DESEJO
DESEJO
Hoje só quero teu beijo devagar
Terno, pacientemente no sossego de íntimos lábios
Num tempo criado por nós...
Apenas assistido por quietas paredes
Mergulhadas na cumplicidade de uma parca luz
Quero o carinho da tua mão na minha,
O suave entrelaçar dos teus dedos aos meus
Sentir o pulsar do teu coração no meu peito
Num abraço demorado,
Feito eterno neste momento...
Hoje te quero mais um pouco que outros dias,
Num desejo apressado, mas num encontro preguiçoso
Sem demoras em te sentir, em te amar...
Quero junto a ti respirar fragrâncias
Que emanam do fim das madrugadas
O cheiro matinal dos verdes quintais
Que sentimos no abrir das janelas...
Assistir no laço de um abraço os primeiros raios de sol
Que atravessam as gotas de orvalho quais diamantes
Apreciar as últimas flores de verão
Perderem suas efêmeras pétalas num vento displicente
Anunciando assim as tristes folhas de outono
Quero o adormecer de criança
No teu peito abrigo
Ouvir tuas histórias, em sorrisos... Em sussurros...
Ou colher tuas lágrimas da emoção incontida
Quero procrastinar contigo, porque já corremos tanto...
Desejo descansar no teu sono,
Sorver tua paz mesmo no barulho da tempestade
Fazer acontecer o que os sonhos antigos guardavam
Calar pra ouvir teus olhos falarem aos meus.
Atravessando minhas retinas, invadindo minha alma...
Hoje quero todos os amanhãs ao teu lado
E não mais um minuto sequer...
EFEITOS COLATERAIS DO AMOR
EFEITOS COLATERAIS DO AMOR
Ahhh o amor...
Violentamente manso
Chega e ocupa todos os cantos
Difícil crer que amar fosse isso
A emoção absurda, faminta, escancarada...
E então vem a invasão de um desassossego bom
Amor...
Arrasando o óbvio, o costumeiro,
Amolecendo o juízo...
O amor vem em curvas, displicente até
Sim, o amor vem rodeando, peçonhento
Nada certo ou calculado, ou mesmo planejado.
E quando menos se espera: vem o bote!
Domina devagar, cresce qual erva adubada
Que nem trepadeira em arames
E vem, chega posseiro, cheio de bagagens,
Porque nunca é breve,
O amor ou fica e te enche o mundo de purpurina
Ou faz um estrago que anos não se repara.
Descompassando literalmente o coração,
Com seus arranhões, ou cócegas, te faz um bem enorme ou fere sem dó.
Mistura de conforto e tormenta ao mesmo tempo
Aquece com uma paz que inquieta a alma
Capaz de mudar o rumo, quem se é, até quem se foi...
Faz brotar pelos olhos o sentir delicado, a entrega de si
Quando chega no peito, instala-se um nó ou um laço...
Não sei...
No efeito inebriante,
Brinca com os pensamentos
E refaz as cenas da memória dezenas de vezes, construindo sonhos...
O amor te faz mais apurado, intensifica o observar,
Mas também te desconecta do mundo
O sábio age como tolo, e os tolos sempre amam...
E tudo fica mais poesia, sons, cores...
sabores, sorrisos, gestos, estações...
Prioriza tudo que se sente,
Revira do avesso e dobra os espaços...
Amor....
Que loucura!!!!!
Não há Darwin que teorize ou encontre o elo da sua evolução.
Inexplicável, indecifrável, indestrutível...
... coisa de Deus!
Talvez não seja nada disso...
PONTE
PONTE
Guardei na memória
As curvas do teu sorriso
Brindando nosso encontro
E quando dói a solidão na alma
Viajo nas ternas lembranças
Temperadas com lágrimas
Uma chaga zombeteira
Corrói por dentro
E rasga, dilacera e escarnece.
E temo te perder de vez
Dentro de mim
Onde estará a ponte
Sobre este mar em tormenta?
Em passos audazes
Em desejos intensos
Fazer os sonhos serem reais
E sentir na ponta dos dedos,
Uma última vez.... tu.
