Poemas : 

Sem "a"

 
Procuro no sentido do desejo
um motivo terno
que me recorde o tempo ido
de luz, hoje noite;
Dou os últimos retoques e penso,
penso como é difícil ouvir
gritos surdos
de gente que se perdeu
sem ter seguido o rumo certo,
pois ninguém lhes ensinou,
ninguém procurou ver neles
um sorriso ténue,
escondido pelo muito que foi dor
por só viverem momentos breves
de frescos sonhos;
E nesse conjunto (em que me incluo),
o belo nem é flor,
o beijo nem é quente,
o frio nem é morno,
e o gelo é o tudo
que converte presente em futuro
feito sobre minutos ocos
de tempo vivido sem regresso;
O sonho que foi ontem
é hoje sofrimento que ferve
num inverno longínquo
que cresceu seco e frio,
fruto de um tempo repleto de nuvens,
sem sol que espreite
o crescimento de um ser vidente
que julgue inverter o sentido do sofrimento
e reduzir o tempo
em que espero perder
o doloroso sentimento
de me sentir um herói
vencido pelo tempo
que julguei perdido.


"A ausência só é efectiva quando a presença nos é, ou foi, indiferente" (Ajota)

 
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Ajota
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Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 14/08/2008 14:21  Atualizado: 14/08/2008 14:21
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: Sem "a"
É um auto retrato muito bem feito, o tempo nunca é perdido, é vivido de formas diferentes.
Gostei de ler, parabéns.

bj


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/08/2008 14:25  Atualizado: 14/08/2008 14:25
 Re: Sem "a"
Realmente poeta, não vi nenhum "a" no seu poema. Talvez o tempo que ficou perdido, está com o "a" que vc não colocou nele...rs...bjo.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/08/2008 15:34  Atualizado: 14/08/2008 15:34
 Re: Sem "a"
Primeiro não consegui dizer um "A", pois nenhuma havia para ser lido no poema.Depois embarquei na introspecção do texto e refleti sobre meus próprias sentimentos através das tuas palavras.
Bjins, Betha.


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 25/08/2008 16:22  Atualizado: 25/08/2008 16:22
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3560
 Re: Sem "a"
O tempo, com a sua arquitectura de gozo vital, é um edificio que se pode chamar " lugar de nunca mais". À medida que a vida transcorre, as imagens fisicas e psíquicas perdem a sua presença porque já não estão nos olhos que um dia as viram e ninguém nunca vê as mesmas imagens com os mesmos olhos...é o constante mito de Phoenix (simbolo da própria vida gravado na fachada do edificio).

Beijo*