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Trilogia: Desertos (3/3)

 
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Quando aqui cheguei trouxe um caderno em branco dentro de mim
Nele escrevi meus versos sem rima e todos os signos inexplicados
Quais me deparei pelo caminho, entre flores, perfumes e espinhos
Onde fui tocado por dores de tantas sinas, segredos inconfessados
Clamando a rasgar o peito para espalhar os sonhos sobre meus dias
Na vida cheia de medos revisitados, linhas que quedaram borradas
Cântico onírico interrompido pelo frio do concreto e aço cotidianos
Ah, tantas páginas ainda restam inéditas, pensamentos impublicáveis
Teria sido por minha vontade ou esse tal destino que ditou a direção
Haverá páginas escritas em tinta invisível que o tempo vai revelando?
Ou as faço, traço a traço, cada uma o espelho de minha imperfeição
Aprendendo a cada erro, celebrando cada acerto, cada frase um hino
Mas de tanta angústia um dia há de bastar, será único e memorável
Vou bater na tua porta, escrever errado em linhas mais tortas ainda
Um destes poemas sem pés e sem cabeça enquanto restarem folhas
No livro de poemas de nós mesmos, letras vivas na forma de contos
Dir-te-ei do que vi no mundo correndo livre pelas pontes sobre rios
Mas esconderei as cicatrizes de quando as pontes já não estavam lá
Vou atropelar a fala ao contar o que inspirou e me fez vivo, na pele
Confesso que doeu, mas livrou do ultraje de andar na vida sem viver
Sei que o tempo passa e os dias se somam, mas não os guardo em mim
Caminho pelo mundo, à sombra dos narcisos, a buscar novos verbos
Escrevo por necessidade quando meu deserto interior me determina
Sou esse, faço sem olhar, não para enfezar os traiçoeiros de plantão
Na poesia reside o catalizador da metamorfose, a magia dos sentidos
Que faz de sair do caminho, assim, só para beijar uma flor mais bonita


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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