Saudade de ti e de teu nome, ave migratória dos mares
Porque tua ausência resta plantada e frutifica em mim
E mesmo tenhas imergido, teu cheiro de verão me vem
A despeito do chão forrado de folhas amarelas caídas
Ora, é frio inverno, inclemente, prenúncio do abandono
Nos territórios da noite em que nada e ninguém se ouve
Lembro nossa infância inocente, a mágica companheira
Das canções de antanho, amor em nossas noites felizes
Também recordo do vento de seus mistérios e segredos
Tua presença, tuas mãos, novamente escrita nos versos
O aroma daquele perfume, de cujo frasco ainda guardo
Contigo, deixei de ser menino, descobri nova caligrafia
Mas tua alma sumiu no passado, o medo limitou teu ser
Esvaiu-se a lanterna que alumiava o perfil de teu corpo
Um dia acordamos e, no linho da manhã, já não estavas
Esquecemos, em passo apressado, o caminho de retornar
Uma voz do passado me chama entre os sibilos da brisa
Como quem quisesse subtrair a matéria de tempos idos
E mostrar que restou no lençol a mancha daquele amor
Como pudesse apagar o que houve da memória de Deus
Ainda que tão longos caminhos jamais me conduzam a ti
Deixo a porta aberta, a taça de vinho e o esquecimento
Mas te lembro que me libertei daqueles antigos grilhões
E que a saudade destes versos, é o adeus que não te dei
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)