Poemas : 

O amante e a trapezista

 
O tremular dos olhos que antecede à lágrima denuncia
Os dias que uma fina, sutil dor nos assoma e nos rasga
Essa dor de ser nós mesmos, que não dá para disfarçar
Qual a tristeza interior da criança que, no berço chora

A dor faz sentir qual estar de braços dados com o nada
Com vestidos de noite, mas com os gestos suburbanos
Um vapor que paira no horizonte nas horas de sombra
Uma leve força hipotecada que tem o peso do universo

A forma da tristeza pode ser apenas um olhar magoado
Ou o riso desbotado de um nostálgico (trágico) mundo
A presença efêmera das palavras que ficaram sem dizer
Uma cantiga de cabaré entoada num afinado fio de voz

Ao olhar atento, àquele que interessar vai olhar e sentir
A tristeza e suas expressões têm forma diversa na alma
No silêncio dos quartos vazios, na lucidez das avenidas
Como sentir a vida esvair, gota a gota, no meio do peito

A dor de amar é igual se aventurar sem rede no trapézio



"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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