ALGUMAS COISAS POR AÍ
Alguma coisa brilha
No céu da Nicarágua
Um bêbado na noite
Dorme numa poça d'agua
Um velho sentado na praça
Conta os dias de trabalho
Um malandro num boteco
Embaralha seu baralho
Alguma coisa invade
Os céus da Guatemala
Estudantes se misturam
Ao partido dos canalhas
À rua longa sem travessa
Anda um magro vagabundo
Placas nas mãos de meninos
Gritam pela paz no mundo
Alguma coisa boa
Na rua longa sem travessa
O velho sentado na praça
Não parece estar com pressa
(No céu da minha terra linda
brilha a lua, só a lua...
Meninos debruços nas janelas
Brincam com pingos da chuva)
Alguma dor soa latina
Na voz de um cidadão chileno
Num muro branco de revolta
Debate o mar em seu rebento
A brisa quente cora o rosto
Da mulher que torce roupas
Esquadrilhas da Fumaça
Nos céus desenham coisas loucas
Alguma coisa conseguida
Na volta de uma náu pesqueira
Um velho caçador de pedras
Acha ouro na peneira
O sol flerta a menina
Na porta de uma residencia
Uma placa diz:
"Se Necesita Persona con experiencia"
Alguma coisa ainda é bela
Após o calmo despertar
Os olhos logo se habituam
Identificam o lugar
O gato brinca com novelos
A porta se abre pra mostrar
Alguma coisa brasileira
Dá vontade de voltar.
AMOR DA MINHA VIDA
AMOR DA MINHA VIDA
Eh! amor da minha vida
Paixão eterna e descabida
Que a aurora do vale perfuma e avisa
Que é manhã no campo, e nova
Que é hora de correr pra te ver
Eh! amor do meu mundo
Que a vida preciosa nos segundos
Me doa tantos momentos de prazer
Pra eu te olhar, estremecer
Desmanchar em paixão
Desacordar e renascer
Como posso,
Pequenino que sou
Compromissado com a lua e o vento
Só mais um filho de Deus
Integrante do tempo
Ser assim tão especial?
Por ter a luz celestial
Me dado de presente, sua presença
Seu espírito e semelhança do sêr
Se em tantas pessoas do mundo
Repousava um ideal
A te merecer mais do que eu
Ah' esse seu colo de fada
Seus olhos de luz
Essa fala pausada, seus beijos de mel
Pois são verdadeiros
E verdadeiramente são meus?
Eh' amor da minha vida
Vou correndo pra ti
E rezando pra que Deus nunca me falte
Para quando em seus braços estiver
E dormir de carinho
Não sofra um enfarte
Só sonhe um sonhinho,
Bem quietinho
Que é pra não desertar o quentinho
E não sossegar o prazer
E a delícia divina
Que é amar voce.
VOCÊ EM POESIA
A poesia que escrevo te descreve
Te percebe, e te traduz
Te refere, te enaltece e te conduz
A poesia que escrevo te desenha
Te contorna, e te possui
E nessa rosa
Que em ti desenho
Que em ti enfeita
São minhas frases
Que eu não tenho
A poesia que escrevo te descreve
Te enaltece, e te eternece
Tudo o que é belo
É a palavra do teu sêr
E quanto mais meus anseios
Se intrometem em suas linhas
Mais te descubro
Descubro outros mundos
Outras fantasias
Outro dia, outro mês
Descubro nova moradia
Descubro voce
Numa nova poesia
Outra vez
SONHO NAVEGANTE
SONHO NAVEGANTE
Um sonho que em mim navega
Tem a luz da nuvem branca
O som do pinho na varanda
As formas da constelação
Motivando o coração
Motivando a esperança
Um lugar que me conforta
Em seus braços de cuidados
Onde estão minhas raízes
E meus pés pisam descalços
Onde brincam na areia
Meu cachorro e meu cavalo
Como do bom e do melhor
Margeando um belo lago
Onde deito em minha rêde
E medito com antigos
Onde mato a minha sêde
E a sêde dos meus amigos
Em perfume de essências
Entonteia o pensamento
Perfume da pele da morena
Que dança e adorna ao relento
E nos seus lábios de sossêgo
Aconchego os meus tormentos
Ancoro o barco do meu sonho
No cáis do seu sentimento.
CIGANO
Ah', meu amor
Vou embora
Eu não posso dedicar
O meu sentimento
E não posso viver de um momento
Sou a ave a voar com o vento
No ar, no ar.
Ah', o amanhecer virá do nada
Ou da carona lá na beira da estrada
A passarada, o rio e a mata
Já me disseram
É o momento de partir
Ah', eu só lamento por voce
Mas este jeito, é o meu jeito de viver
Vou embora nessa brisa a me chamar
Eu nasci prá ser amado
E não amar.
