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Conversas ao espelho-Porquê? (8)

 
Por mais de uma vez perguntaram-lhe porque o fazía assim. Porquê? Porquê haver sempre tanta explosão contida de sentires, o vidro das lágrimas, punhos, nariz ao alto a farejar, sangue incolor, palpitações na garganta, premonições, um adeus, um afastar, amores impossíveis de amar?! Tão mais feliz e bonito juntar um e outro, dar as mãos, suspiros em forma de coração, beijos, sol e Primavera... sería um final a deixar todos de sorriso rasgado e dormirem descansados uma noite merecida. Ele encolhía os ombros, banalmente, na impotência da fórmula descoberta atingir no comezinho da repetição de gestos e despertá-los para o outro mundo, filtrado, coado no paralelismo que o eco tem como ressonância do que se diz, do que se faz, do que se quer. Algumas vezes tentara, em nota de rodapé, explanar a sua teoria de que todo o acto tem um reflexo em simultâneo como a imagem de um espelho e que aqueles sentires controlados por si nas suas narrativas desenvolvíam outros actos mais libertos, gritados, tão verdadeiros que só sentindo. Ninguém entendera, retiraram-lhe o mérito da idéia e chamaram-lhe demente. Adoeceu nas palavras por inscrever e perdeu-se em febres delirantes que o atiraram para a duvida da sua própria crença. Tantas vezes se perguntou porquê que a interrogação atirada ao reflexo o fez nascer de novo como mulher.

 
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Sant'Ana
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