Poeta de lata...Boeta do Bairro
Sou do bairro
bairro de lata e lamentações
bairro com cheiro pobre
hummm...que bom senti-lo
Sou da zona do areal batido
barro molhado com cheiro de chuva
onde a criança engatinha no lamaçal
e os velhos
contam histórias de embalar
a volta da fogueira com fome de lenhas
Sou poeta da gente
que rabisca no papel usado
que usa palavra orfão de dicionário
e foge das rimas
como candengue magrinho de tronco nú
que foge do banho
Sou poeta sem analise
poeta do escuro, sem kumbu*
poeta rico de insultos e econcorajamento de hipocritas...
Sou poeta sem liceu nem mestrado
sou poeta analfabeto sortudo
com dádiva de escrita nos dedos
que não te obriga a ler o que escreve
poeta do bairro com cheiro de pobre
hummm...que bom senti-lo
*Dinheiro
Louco Imaginário
pisado
farrapo
acabado
Verme
sou
meu precioso dom
nada de bom
Esfomeado
mendigo
trajado
de nada
Olhos
sem oasis
labios
doces com vento
estomago
cheio de vazio
sonhador
sem
sonhos
pensador
louco
imaginário
Musseques...Suburbios
Musseques...Suburbios
Terra natal, banda dos povos, onde o mujimbo não faz-se, vive-se...
de manhã os garlas dormem e de noite trabalham, mas aqui não há industrias...daqui saiem talentosos mas tambem apodrecem sonhadores...há alambamentos e casamentos a maneira...aqui abandonam a rádio na hora do floreado de promessas pois que muitos cá morreram na espera, aqui as casas de adobe e pau-a-pique não têm porta dos fundos, logo a prostituição da cassula começa na porta da frente assim que chega o primeiro Santafé comprado com o dinheiro da burla no Dubai...Aiuê!
No suburbio emprego é miragem, cunangar é arte para muitos, e as esposas suportam o sustento nas corridas da zunga dos congoleses e do São Paulo...aqui o comércio do ópio dos novos tempos já fez raizes e se agiganta, viciados, coitados e desgraçados investem a vida num suicidio a curto prazo, chupando qualquer merda que lhe altere o estado e os faça voar no inexistivel, porque é ali aonde conseguem sentir-se importantes por eles mesmos...aqui tem marido que mata a balazio por ciume e por briga de jantar... e esposas que repostam escortejando orgãos genitais a facadas e torrando os peitos grandes da rival com água quente...aqui o sida já até parece doação, e corre na velocidade do vento e da água da chuva que rola no tecto de zinco mal arranjado que convida a água a inundar os pouquissimos e sofridos bens do patriota dos 50, rebentado a sonhar com pensão do combate que lhe levou o braço direito ali aonde a kitota estava quente...no Bié...
Aqui não há canalização...gás é na cabeça e água no tanque infectado do vizinho Seba ganancioso que despacha vinte litros a 50 kz...Suburbio...aqui após a maka entre vizinhos quem se queixar primeiro na divisão ganhou razão...Mas aprende-se a gostar deste filme pouco simpatico para quem nasceu em frutas e caracois...esta no sangue...esta dentro de nós...saiste e hoje estas no asfalto, quem sabe até em condominios fechados...mas o gueto sempre será parte da tua vida...foi ele que te ofereceu as luzes da ribalta...
Aiuê!
O Bairro
Já canta o galo, desperta cedo o miudo de troco as riscas com as costelas timbradas na pele desnutrida; acende o tabaco a velha de catete viciada no fumo, apressa o passo para a paragem o pai operário, arrisca a vida na madrugada a mãe quitandeira a procura do ganha pão...e nós as crias ainda sobre os panos inundados de mijo mostramos no rosto as sequelas da fome que jantada na noite mal durmida, a discussão entre as fofoqueiras da area começa cedo, a estas horas o assaltante já se rendeu as cordas do vizinho mais rude...o sabor do cheiro da comida de ontem que queima por baixo na panela bibiana já enche o estomago de quem passa pelo beco do vizinho...os cunangas armam-se, dos trocados roubados do avental da esposa que sofre na zunga serão adquiridos calices a transbordar de kapuka e kimbombo para esquecer as malambas da vida...e assim vai o bairro, assim vivem os povos do bairro do poeta analfabeto!