Mesmo o homem que afunda no silêncio
Carrega o eco do mundo nos ossos.
Pois o barro de que foi feito não é só seu,
Mas também da lama
Pisada por tantos outros pés.
A indiferença dos outros
É uma doença
Que se alastra pela alma do tempo.
E se ele — o triste — não vigia,
Torna-se espelho daquilo que odeia.
Uma geração que não pensa
Cava buracos onde o futuro tropeça.
E o homem triste, mesmo cansado,
Sabe que o chão também é seu.
Ele se importa porque,
No fundo, ainda sangra verdade.
A tristeza é o preço
De quem não se cegou por completo.
A mácula do mundo não é uma mancha na pele,
Mas um incêndio nas entranhas.
E até quem desistiu de correr
Sente o calor do fogo.
Porque a beleza ainda sussurra,
Mesmo quando o grito é surdo.
E o homem triste, ferido de lucidez,
Não pode ignorar
O que fere tudo que é sagrado.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense