Poemas : 

Farinha Amparo

 
escrevi uma carta cheia de letras
sem pontos nem maiúsculas
para demonstrar a minha dignação

e num louvor todos louvar

discursei num monólogo sem curso
e ursifiquei um urso branco em pardo
pintei o vermelho de encarnado a sangue

para encher o vazio de nada

ouvi o marulhar das ondas o silêncio
combatendo ferozmente a minha surdez
a línguas como o russo e o chinês

serei
em breve
um tradutor de mandarim


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 25/02/2022 10:34  Atualizado: 25/02/2022 10:34
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Farinha Amparo
Construções poéticas que me chamaram a atenção:
" Ursifiquei um urso branco em pardo" e " Encher o vazio de nada". Sempre gosto dessas figuras de linguagem. Também gostei do neologismo. Um abraço, meu irmão das letras!