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Tempos modernos

 
Tem ficado patente nestes tempos modernos a abolição de certas coisas que na minha forma de ver jamais deveriam ser abolidas.
Como advogado vejo uma campanha intitulada: "Não ao Juridiquês". E o que significa? Que o advogado deve abolir o estilo jurídico de escrever em suas petições passando a usar forma mais coloquial.
Sou absolutamente contra.
Entendo que ao conversar com o cliente leigo, o advogado deve falar-lhe de forma que este compreenda genericamente o que está sendo dito. Não deve deixar o cliente estupefato por não entender seis de dez palavras que o advogado lhe fala.
Nem este deve pretender traduzir conceitos jurídicos para que o cliente entenda a mecânica do processo. Deve falar de forma clara e simples.
Mas nas petições... ora, entenda aquele que se preparou para tanto. Se eu fosse abrir uma cova para cada assassinato da língua portuguesa que certos colegas cometem em suas petições, não haveria mais chão a pisar.
Uso sim brocardos latinos, pois em 4 ou 5 palavras defino uma situação específica que não o faria em uma lauda de linguagem coloquial.
Parece-me que essa iniciativa vem daqueles que tiveram preguiça de ler e, como consequência, não aprenderam a escrever. Desde cedo amei a leitura, a quantos lugares me transportei, quantas aventuras vivi, de quantas histórias me compadeci, com quantos personagens ri desenfreadamente até as lágrimas, quanto medo senti.
Ao citar essa campanha sobre a escrita jurídica, apenas mencionei uma nesga de um movimento maior, que pretende deturpar os valores em nome de uma liberdade cujo significado não é o mesmo que encontramos no Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves ou no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Para esses liberdade é não carecer respeitar nenhum valor estabelecido, não dar satisfação de seus atos e fazer a qualquer preço o que lhe dê na telha.
Mesmo rebelde na minha juventude, quando busquei a mudança de paradigmas o fiz respeitosamente.
Pena que com a dilatação das definições de liberdade, não sobrou muito espaço no dicionário deles para a palavra respeito.



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
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Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 27/11/2020 04:00  Atualizado: 27/11/2020 04:00
Administrador
Usuário desde: 22/11/2018
Localidade: RIO - Brasil
Mensagens: 1924
 Re: Tempos modernos
...apesar de eu não ser advogado, mas lendo e papos com amigos que são; acabei tendo contato com alguns conceitos e palavreados.... vim para dizer-lhe que o texto desejavelmente dá uma boa palestra em defesa de tese.
Cumprimento-o!


Enviado por Tópico
João Marino Delize
Publicado: 27/11/2020 14:17  Atualizado: 27/11/2020 14:17
Membro de honra
Usuário desde: 29/01/2008
Localidade: Maringá-
Mensagens: 1912
 Re: Tempos modernos
Talvez falando o Português bem claro não há necessidade de se colocar palavras vindas do Latino, só para impressionar o jurado e os Juízes. Vejo os Ministros do Supremo que as vezes levam até duas hora para dar um voto, quando daria pra faze-lo em dez a vinte minutos, sem encher linguiça.


Enviado por Tópico
Legan
Publicado: 30/11/2020 15:27  Atualizado: 30/11/2020 15:27
Colaborador
Usuário desde: 26/01/2010
Localidade: Algures em Trás-os-Montes
Mensagens: 788
 Re: Tempos modernos
Em relação a direito e advogados, "sou um zero à esquerda".

Mas se disseres a um leigo que irás interpor um habeas corpus, é claro que o cliente não sabe que isso é... Só sei que tem relação com liberdade... (Por falar nisso acho que vou interpor um habeas corpus, por causa da prisão domiciliaria decretada pelo governo "recolher obrigatório")...

Abraço
José Coimbra