Trazemos guerras nos bolsos da memória
é verdade
mas trazemos também sementes
e às vezes basta uma mão aberta
para que a esperança encontre solo fértil
Contradizemo-nos muitas vezes
erguemos muros com a mesma pressa
com que sonhamos pontes
tememos o outro
e ainda assim procuramos o seu olhar
para reconhecer o nosso caminho
Mas há um rumor suave
que atravessa os séculos
o desejo de paz
tímido, persistente
que brota na conversa
no gesto inesperado
no instante em que alguém decide ouvir
Somos imperfeitos
mas não irremediáveis
E se a história nos pesa
também nos empurra para a frente
para a mesa onde antigos inimigos
descobrem que partilham a mesma sede
de um amanhecer diferente
No fim, talvez seja assim
entre contradições e tropeços
vamos aprendendo, devagar
que a paz não é um monumento
é caminho
e que cada passo
por pequeno que seja
acende uma luz nova no mundo.
Mário Margaride
Adoro a poesia. E tal como um pássaro, voo nas asas das palavras, no patamar do meu sentir, e das minhas emoções.