A noite desceu sem nome,
Espessa como o silêncio entre dois desconhecidos.
Nela, o tempo se dissolveu em absinto
Verde, amargo, incendiando as veias
Com lembranças que nunca aconteceram.
Cada gole era um rito,
Um afundar lento na vertigem do Eu.
Ao redor, corpos dançavam sem gravidade,
Palavras evaporando
No hálito dos que ousaram olhar para dentro.
Não era festa — era oferenda.
Ali, entre sombras e fumaça,
Alguns rasgaram as peles herdadas,
Escapando das formas ditas humanas.
Tornaram-se deuses de si mesmos,
Não por poder, mas por abandono:
Despiram as promessas, os medos, os espelhos,
E ergueram no lugar um altar de carne e dúvida.
Na noite absoluta,
Não há juízes, nem salvação
Apenas a possibilidade brutal
De existir sem desculpas.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense