Ontem algumas vozes diziam que o homem vale o que tem.
Hoje é a aparência a maquinista desse trem.
Quem da maquinista não se declarar devoto,
Ousar não consumir pra aparecer na foto,
Nos olhos da maquinista não vai poder se ver.
O ter engoliu o ser e vomitou o parecer.
O parecer não tem nada a ver com o que é verificado.
O endereço certo é o errado.
Quanto vale a vida
Nessa corrida sem chegada e sem saída?
A vida é um passeio
Que meu coração não quer que acabe,
Mas sabe que vai acabar.
– É preciso aproveitar enquanto durar.
Não sei bem o que é aproveitar.
Consumir?
Olhar pra câmera e sorrir?
Pôr o passeio na bolsa ou no mercado?
Ser mais um produto enlatado?
O passeio passa como um passarinho
Que cruza o espaço azulzinho.
Não quero passar o passeio correndo pra chegar a algum lugar.
Quero ver, ouvir e sentir o vento e tudo que me toca.
Quero saborear a minha pipoca.
Quero falar o que eu penso,
Quero usar o meu lenço.
Meu passeio não cabe na bolsa nem no mercado
Se eu trocar o passeio por uns trocados
Gasto o tempo todo, pra ganhar a vida.
Gasto a vida para ter outra vida.
Que vida? A vendida, a comprada?
Mas a vida é uma só.
E assim as duas vidas em vida viram pó.