Poemas : 

dilu(ir-se)

 
dilu(ir-se)
 



No momento lilás, que separa a noite do dia,
o silencio sempre encontra-me diluída em pensamentos.
Nem sempre é de remanso tal mistura; às vezes efervesço
em soluções ambíguas, e entro em desespero
sem saber o que está no avesso.
N' outras, borbulhas me engolem; fazem-me acreditar
que a vida é macia, como o deslize feliz de uma gota
de orvalho numa pétala de rosa ou no verde
promissor de uma folha, Sem se importar se
caiu da madrugada que chora.

 
Autor
GinaCortes
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 13/07/2020 06:37  Atualizado: 13/07/2020 21:27
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1940
 Re: dilu(ir-se)
Nunca ficar-se.
Sentado no sofá, o Homem nem dá conta que vai como se fosse num comboio a alta velocidade, num planeta chamado Terra.
A sua presença nesse planeta é o mundo.

A diluição é um momento água. Qualquer substância em pequena quantidade, em contacto com a água, funde nela até um momento crítico que se chama de saturação.

Mas basta de falar do título.

Apresentas-nos uma prosa poética muito bem feita, cheia de figuras de estilo e aprumo.
A metáfora da diluição entra na segunda linha em que a substância é o sujeito poético e a água são os pensamentos.
Devemos pensar, e o pensar ser um elemento volumoso na nossa vida. Uma pequena parte de nós embebida em muito pensamento.

O sujeito poético não é indiferente às emoções, e aos conflitos interiores que o pensamento tenta resolver como vem explicado neste excerto
"...Nem sempre é de remanso tal mistura; às vezes efervesço
em soluções ambíguas, e entro em desespero
sem saber o que está no avesso...".

Há uma clara universalidade nestas indecisões, nos duplos sentidos do sentir.

O diluir-se chega com a esperança no final.
Ainda que saiba que é todo um processo ilusório que permite avançar no dia-a-dia.

Porque a alternativa é morrer.
Na morte há poesia, mas não poemas.

bj