SONETO AO AMOR
Dos teus olhos negros extraio
a beleza e a delicadeza tuas,
quando nesses braços eu caio,
até que a divindade me possua.
Dos teus lábios doces eu provo
o néctar que dali delicioso jorra,
e mais uma vez eu comprovo,
que o teu amor é a maior prova.
Das tuas faces serenas emana
uma sinceridade tão leve,
que é a qualidade de quem ama.
Das tuas mãos suaves percebe
um doce roçar que me apaixona,
e uma felicidade me toma breve.
2.007
DELICADEZA
Deixe o meu sonho
Perambular docemente,
Pelas vagas solitárias
Preenchendo o presente.
Deixe o meu sono
Transitar suavemente
Tal qual um penacho
Da ave desprendente.
Deixe o meu gesto
Ficar em protesto,
Pelas mãos vazias.
Deixe o meu beijo
Pairar pelo teu desejo
Nessas noites frias.
2.011
MADRIGAIS
Eu tenho a pena em minhas mãos,
O dom poético ao meu favor,
A vontade imensa de escrever,
E a natureza transbordando esplendor.
Eu tenho o chilrear dos pássaros,
A mente aberta ao sonho,
Ao domínio seguro do verso,
Que aos poucos eu componho.
Eu tenho a beleza dos campos,
A companhia grata da inspiração.
A pureza dos anos sofridos,
E o estilo da minha composição.
Eu tenho a pena sobre o branco do papel,
O pensamento cria imagens de que preciso,
As palavras surgem rápidas, incontroladas,
E sem demora nasce o verso conciso.
Eu tenho as sensações no ser,
A vontade de exprimir e definir tudo,
A tendência dos madrigais de outrora,
E a força das rimas que me serve de escudo.
1.980
ASSOMBRO
É com tal assombro
que te toco o ombro,
a espádua branca e bela.
É com tal interesse
quanto mais me apresse
frente à tua janela.
É com tal lentidão
que te osculo a mão,
o braço e os dedos.
É com tal tristeza
que te cobro a esperteza,
com dedicação te concedo.
É com tal alvoroço
que te retiro do poço
ou de quaisquer assombros.
É com tal artifício
que te ofereço o prestígio,
no espaldar do meu ombro.
É com tal descaso
que te fabrico o vaso,
com que plantas a flor.
É com tal retidão
que te prometo no coração,
a grandeza do meu amor.
1.999
INQUIETAÇÕES
De todas as dores,
que espalham dissabores,
há uma que me assusta:
o significado escasso
das dores que passo
e que tanto me custa.
De todos os desgostos,
que te queimam o rosto,
há um que me comove:
o vilipêndio da afronta,
que te deixa tonta,
que na estiagem não chove.
De todos os males
que te inculcam os olhares,
há um que me sobressalta:
a congênita desfaçatez,
que tem te tirado a vez
do sonho que te falta.
De todas mentiras,
que ainda não retiras,
há uma que domina:
a insensatez covarde,
que na tua pele arde,
feito fogo que ilumina.
1.999
SILÊNCIO INTERIOR
Quando senti esse teu sublime silêncio,
Que provém das entranhas de teu ser,
Cresceu também o meu silêncio exterior,
E aprofundei-me nessa lição que desejava conhecer.
Oh! Como é belo e imáculo teu interior!
E sabe transmitir essa tua prece inabalada!
Pois sabes a grandeza que teus gestos inspiram,
E conheces a virtude que a tua paz traz anunciada!
Levantes os teus olhos puros e solenes,
E contemples a imensidão de teu amor,
Surtir a graça nos seres que te proclama extasiados.
Desse teu gesto silencioso desprende o amor,
Nascido da pureza infinita do teu íntimo,
E da nobreza de teus olhos e prece preconizados
1.980
AUSÊNCIA
Sentir tua falta,
É sentir o vazio,
Do medo, do calafrio,
Que se apossam de mim.
Sentir tua ausência,
É sentir o vago,
Do tropeço, do engasgo,
Que não têm fim.
Sentir tua distância,
É sentir o nada,
O escabroso, a derrocada,
O sofrimento total.
Sentir teu partir,
É sentir menosprezado,
Incapaz, tomado,
De todo esse mal.
2.011