ELETROCARDIOGRAMA
Eletrocardiograma
Quando bem garotinha
Percebi no aflorar dos sentimentos
que meu coração parecia ter mãos
Às vezes, elas tocavam a realidade
E a realidade era muito confusa
assustava e fazia doer algo dentro
Eu então escondia a dor, "engolia" o choro
E ninguém se importava
Ignorei quase sempre o mundo real
Crendo mais no que meu coração inventava
O que ele sentia tão intenso
Com suas inocentes mãos
Capazes de criar um mundo particular
Nos galhos da goiabeira, nos cadernos,
Em lápis de cor, tampinhas, caixas ou livros
Nos retalhos de tecidos ou em alguma canção
Distante do mundo real, tão indiferente
Guardo este segredo
Esse lugar dentro de mim
Onde existe uma criança descalça
Com cabelos desgrenhados
Joelhos ralados e unhas sujas
Que observa formigas em filas
Desvira besouros pretos
Perde as horas em viagens no pensamento
Tão vívidas e infinitas
Uma sina em ter esse coração Ingênuo
capaz de tocar e amar simplesmente,
Que ainda se assusta
Que se machuca por vezes,
Espanta por coisas que outros ignoram
Que leva a sério o que acham bobagens
E no peito escondido
Esse coração abafado
Prefere não crescer.
Pensei em muitas pessoas quando escrevi esse texto. Mas Carlos Correa, esse é pra você, que tem um coração de criança e cheio de fé.
GERMINAR
Meu coração é semente
Que no teu ser
Encontra perfeito solo
Finca raízes profundas
Bebe o veio úmido
Cria em mim doce seiva
Onde ao morno alvorecer
De rosadas manhãs
Broto flor, fresca
Para te fazer sorrir.
CARTA A UM AMIGO
Carta a um amigo,
Quero dizer que precisamos acabar com essa amizade.
Você me faz chorar demais.
Aflora minha emoção e me tira sonhos que eu já tinha sepultado.
Por favor se afaste de mim.
Pare de borrar minha maquiagem.
Há muito eu tinha conseguido manter a cara limpa.
A boca calada das palavras que os outros não queriam ouvir.
Que coisa cruel essa amizade com você que me lembra minha insanidade.
Que me fez lembrar que os lilases são meus preferidos.
Que saudade tem sabor de chá no inverno.
Que a vida não deve ser tão séria.
Já tinha esquecido tudo isso.
Agora você vem tomando meu espaço
Invadindo minha cabeça
Minhas horas, minhas expectativas
Não vou me enganar mais uma vez.
Muito cruel me inundar com tanta poesia, traços, cores e música.
Vem derrubando meus muros, minhas fronteiras,
Descobrindo meus desejos
Escrevendo novos capítulos
Sim, difícil continuar isso
Difícil acompanhar o voo das tuas asas
Então finja que eu sou desenho. E use a borracha se quiser.
Não quero gente caçando corações em pedras, nuvens, bolhas de sabão.
Já me basta o meu tão grande, tão apertado que chega a sair pelos poros.
Há alguns meses, alguém surgiu na minha vida e trouxe uma bagagem enorme de presentes para o meu coração.
Essa carta escrevi nos primeiros contatos que tivemos.
Ele é pura emoção, um designer maravilhoso, poeta, ilustrador fantástico!
Foi tanta coisa que vi, ouvi, toquei, que me fizeram rir, chorar, transcender. Viajei pra outros mundos, apreciei novos sons e expandi meu conhecimento quanto a poesia.
Esse encontro foi como uma viagem numa montanha russa, cheia de loopings. Por vezes o carro subia devagar os trilhos e de repente ele descia veloz trazendo todo arrepio na espinha. Mas o passeio nesse brinquedo fez o percurso e terminou. Descemos dos vagões e ele se foi...
Tenho um coração cheio de gratidão por ele. E onde estiver ele saberá que me fez sorrir.
Dedicado a você S.Ribeiro.
