O inferno não arde em chamas,
Arde em vontades não domadas.
Nasce quando o querer se torna rei,
E o coração se curva ao espelho.
Toda perdição começa suave,
Com o toque de um sonho proibido.
O desejo é a fagulha
O resto, o próprio homem sopra.
Não há demônios nas profundezas,
Há apenas ecos do que se quis demais.
Cada inferno tem o rosto
De quem não soube dizer “basta”.
O inferno é íntimo, discreto,
Não precisa de enxofre nem gritos.
Basta um desejo que cresce
Até sufocar o que restava de luz.
O desejo é uma flor noturna:
Bela, mas envenenada.
Quem a respira com avidez
Descobre o inferno dentro do peito.
Não é o fogo que castiga,
É o apetite sem medida.
E quanto mais se tem,
Mais fundo se cava o abismo.
O inferno começa no olhar,
Quando o desejo esquece o limite
E transforma o amor em posse,
A alma em labareda.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense