Poemas : 

Sombra

 
Na busca da fonte do poema naveguei contra a corrente
Viajei sob o brilho azul dos equinócios felizes da infância
Eu tal qual pássaro, voava livre sobre o magma calcinado
Doces chuvas primaveris abraçavam as imagens ao redor

Cenas caras que abriguei sob o cobertor de meus versos
Inesquecível som distante das crianças e seus folguedos
Essa foi a gênese de toda minha ânsia na escrita poética
Nestes tempos o pássaro já não quer mais ousar seu voo

Hoje o perigo mantém as crianças presas dentro de casa
Pobres histórias suspensas nas linhas do caderno da vida
E mesmo o sino dominical daquela miúda igreja da praça
Não toca mais, proibido por aqueles a quem tudo magoa

O mundo está tão deformado e vago que não reconheço
Os dias sucedem as auroras em vão pois nada se constrói
Uma névoa cinza, pálida e vaga oculta a lágrima da ironia
Mas o poema se fará, tão infinito qual árduo manuscrito

O destino me deu a noite e canetas como lâminas afiadas
Contra os livros de parágrafos sem sentido e donos cegos
Fadados ao oblívio, tal quem esbanja a nulidade em livros
Também deu-me esta sombra que escreve como outro eu

A palavra não é o acaso, antes um passo rumo a novo dia


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


 
Autor
Sergius Dizioli
 
Texto
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