Poemas : 

Sem flores

 
Há no ar um quê de espanto nas linhas do teu rosto
Já não te é tão simples sorrir como sorrias entre nós
Quando o silêncio dava uma pausa no ruído da cama
Eu, mendigo, pedia tua atenção, me querias o corpo
A vizinhança, naquele pequeno lugar, nos espreitava
Ao passo que eu cuidava de crisântemos na varanda
Talvez eu soubesse que não foi amor, mas só fictício
Mas no cintilar do luar, trazia estrelas ao teu sorriso
Eu te supunha tão especial e hoje nada nos distingue
Mendigas minha emoção, eu não a tenho, sei que dói
Mas tu não viste, na tua vez, quanto me doeu um dia
Fomos anônimos na multidão, nunca nos pertencemos
O rastro de nossos passos na areia a maré já apagou
Do pouco que restou, só essa foto, que tu guardaste
A fingir um fluído imaterial, um remedo de esperança
Tão imaterial, que nesta vida, jamais irá se condensar
O acaso, um dia, me revelou que teu querer era irreal
E eu aceitei a vida assim, nem sei a que te abri a porta
Nem aspiro mais a ser herói de nada, ou te fazer feliz
É tua vez de aceitar, não há luar, não há flores a cuidar


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
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