de que me vale o sonho
se o inferno não me larga
eu alma penada do desencontro
se me vejo ao espelho peço licença
e desfaço na imagem o batom nos lábios
tão fartos de não ter já o que dizer
- quiçá escrever fosse a solução
mas viajo com a cinza dos dias entre os dedos
e um olhar de culpa que sei, não tenho
sou mais coisa menos coisa, algo banal
devo morrer de asma entre o ontem e o anteontem
(foi a previsão do psiquiatra d’ hospital)
ando farta de mim
meus óculos estão fartos dos meus olhos
e meus pés de meus passos
as minhas mãos fartas de adeuses
queria ter pena de mim
mas nesta idade é quase impossível
e a coragem também já a perdi
algures entre um Janeiro qualquer
e um poema inverossímil.
medi da janela a distância ao vão
como contabilista louca, mas que raio
não posso mudar o mundo
eu, eu moro no rés-do-chão.