Poemas : 

Molin Blue

 
Tags:  saudade  
 


cristal entre dedos
sempre carecido de sol
só a luz lhe dizia dos vitrais
a espelhar a alma nas sebentas
ou nos cadernos de sobras brancas
restos da escola a espreitar o verão

havia a Bic
sempre à espreita
a invejosa rival quase de joelhos
mais esguia, mais frouxa
leve, mas sem aguentar certas ânsias
às vezes lá riscava o ar da sua graça
já a sua irmã de vitamina C
tinha traço peso pluma
finura frágil
mas as laranjas eram um empecilho
impediam a luz
e não lhe via o veio

e a Parker
aprumo de fraque
pompa e circunstância
perdia-se na grã-fineza
pesava demais
sempre em cumprimentos
às linhas, aos espaços
uma por uma, um por um
numa demora espessa
lenta demais para as veias inchadas

mas a Molin
a Molin era firme
bruta que bastasse
mas com classe
ia de margem a margem
sem reclamar da corrente
ia, voltava
e recomeçava
nem que o sangue fervesse
punha-se toda azul
e quando alimentada de sol
o céu descia-lhe
e pousava-se todo perante os olhos

desculpem-me as pedras de pixelar
servas incondicionais da pressão digital
pisadas triliões de vezes
sem quebrar as molas de sustento

desculpem-me todas as damas de companhia
com as suas vestes murmúrio de escorrer

mas só a Molin sabe...

do fado!


20-11-2025


 
Autor
AlexandreCosta
 
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