O PIQUENIQUE (às avessas)
(Alex Sandro de Lima Silva)
As nuvens se apressam como touros selvagens.
O sol fulgurante, sem relógio, corta o céu azulado em disparada.
Logo vem a dona lua com suas estrelas malcriadas,
que aos poucos aparecem cobrindo as ricas pastagens.
Na grama verde uma toalha quadricular é estendida,
potes, garfos e facas então são lançadas feito baralho na mesa;
bolos, tortas, pudins e até pequenas framboesas,
enfeitam e dão uma beleza sem medida.
Os corpos celestes lá no alto testemunham o pequeno caso.
Dois jovens maltrapilhos, mas de cabelos bem penteados,
entre risadas e olhadelas tímidas, embaraçados,
sentados na grama, se admiram e se servem sem atraso.
Pães melados de manteiga são repassados de uma mão pra outra;
bolos são desembrulhados e em minutos desaparecem.
Um sorriso cá, uma risada lá… ambos se divertem.
A gorda lua parece até fazer hora extra!
Quem interromperá?
Será as cadentes estrelas que curiosas passam aceleradas?
Ou será a inóspita lua satélite iluminada?
Quem será o intruso?
Talvez seja o danado do Sol em seu fuso!
Saindo do horizonte, recomeça sua caminhada,
alumia o casal, que, sem notarem o início da madrugada
se levantam de mãos dadas e vão embora abobalhados.
Enquanto se recolhem… a grande metrópole é despertada.