Poemas : 

A papoila e o silêncio

 





A papoila
aveluda
a brisa.

Seríceas,
as pétalas
espalham o avesso
do silêncio.



























Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 06/04/2022 04:00  Atualizado: 24/04/2022 05:27
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 Re: A papoila e o silêncio
“...O avesso
do silêncio.” é uma aliteração gostosa. Esse facto, a aliteração, era um bom motivo para nos questionarmos do poema. Toda a última estofe está cheia de esses.
Existem certos silvos, que vêm de serpentes, que são muito intimidatórios. Outros são apenas íntimos. Uma intimidade, não se manda calar um estranho. Um apelo ao silêncio. Shiu...

O avesso do silêncio é o agora. O presente.
O silêncio, na sua forma mais pura, é uma espécie de infinito.
Virado do avesso o silêncio é a Palavra.
Seja ela em forma de onomatopeia, em discurso prosaico, em declamação poética, em canção dos anos 60, ou canto lírico, e um enorme etecetera...
Sendo o silêncio ausência, o seu avesso é presença.

O canto, seguindo esta linha de raciocínio, é uma das presenças mais nobres, na minha opinião.
Sendo um poema a dizê-lo, torna-se num tipo de pleonasmo, repetindo-se conceitos. Um poema é o avesso do silêncio, se falar desse avesso, está a repetir-se... eh, eh...

Começando pelo início, “ A papoila\ aveluda\a brisa...”.
Fui ao dicionário ler o que pode ser a Papoila, e além da esperada botânica, surge um inesperado “conjunto das partes genitais femininas” cortesia do Priberam, saída nº 4 (calão, Portugal).
Ainda que seja calão, é um calão bem poético, podendo ser quase erótico.
A brisa é por si só um elemento de vento suave.
Ao aveludar a brisa, a papoila dá-lhe as características do veludo. Dois suaves na mesma estrofe. Mais um pleonasmo.
Convenhamos que o apelo erótico, o fazer uso da Papoila, é uma ferramenta de suavizar bastante persuasora.
Não há brisa que não ganhe veludo, não há que negar.
Gostei de saber que a seda é serícea.

Não há como discordar, que, assim como este poema, as pétalas da Papoila são inspiradoras, que é o que nos diz o fim da segunda estrofe.

Sete versos, muita riqueza vocabular, figuras de estio com fartura, uma linha de pensamento seguida e bem conseguida, um grande poema, bem pequenino na forma.

Já referi noutros, escrever assim tão bem em tão poucas palavras é um desafio tremendo e este encheu-me bem as medidas.

Como é óbvio, favoritei.

Obrigado pela leitura.