A lembrança chegou tão sutil quanto
o sol filtrando entre as folhas.
Tão profunda quanto a ausência que nunca
deixou de ser presença, chegou quase como
um sussurro do tempo, reavivando um
caminho
de curvas e chão amarelo.
Uma pintura feita somente para nós...
As cercas brancas agora revelam-se molduras
intactas da memória. Cercam não a terra,
mas os afetos.
Ele dizia pouco com os lábios, mas o olhar, sob
a sombra do chapéu falava sobre abraços,
água fresca e sorrisos sem fronteiras. Seu
passo lento ensinava: não se corre por entre
coisas eternas, porque ali, entre o pó e o suor
o mundo não tinha pressa; o vento respeitava
o silêncio e os pássaros fatiavam o ar sem murmúrios...
Os cantos poderiam espantar a
delicadeza do instante.
Este lugar ainda existe dentro de mim, onde
o tempo é feito de saudade boa e os avôs
nunca partem por completo.
É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.
(Os Poemas - Lêdo Ivo)