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Histórias de Camacupa e outras paragens da vida (2º Episódio)

 
Se fosse hoje tinha tido provavelmente um deficit de atenção com hiperactividade. Sei apenas que fiquei sem reacção, fechado em casa dois dias sem sair, gritando que “não queria ser grande”, que “não queria ir à tropa”. Não queria ser adulto. Penso que se terá resolvido pela segurança que os meus pais me davam e também porque em crianças depressa substituímos uns traumas por outros e assim vamos crescendo. Depressa ia outra vez a caminho da escola. Uma escola de brancos e negros que lembro como branquinha, pequena mas limpa. Ainda hoje na minha escola evoco com frequência o cheiro a giz e a cadernos. Havia muitos fins-de-semana em que havia futebol. Era assim o acontecimento da semana. Tinha um bichinho colocado nalgum local do meu corpo pelo meu pai que era o treinador da equipa – Até foram campeões. Ia também aos treinos até ao dia em que me armei em grande e num daqueles livres directos levei com uma bola em cheio na cara. Estão a ver… Berrei um pouco, mas não voltei muitas vezes aos treinos. Voltando à escola… Estão a ver-me de bata branca, pasta laranja florescente, vaidoso. Esta bata e a pasta foram a minha desgraça quando voltei à Metrópole. Eram muito à frente para a época. Alvo de gozo e chacota tive que voltar para casa. Cá já ninguém usava bata na escola – fruto da revolução. Embora a pasta viesse recheada de livros que cá ainda nem existiam. Preguei-lhes uma partida e fiz a 3ª e a 4ª Classe no mesmo ano. Voltando a Camacupa… Domingo era dia de missa. Eu e o meu irmão íamos com uma vizinha. Às vezes, depois da missa ela ia namorar com o Beto Maneco e arrastava-nos com ela. O Beto tinha um daqueles jeeps descapotáveis e nós íamos sentados atrás. Entre muitas histórias lembro uma em que ao passar a linha férrea, após o solavanco, o meu irmão ficou sentado na picada após uma cambalhota. Só visto… (continua)
 
Autor
Raul Cordeiro
 
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