O inverno reassoma intempestivo
e ficam na memória dias mais cálidos
O por do sol ardendo em brilhos
Tal qual a forja de uma ferraria
Sentar-me-ia a olhá-lo deslocado
das correntes do tempo cotidiano
Sumiriam as distâncias em minha mente
onde imperam as transparências
Passado e futuro - conceitos q'mescapam
da consciência, submersa no irreal
Liberto-me dos cordões umbilicais
que a vida insistiu em me atar
Os signos se apresentam sucessivos
os vejo, abismado, repletos de sentidos
Ocupando as faces lógicas dos losangos
com a precisão geométrica da luz
A luz me devolve ao real indesejado
Retorno ao presente de frios cortantes
Abrigo as mãos no calor dos bolsos
Retiro-me, irresignado, ao abrigo de casa.
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)