Que somos animais políticos,
Eu não conheço quem duvide,
Por mais que nos convidem para outra praça.
Disse-me seu Aristides,
Mirando uma cortina de fumaça.
Eu não sei como está a vista de seu Aristides,
Sei que eu não estou enxergando bem o que se passa.
Mas sei que o ar, a água, o alimento, o sol, o sono... não bastam.
E só no mundo da lua
O trem pode ir bem
Com a bandeira do “cada um fique na sua”.
“Somos animais políticos”.
Bom, seu Aristides!
Somos pedestres, condutores, passageiros,
Consumidores, contribuintes, partes e inteiros.
Somos racionais, religiosos, agnósticos, ateus
E todos somos filhos de Deus.
– Mas não devíamos deixar a religião tirar a decisão para dançar!
É melhor que fique cada uma em seu lugar.
Se separarmos os papéis
Podemos saber onde por os pés.
Mas se embaralharmos os papéis, os dois homens,
Que são o mesmo homem,
Somem para dar lugar a um homem:
Corrompido, com os dois atributos corroídos.
Se eu não separar a política da religião,
Irei louvar e lavar as mãos para a razão.
– Não sei se devo dar ouvido ao seu Aristides.
Ouço uma voz:
– Essa discussão não está mais entre nós,
Ela descansa em paz há séculos.
– Será que eu enlouqueci?
Será que uma máquina do tempo me levou?
Estou na idade média?
Estou no mundo da lua?
No trenzinho da sacanagem?
Estou no rebanho do pastor ou do bispo?
Eu me belisco. Não é um pesadelo.
Eu estou nesse novelo.
Não sei em qual mundo eu estou.
Meus olhos estão num papel que o vento estragou.