Poemas : 

Ode para quem matou o amor por ciúme.

 
Como me ouvirás a voz se aquiesceres que as estrelas fujam entre nuvens
Se na calada da tarde deixares que inutilidades assumam o lugar do amor
Se o ciúme que incendeia a dor, oxidar a esperança, germinar as ausências
O que imaginas, te decretando que desertes de nós, se só tu é que me tens

Se acho força para renascer a cada aurora eu o faço por esperar teus beijos
Então porque imaginas que vivo tudo aquilo que já releguei ao esquecimento
Onde pensas encontro alento a cada despedida de tua necessária presença
Senão na lembrança de tua luz diamante que é a matéria essencial da vida

Não abandones ao vento avaro da suspeita as flores que estão à tua espera
Por ti despertei do sono e me atrevi reabrir janelas para os riscos do amor
Consenti que uma insuspeita pulsação revelasse esse sentimento contido
Para anos depois de morto, suspirar novamente vivo, para cavalgar o zefir

Não permitas que o gris interminável retome os céus com seus fantasmas
Nada existe do outro lado de nosso amor, senão ácidos tempos acabados
Não te vês nestes singelos versos que são a resistência ao silêncio diário
Que o passado restou apenas no passado e que és a única luz que emerge

Não te dás conta que estando juntos somos a melhor definição do eterno
Que as esperas que temos que nos submeter não podem ser de desespero
Mas são o prólogo de novo capítulo, onde tudo além de nós é anonimato
Tal qual o vinho que delibamos a preceder infindáveis estações sublimes

Percebas que a fome de ti me preenche os poros e me cantes uma canção
À luz de vela toma-me, entrega-te, liberta teus desejos mais impróprios
Cultiva gemidos entre lençóis e te olvides de tudo mais, afora setembro
Escrevo somente por ti, e o faço com pedaços de mim, a cada entardecer





"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


De nada adiantou, as dúvidas infundadas drenaram toda a seiva do amor e a árvore que se cultivava, secou.
 
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Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 12/12/2020 21:57  Atualizado: 12/12/2020 21:57
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 Re: Ode para quem matou o amor por ciúme.
Boa noite Mr.Sergius, gastamos muito da nossa vida aparando arestas das nossas relações de afetos amorosos, parabéns pelo vosso instigante poema, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
Legan
Publicado: 13/12/2020 18:05  Atualizado: 13/12/2020 18:05
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 Re: Ode para quem matou o amor por ciúme.
"Escrevo somente por ti, e o faço com pedaços de mim, a cada entardecer"
Quem não o faz? Muitas vezes deixamos sangue, suor e lágrimas naquilo que se escreve e mesmo assim não é suficiente...
E as dúvidas infundadas destroem tudo o que foi construído...

Perfeito e pujante poema

Abraço
José Coimbra