR... e os livros

 
Ah! O CELULAR... e os livros
(Ivone Carvalho)

E tenho que dizer que o celular, apesar de tudo, às vezes atrasa a minha vida!

Tá certo que hoje quase tudo (?) pode ser resolvido através dele.
Cartas, por exemplo, havia anos que eu não escrevia uma e só quebrei essa rotina porque queria mostrar para a minha netinha, que hoje mora nos Estados Unidos, o quanto eu tinha ficado feliz com a cartinha que ela me enviou.

Mas é tão gostoso falar com ela através de chamadas de vídeo, podendo vê-la, ver minha filha, minha outra netinha ainda tão bebê, o local onde estão, as coisas que elas curtem, enfim, ver os sorrisos, ouvir a voz e as gargalhadas delas, trocar ideias e atualizar os assuntos de viva voz, enfim, minimizar a saudade que é tão imensa por estarem tão longe e ficarmos tanto tempo sem nos ver. E, claro, tudo graças ao celular!

Também é através dele que a gente consegue estar em contato mais frequente com as pessoas que queremos bem e que nem sempre podem estar próximas da gente, sejam amigos ou familiares.

A troca de mensagens, sem dúvida, facilita muito as notícias ou recados pois não é necessário que as pessoas estejam disponíveis no mesmo horário que a gente e com isso pode-se conversar e também diminuir a saudade ou marcar encontros, reuniões e happy hours sem comprometer horários de trabalho, descanso ou afazeres inadiáveis.

Profissionalmente também é um meio eficaz para solução de alguns problemas ou detalhes mais urgentes, às vezes até com envio de documentos, mensagens essas que podem aguardar o momento oportuno para serem respondidas. Na verdade, já fechei até contratos pelo WhatsApp com clientes de outras cidades ou outros Estados.

Sem contar que mesmo durante viagens, ainda que para outros países, podemos dar continuidade normal ao nosso trabalho e aos contatos com nossos clientes, lembrando que isso tudo é feito a um custo mínimo.

Através do celular estamos sempre conectados com o mundo, com as notícias, com os e-mails, com os grupos, com a nossa atualizadíssima enciclopédia que hoje se chama Google.

Recebemos e damos notícias, nos atualizamos, nos prevenimos, rimos, choramos, trabalhamos, jogamos, tomamos providências, compramos, vendemos, cotamos, checamos, enfim, com um único aparelho podemos passar 24 horas do dia sem ficarmos ausentes do mundo em que vivemos, dos nossos compromissos e das pessoas com que precisamos ou queremos nos manter conectados.

Nele carregamos documentos, comprovantes, informações, enfim, uma infinidade de coisas que outrora não caberiam na maior das bolsas.

Entretanto, muitas vezes preciso me policiar! Já percebi que graças a ele reduzi sensivelmente a leitura de livros que sempre foi o meu maior e melhor passatempo.

Livros me fazem viajar no tempo e no espaço e constatei que há tempo não mergulho na leitura como fazia.

Fica até meio estranho falar que livros são passatempo, não? Ler é tudo de melhor que podemos fazer, mesmo quando temos que forçar a sobra de tempo para a leitura.

Eles nos ajudam a crescer, a descobrir, a conhecer, a imaginar, a criar, a voltar no tempo, a visualizar um futuro, a participar do presente, a acreditar no que não vemos, a aflorar sentimentos.

Livros nos permitem sonhar, rir, chorar, nos emocionar, às vezes até a darmos palpites nos acontecimentos seguintes ao trecho que estamos lendo, nos colocando literalmente dentro do texto, participando da história como se nós mesmos fossemos os personagens.

E como são maravilhosas essas viagens! Mesmo quando não nos identificamos muito com o texto (e isso é até comum acontecer) insistimos em seguir em frente porque nos interessa descobrir a intenção e o desfecho dado pelo autor. E, de qualquer forma, ainda assim, algo de importante sempre ficará para nós, seja numa frase, num capítulo, num dos personagens, no título, num diálogo, enfim, nem que seja para simplesmente descobrirmos que esse é o tipo de livro que não gostamos!

Um novo ano está começando e, a exemplo dos anteriores, analisei o que fiz e o que deixei de fazer no ano passado e assumi comigo mesma alguns compromissos e propósitos para este.

E confesso que fiquei muito decepcionada quando constatei que deixei a vida passar no último ano sem aproveitar o tempo livre para ler bons livros e isso graças ao “bendito” celular que eu permiti que invadisse meu espaço e meu tempo, para joguinhos e leituras que nada acrescentam.

A grande verdade é: não foi o celular que atrasou um pouco minha vida, ou melhor, que não me permitiu aproveitar melhor o meu tempo!

A causa do atraso fui eu mesma e, para resgatar parte do tempo que se foi à toa, nada melhor do que voltar a mergulhar nos livros, os meus companheiros desde a infância, que tantas emoções já me fizeram sentir e que tanto conhecimento já me proporcionaram.

E devo acrescentar que sou do tempo do livro impresso em papel, cujo original era manuscrito, depois datilografado e, de uns tempos para cá, digitado. E não consigo, ainda, sentir a mesma emoção se não puder desfolhar cada página, sentir o cheiro do papel, comparar tipos de letras, ler prólogos, epílogos e a biografia do autor, ver ilustrações se elas existirem, e, com certeza, deixar ali também a minha energia que, certamente, somada à energia de outros que o leram ou lerão constituirão um exemplar ímpar que tem sua própria história.

Portanto, boas viagens para mim, neste e nos próximos anos, e para todos que, como eu, amam viajar através dos livros!


SP, 15/01/2019

 
Autor
IVONE CARVALHO
 
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