MESMA
MESMA
É possível a noite, o dia, a vida
É possível o tempo, a busca, o sonho
E ao poeta que escreve
É possível a pergunta
E ao artista que pinta
E sopresa suas loucuras
Transmudadas de cores
É possível a dúvida
E dividir a nuança das tintas
Por a nú seus propósitos
É possível dualidade
E ao homem que ama
E canta seu amor contundente
Aos homens frios
E aos pobres de sentimento, seu sentimento
A pergunta será sempre
A resposta
E da mulher que encanta
Aos quatros sopros do vento
Num vú colorido
Direi ao perguntante:
Não é pergunta
Não é resposta
Não é entendimento
Tudo é possível
Até um arco-íris num céu de estrelas
A mulher.
Ah' esse mito
Talves seja possível entendê-la
Mesmo que um dia
A pergunta
A resposta
Seja ela
M ulher
E xpressão de
S entimento
M aior do
A mor.
ATLANTICOS
Eu insinuo acertar um rumo
E retomar o prumo tão penso da minha vida
Imaginar-me mágico
Tornar-me o Prático de meus navios
E a todos eles ancorar
Meu coração ainda navega romantico
Ainda que tarde, ainda que errante
Percorre oceanos
Todos Atlânticos
E entre céus e mares
Reencontra a noite, o dia
As linhas de um corpo que é o seu
Pois ainda que longe
Traz calor ao meu
Eu insinuo mudar meus olhos
Dos olhos de quem encontro
Buscar um insinuar de seus olhos
E se em vão,
Ao menos provar um sabor
Mais doce de pranto
E se quase te percebo
Envolta em brisa, em vento
É por que te procuro
Procuro seu vulto, seus olhos, seu corpo
Que se insinua e dança
O tempo todo pra mim.
(A figura do prático existe há mais de 600 anos. O prático é um especialista em determinado porto, onde conhece as marés, correntezas e profundidades. Os navios aguardam o prático em águas seguras; ele chega de lancha e conduz todas as manobras de entrada e saída no porto. Em sua profissão os instrumentos eletrônicos quase não ajudam: até hoje o prático se guia pelos olhos e ouvidos - mesmo à noite).
DIGNE-SE
Meu país urbano
Decido pelas mãos
De alguns intrusos
Um elo de corrente
E corações batendo juntos
É um desafio!
As vezes
Viver de restos urbanos
É a opção dos seres humanos
De segunda mão
Do terceiro mundo
É um desafio!
Desmoralizado sistema
Tão já viciado
Do mesmo emblema
Gaviões preparados
Pousando ou pousados
Num pobre avião
A nave abutre
A mão da nação
Desmancha prazeres
Praça dos Poderes
O caro sem graça
O barato na praça
Vendido a preço
De moeda verde
Injusta batalha!
Diário de bordo
Colunas fantásticas
Eu quero um postal
Dos alpes do Alaska
A imagem real da ilusão
Gerada num vídeo
De televisão
Por um satélite
De transmissão
Mulheres no ringue
Com luvas de boxe
Receitas de doce
E filhos no mundo
Cidade urbana
Que gera o consumo
Das vidas humanas
Esgoto profundo
Digne-se!
CAMINHOS
Na solidão do asfalto
Chuto tampinhas
Mãos nos bolsos
Roupa negra
"Carlitos nú"
Nua indiferença
Do vento na mata
Folhas sêcas
Correm e param
Incessantemente barulhentas
A infinita estrada reta
O horizonte longíncuo
Silêncio e ruidos
Inter-valados
O tempo não passa
Os passos do tempo se arrastam
O sol castiga
Ora quente, ora vibrante
Exala mirangens do chão negro
Caminhos sem direção
Travessas sem placas, sem luzes
A tarde à dentro, adentro
Atento desfechar do dia
Sem luzes de cruzes no céu
Recuso roubar estrelas, a vida
Afora o tempo
À fora os anos
À forra o sentimento
Não tem sentido
Sentido de tormento
Roubo a mim
Os olhos brilham
A noite escura e fôsca
O céu negro está agora fiel
Com os céus da memória
O espírito levita
O corpo evita o contato da morte
Fraco e tonto, caminho
Caminhos já tortos, tropeços
Os olhos embaçam
As luzes me faltam
Inúteis luzes
Inúteis caminhos
Inúteis todos.
(leia também de minha autoria "Caminhos à Vida"
DE QUÊ
Há tanto espaço lá fora
Perdido na memória
De embolar horrendo
Um trem partindo
Um velho rindo
Um anoitecer fervendo
Há a nossa história
O que existe agora
Um edital do tempo
Um chegar nascendo
Um lugar vivendo
Um partir morrendo
Há tanto espaço lá fora
Há a nossa história
Uma vida em têrmos
Há um velho rindo
De quê?