Poemas : 

Roxo de Paixão

 
Os dias resultaram agrestes, meus caminhos tortuosos
Ricos de estrelas cegas, palavras dilaceradas ao vento
Teus olhos vieram do mar na chegada do fim de verão
Para serem residentes anônimos d’uma tola esperança
Qual faróis fiéis à tua efígie, esconderam em segredo
A luz que iluminava a rota dessas inquietas ausências

Sem te encontrar deixei marcas pelo chão que passei
Pelo chão cravado de corais e de estrelas pisoteadas
Foi um caminhar em tempos invividos em nu desatino
Em frias tardes amargas em vão invoquei o teu nome
E o sol não brilhou, nem ouviste tão insanas palavras
E assim saímo-nos, atrelados ao medo e ao abandono

Entre os estilhaços, pedaços perdidos de ti e de mim
Infecunda ausência dormida entre os móveis da casa
Repleta de pó, casa que guarda um cheiro de hortelã
Sob o céu roxo da paixão, nos perdemos nos desvãos
O querer que a brisa um dia revelaria às águas do rio
É o segredo que espera a nuvem alva que nunca virá


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
Data
Leituras
231
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
12 pontos
2
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 26/07/2023 13:29  Atualizado: 26/07/2023 13:31
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: - Diga um Nome -
O que dizer de texto tão comovente, rico em construções poéticas e de uma maestria tão singular e contundente? Poderia destacar as " estrelas cegas" ou " céu roxo da paixão", mas eu prefiro apenas contemplar as estrelas pisoteadas, o que me remete a Victor Hugo que nunca soube distinguir se as estrelas eram flores do céu ou se as flores eram estrelas do chão. Um forte abraço, meu amigo poeta!