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Olhar Cego nº 22

 
[Este texto não pertence à Administração. Trata-se de uma colaboração de um Luso-Poeta, que participou de forma anónima no jogo "Olhar Cego". No final, revelaremos a sua identidade. Convidamos os utilizadores a pontuar e a comentar o texto à vontade, como fazem com qualquer outro.]

Cegueira

Dizer que prefere a folhagem à flor marca uma imprecisão
Traduzida por um clarão que tem em evidência só o verde
Significaria fazer uma pausa justo quando a música eleva
É como sugerir que o verão em seus avanços e retrocessos
Conjure sua luz de modo a penetrar só as janelas traseiras

Até que por fim chegue o momento final, a luz nos pertence
Diz-se ser o álibi perfeito para ocultar uma eventual soçobra
A iluminação inconstante, permite ou não negar o desastre
Mas quem ama às escuras, sabe que pode amar sem olhar
Fazer desse amor duas mentiras: o antes e quando se acaba

Restando apenas um estilhaço a afirmar que fora uma festa
A nota de oboé inadiável, um tangido de língua do rouxinol
Um repicar dos sinos à maneira qual já fez repicar outrora
Negar tudo, seria como reconhecer que a vida foi cegueira
Contudo o que me surpreende é que são só dez da manhã

 
Autor
Luso-Poemas
 
Texto
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Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 24/09/2024 16:39  Atualizado: 24/09/2024 16:39
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3436
 Re: Olhar Cego nº 22
Parece-me que estamos a entrar num período de excelência, em que os poetas se lembraram de tratar as palavras da forma que devem ser tratadas (isso, ou hoje é um dia à parte), não desfazendo do bom que até aqui já se escreveu neste "jogo".

A forma como o autor termina cada uma das estrofes é sublime, num primeiro olhar, mais desatento, até se pode achar que não têm nada a ver com os anteriores quatro versos, puro engano, o último verso de cada quintilha é a alma da estrofe. Sendo que o último verso do poema merece todos os aplausos da plateia de leitores.

Até ver, não há melhor! Favorito

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/09/2024 17:58  Atualizado: 24/09/2024 17:58
 Re: Olhar Cego nº 22
.


…Cegueira…(Se as letras são parecidas suas almas são totalmente diferentes, aqui a cegueira é por instantes ou não)

…Dizer que prefere a folhagem à flor marca uma imprecisão…(ai de mim, que por falta de coragem nunca vou ser acariciada como veludo de uma rosa)

…luz nos pertence…( como assim, esqueceram de me instruir, ou apagou o pensar antes que pudesse reclamar)

…Contudo o que me surpreende é que são só dez da manhã…( , mas quando é que acorda)

Peço desculpas ao autor ou autora por brincar, o assunto é realmente uma preocupação, eu posso exemplificar, deixar uma criança brincar com fogo é uma coisa e agora um adulto de emoções descontrolada com o fogo é perigoso, manipulador, abraços)

Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 24/09/2024 22:14  Atualizado: 24/09/2024 22:14
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
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 Re: Olhar Cego nº 22
Cegueira

A luz se apaga, o mundo é breu
Os olhos buscam, não veem nada
No escuro o medo ergue seu véu
A mente vaga, cega e assustada!

Onde a luz não chega, os sons ganham formas, a respiração se transforma em caminho e o silêncio se preenche com pensamentos. Talvez a verdadeira cegueira não seja a dos olhos que se fecham, mas a dos corações que, mesmo sob o brilho do dia, não conseguem ver o essencial. A escuridão se torna uma lente para a alma, e dentro dela floresce a perceção de um outro modo de ver.

Alpha

Enviado por Tópico
Beatrix
Publicado: 25/09/2024 22:12  Atualizado: 25/09/2024 22:13
Da casa!
Usuário desde: 23/05/2024
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Mensagens: 355
 Re: Olhar Cego nº 22
Um poema extraordinário! Fiquei deliciada.
Não foi tudo cegueira, não.
É incrível como cada parágrafo tem um verso final que acaba por seguir o primeiro. Os outros três versos são sumo.
Confesso que fiquei surpreendida com o final. Muito extravagante para este poema, mas não ficou mal. Pelo contrário. Aliás, não há nada que mudasse aqui.
Parabéns ao ou à poeta.

Beatrix

Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 26/09/2024 12:03  Atualizado: 26/09/2024 12:03
Administrador
Usuário desde: 02/10/2021
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Mensagens: 589
 Re: Olhar Cego nº 22
.
Poema feito de luz e sombras, mas também de sons e odores.
Todos os sentidos se unem para nos trazerem a experiência da inconstância da existência, que faz fronteira com a cegueira e com o fim, mas não se deixa vencer por elas: antes, respira-se aqui um deslumbramento, um deixar-se maravilhar pela beleza e pela efemeridade das coisas e do ser.