Ideias Estapafúrdias

Faço gosto de que gostes, cara Veit, das publicações d'esta fase introspectiva em que m'encontro. Tenho escrito com menos frequência do que o normal, mas sempre muito honesto comigo mesmo.

Talvez esteja em um ponto de virada, não sei... Ontem, tive ganas de escrever alguma história com título A REINVENÇÃO DE LARA, sobre uma mulher que muda completamente de vida e de personalidade após um incidente, deixando perplexos todos que a conhecem. Os capítulos seriam expressões de tal perplexidade do ponto de vista de cada uma d'essas personagens que compõem os círculos familiar, social e profissional da protagonista. Todos falam d'ela enquanto ela mesma, Lara, nunca aparece como narradora ou sujeito das acções. Seria um livro rigorosamente sobre ela, ou melhor, sobre o que os outros julgam-na ter sido e ter se tornado. Penso que seria uma reflexão sobre a identidade em si, afinal, quem realmente somos se podemos nos tornar outros a qualquer momento?

Há algo de neurológico n'isso, talvez... Basta falta faltar vitamina B12 durante um tempo no organismo e a cabeça passa a apresentar perda cognitiva ou demência precoce, por exemplo. Uma pessoa exposta a certa abundância ou carência bioquímica pode simplesmente deixar de ser ela mesma e se tornar outra. Quem seríamos se nos permitíssemos ser outros? Se nos enchêssemos de pílulas ou lidássemos com a perda construindo armaduras mentais absolutas? Outra ideia para um soneto: INEXPUGNÁVEL CORAÇÃO. Talvez devesse escrevê-lo...

Ou talvez nada saia d'essas ideias estapafúrdias que insisto em chamar de poesia...

De qualquer modo, obrigado pela leitura sensível e pela gentileza do comentário.

Abraços, RicardoC.

Escrevi-o:

INEXPUGNÁVEL CORAÇÃO

Hei-de estabelecer-me fortaleza,
Onde possa abrigar os sentimentos.
Rechaçar os assédios mais violentos;
Cercos de solidão e de tristeza…

De todo indiferente à correnteza,
Um maciço de gnaisse sem intentos,
Que irrompa contra os céus e os quatro ventos,
Altaneiro em sua íngreme dureza!

Península, a torrente à minha volta
Afaste tanto o mal quanto a revolta,
Que abundam entre mentes cobiçosas.

E na escarpa do cume inacessível
Eu possa enfim sentir algum alívio
Distante das planícies populosas.

Betim - 01 12 2023

Encantada com a leitura.
Parabéns pelo
maravilhoso soneto.
Abraços