Poemas : 

estranho silêncio

 
Tags:  instrospecção  
 
este silêncio estranho
a emoldurar meu rosto lívido
num lenço recto e doce de recolhimento
e de ternura
antiga

lento
este trilho solitário, árido e desértico,
onde me encontro e me devolvo
greda
ao próprio vento:
poeira, nuvem de pó sublimada ao infinito.



trespasso
agora portas que se abrem e se fecham
em ritos de passagem
e vejo portais inaugurais
que, pressinto, m’aguardam



desembacio o olhar à tarde inteira,
Cítara de Jacob avisto ao longe
esculpida em pedra lisa e pura
porosa pedra
donde a água esguia
se releva
mais branca, mais mansa,
em plenitude maior de ser alvura

éter o gesto
a mão lavada o toque vacilante
d’afago desmedido ao sol poente
em derribamento de se recortar na orla primitiva.

como gostaria de sarar, meu amigo,
a febre içada
a pele tangida desta mágoa
esta, que se manifesta em chama
quando escrevo e m'inscrevo na força motriz
de um verbo
e tombo, insana, na fuligem parada do tempo

que passa, passa …

introspectiva busco definição de ser
finíssima
flor
exposta aqui, em absoluta oferenda, à anunciada enxurrada.


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 13/06/2008 15:48  Atualizado: 13/06/2008 15:48
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8095
 Re: estranho silêncio
Este poema, aliás excepcional, como muitos outros seus, passa a ideia da morte como sendo bela!
A última palavra (enxurrada)um pouco fora da linha, pelo contraste ao belo...Bj

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/06/2008 16:22  Atualizado: 13/06/2008 16:22
 Re: estranho silêncio
É um belo poema descritivo-poético do eu lírico, apesar de alguns versos apresentarem um excessivo lirismo intelectualizado, embora este aspecto não venha a diminuir a valor desta peça poética, por ser poética em muitos trechos.
Minhas saudações, Godi.

Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 13/06/2008 18:49  Atualizado: 13/06/2008 18:49
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: estranho silêncio
Mel,

bem haja pelo alento que a leva a edificar através de arquitecturas tão singulares, surpreendentes visões do mundo de todos nós
que pelas palavras se instauram.
Abraço.