Créditos da imagem S. Ribeiro.
RETICÊNCIAS...
Nossa história pontuada,
No seu ritmo.
Um enredo sendo escrito, ainda sem final
Somos reticências...
Eu e você somos isso.
Sempre fomos desde o primeiro contato
Três pontinhos e nenhum deles querem ser o ponto final
Recusam-se.
Cada dia as reticências estão lá...
Como se não aceitassem a conclusão
Há tanto pra saber de você e tanto pra contar de mim
Que o único ponto não se permite grafar.
E as reticências avisam o caminhar da história,
Essa nossa, que não quer terminar, que anseia saber mais
Aprender mais um do outro,
Do nosso dia, do nosso trabalho, até dos nossos tropeços.
E nos alimentamos um do outro, do capítulo novo
Em admirações e suspiros que soltamos em tantas bobagens
Contrariando a opinião do resto do mundo
Porque não entendem nadinha do que queremos
Somos reticências, eu e você
Encantados com a aurora porque é vida que nasce todo dia
Luz da manhã, pontuada com muita reticência...
Com a cabeça ligada na espera, no novo
Não permitindo um fim.
Porque dar um ponto final é inaceitável
Para essa vontade que habita em nós
Ainda não ficamos prontos
Ainda estamos inacabados
Buscando um no outro o que alimenta a paixão
Que alavanca esse tanto querer
Somos reticências,
Esperando sonhos virarem realidade
Acreditando que algo ainda continua
Que essa história ainda não tem um fim...
Esse poema foi inspirado no poema Adoro Reticências, de autoria de Marina Esméria Ramos. http://odeter.blogspot.com/2012/12/adoro-reticencias.html
APENAS LEMBRANÇAS
APENAS LEMBRANÇAS
Era uma casa com risos de crianças
O burburinho delas enchia o ar
Havia vida ali, hoje entendo...
O cheiro do bolo a sair do forno
Excitava o alvoroço do paladar
E vinham correndo de olhos brilhantes
Como pássaros no sol da manhã
E nesta pureza pueril,
Vi minhas sementes irem soltas ao vento
Criando raízes em outros sítios
Em terras distantes
Em estradas sem retornos
O perfume do bolo ainda vaga minhas lembranças
O som do riso...
Um tempo de paz.
Hoje resta o burburinho do meu pranto
Num coração cheio de saudade
Daqueles que pra sempre se foram.
VERDADEIRAMENTE, TE AMEI
Verdadeiramente, te amei.
De um amor enorme fiz meu castelo
Sonhos, desejos e sensações nunca antes satisfeitas.
Fiz planos, viajei em devaneios, ri do absurdo.
Acreditei no amor que pulsava o coração, invadia minha mente, roubava sanidade.
Desse amor fiz nosso momento, fiz uma vida inteira.
Mas, que não veio, mesmo insistindo, lutando..., não veio.
E fui obrigada e surrada pela certeza deste impossível querer.
Amei-te neste castelo de paz, um amor suave, doce, extasiante,
Mas nunca provado de verdade, livre totalmente.
Sim, te amei, ternamente, profundamente e unicamente.
Num espaço nunca antes adentrado, ficamos nós e nossa solidão.
Num vácuo inexplorado, somente a vontade de nos ter, completamente nos ter.
Os segundos a nós dados, apenas deixaram lágrimas e certezas.
Coração dilacerado, ruído, em migalhas, cansou-se de acreditar.
Sofrimento que selou o tempo perdido.
Mas restou-me a certeza, mesmo diante do sofrer, do esperar, do inútil esperar.
Que te amei, muito te amei e que te amei...
AVIVANDO
AVIVANDO
Hoje avistei pássaros na árvore do quintal.
Faziam barulho e as folhas balançavam.
Caíram muitas pela grama.
Bateu uma onda de felicidade...
Acho que estavam se amando.
O trepidar que faziam entre as folhas, dizia-me: estamos vivendo...
Sorri.
Acho que invejei os pássaros...
... seu canto, sua alegria, suas asas....