Crónicas : 

AS MEMÓRIAS DO CHEFE

 
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Decorria o ano de 1964, quando por Despacho do Governador-geral, era nomeado Adjunto de Administrador de Posto.
Foi estagiar para a Secretaria-geral do Governo Civil da Huila, tomou posse do cargo...assinou a famosa Declaração, confirmando o seu repúdio ao comunismo, ao socialismo, jurando cumprir com fidelidade e lealdade todas as funções inerentes ao cargo...
Ainda se lembra de lhe terem posto na frente um exemplar do Jornal da Huila, contendo apenas os artigos de “opinião”, despido de publicidade e informações circunstanciais, para que lesse tudo e dissesse se haveria ali algo que atentasse contra a moral pública, os bons costumes ou os interesses superiores da nação.
Foi o seu primeiro contacto com a “Censura”, mas como não descobria nada que devesse ser cortado, passou o referido jornal para a secretária do Intendente, que era o “vice-governador”.
Daí a uns minutos era ele chamado ao gabinete e iniciado na arte de usar o famoso lápis azul...
Duraram poucos dias estas funções. A sua presença ali era transitória, e a nomeação interina.
Mais um Despacho envia-o para a fronteira Sul de Angola, onde o Rio Cunene se precipita no abismo e forma as Cataratas do Ruacaná.

É aqui que Angola acaba e a Namíbia começa...
Naquele tempo era o “ Sudoeste-Africano”.
Um dia teve o privilégio de servir de cicerone e guia ao Cineasta Perdigão Queiroga, que ali se deslocou ao Serviço da “União Nacional” para efectuar uma reportagem sobre o Colonato do Chitado.
Teve, mais tarde, a sorte de ver a sua reportagem, num dos documentários que era obrigatório passar nas salas de cinema.

Quem vivia isolado no mato, tinha que providenciar a sua subsistência, caçando nas savanas e pescando nos rios.

Certo dia, vagueavam pelo Rio Cunene, num barco artesanal, onde haviam instalado um motor de fora de bordo que se avariou. O barquito ficou à deriva e ia ao sabor da corrente caminhando para uns rápidos, roçando pedras e caniçais, onde se adivinhava a presença de jacarés...
Foi então que o Chefe perguntou se o Adjunto sabia nadar...
A resposta não poderia ser mais elucidativa da perigosa situação:
“Eu sei nadar! Mas não sei comer jacarés”

Valera-lhes um Cipaio dedicado, que com uma vara comprida, os ajudara atingir a margem angolana do rio.



José Mota

 
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PoetaSenior
 
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