Poemas, frases e mensagens de Daniel Flosino Lopes

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Daniel Flosino Lopes

ALGUMAS COISAS POR AÍ

 
                ALGUMAS COISAS POR AÍ
 
Alguma coisa brilha
No céu da Nicarágua
Um bêbado na noite
Dorme numa poça d'agua

Um velho sentado na praça
Conta os dias de trabalho
Um malandro num boteco
Embaralha seu baralho

Alguma coisa invade
Os céus da Guatemala
Estudantes se misturam
Ao partido dos canalhas

À rua longa sem travessa
Anda um magro vagabundo
Placas nas mãos de meninos
Gritam pela paz no mundo

Alguma coisa boa
Na rua longa sem travessa
O velho sentado na praça
Não parece estar com pressa

(No céu da minha terra linda
brilha a lua, só a lua...
Meninos debruços nas janelas
Brincam com pingos da chuva)

Alguma dor soa latina
Na voz de um cidadão chileno
Num muro branco de revolta
Debate o mar em seu rebento

A brisa quente cora o rosto
Da mulher que torce roupas
Esquadrilhas da Fumaça
Nos céus desenham coisas loucas

Alguma coisa conseguida
Na volta de uma náu pesqueira
Um velho caçador de pedras
Acha ouro na peneira

O sol flerta a menina
Na porta de uma residencia
Uma placa diz:
"Se Necesita Persona con experiencia"

Alguma coisa ainda é bela
Após o calmo despertar
Os olhos logo se habituam
Identificam o lugar

O gato brinca com novelos
A porta se abre pra mostrar
Alguma coisa brasileira
Dá vontade de voltar.
 
                ALGUMAS COISAS POR AÍ

AMOR DA MINHA VIDA

 
AMOR DA MINHA VIDA
 
AMOR DA MINHA VIDA

Eh! amor da minha vida
Paixão eterna e descabida
Que a aurora do vale perfuma e avisa
Que é manhã no campo, e nova
Que é hora de correr pra te ver

Eh! amor do meu mundo
Que a vida preciosa nos segundos
Me doa tantos momentos de prazer
Pra eu te olhar, estremecer
Desmanchar em paixão
Desacordar e renascer

Como posso,
Pequenino que sou
Compromissado com a lua e o vento
Só mais um filho de Deus
Integrante do tempo
Ser assim tão especial?

Por ter a luz celestial
Me dado de presente, sua presença
Seu espírito e semelhança do sêr

Se em tantas pessoas do mundo
Repousava um ideal
A te merecer mais do que eu

Ah' esse seu colo de fada
Seus olhos de luz
Essa fala pausada, seus beijos de mel
Pois são verdadeiros
E verdadeiramente são meus?

Eh' amor da minha vida
Vou correndo pra ti
E rezando pra que Deus nunca me falte
Para quando em seus braços estiver
E dormir de carinho
Não sofra um enfarte

Só sonhe um sonhinho,
Bem quietinho
Que é pra não desertar o quentinho
E não sossegar o prazer

E a delícia divina
Que é amar voce.
 
AMOR DA MINHA VIDA

VOCÊ EM POESIA

 
VOCÊ EM POESIA
 
A poesia que escrevo te descreve
Te percebe, e te traduz
Te refere, te enaltece e te conduz

A poesia que escrevo te desenha
Te contorna, e te possui

E nessa rosa
Que em ti desenho
Que em ti enfeita
São minhas frases
Que eu não tenho

A poesia que escrevo te descreve
Te enaltece, e te eternece

Tudo o que é belo
É a palavra do teu sêr

E quanto mais meus anseios
Se intrometem em suas linhas

Mais te descubro
Descubro outros mundos
Outras fantasias
Outro dia, outro mês

Descubro nova moradia
Descubro voce
Numa nova poesia
Outra vez
 
VOCÊ EM POESIA

SONHO NAVEGANTE

 
SONHO NAVEGANTE
 
SONHO NAVEGANTE

Um sonho que em mim navega
Tem a luz da nuvem branca
O som do pinho na varanda
As formas da constelação
Motivando o coração
Motivando a esperança

Um lugar que me conforta
Em seus braços de cuidados
Onde estão minhas raízes
E meus pés pisam descalços

Onde brincam na areia
Meu cachorro e meu cavalo
Como do bom e do melhor
Margeando um belo lago

Onde deito em minha rêde
E medito com antigos
Onde mato a minha sêde
E a sêde dos meus amigos

Em perfume de essências
Entonteia o pensamento
Perfume da pele da morena
Que dança e adorna ao relento

E nos seus lábios de sossêgo
Aconchego os meus tormentos
Ancoro o barco do meu sonho
No cáis do seu sentimento.
 
SONHO NAVEGANTE

CIGANO

 
CIGANO
 
Ah', meu amor
Vou embora
Eu não posso dedicar
O meu sentimento
E não posso viver de um momento
Sou a ave a voar com o vento
No ar, no ar.

Ah', o amanhecer virá do nada
Ou da carona lá na beira da estrada
A passarada, o rio e a mata
Já me disseram
É o momento de partir

Ah', eu só lamento por voce
Mas este jeito, é o meu jeito de viver
Vou embora nessa brisa a me chamar
Eu nasci prá ser amado
E não amar.
 
CIGANO

MESMA

 
MESMA
 
MESMA

É possível a noite, o dia, a vida
É possível o tempo, a busca, o sonho

E ao poeta que escreve
É possível a pergunta

E ao artista que pinta
E sopresa suas loucuras
Transmudadas de cores
É possível a dúvida

E dividir a nuança das tintas
Por a nú seus propósitos
É possível dualidade

E ao homem que ama
E canta seu amor contundente
Aos homens frios
E aos pobres de sentimento, seu sentimento

A pergunta será sempre
A resposta

E da mulher que encanta
Aos quatros sopros do vento
Num vú colorido

Direi ao perguntante:
Não é pergunta
Não é resposta
Não é entendimento

Tudo é possível
Até um arco-íris num céu de estrelas

A mulher.
Ah' esse mito
Talves seja possível entendê-la

Mesmo que um dia
A pergunta
A resposta

Seja ela

M ulher
E xpressão de
S entimento
M aior do
A mor.
 
MESMA

ATLANTICOS

 
ATLANTICOS
 
Eu insinuo acertar um rumo
E retomar o prumo tão penso da minha vida

Imaginar-me mágico
Tornar-me o Prático de meus navios
E a todos eles ancorar

Meu coração ainda navega romantico
Ainda que tarde, ainda que errante
Percorre oceanos
Todos Atlânticos

E entre céus e mares
Reencontra a noite, o dia
As linhas de um corpo que é o seu
Pois ainda que longe
Traz calor ao meu

Eu insinuo mudar meus olhos
Dos olhos de quem encontro
Buscar um insinuar de seus olhos
E se em vão,
Ao menos provar um sabor
Mais doce de pranto

E se quase te percebo
Envolta em brisa, em vento
É por que te procuro
Procuro seu vulto, seus olhos, seu corpo
Que se insinua e dança
O tempo todo pra mim.

(A figura do prático existe há mais de 600 anos. O prático é um especialista em determinado porto, onde conhece as marés, correntezas e profundidades. Os navios aguardam o prático em águas seguras; ele chega de lancha e conduz todas as manobras de entrada e saída no porto. Em sua profissão os instrumentos eletrônicos quase não ajudam: até hoje o prático se guia pelos olhos e ouvidos - mesmo à noite).
 
ATLANTICOS

DIGNE-SE

 
DIGNE-SE
 
Meu país urbano
Decido pelas mãos
De alguns intrusos

Um elo de corrente
E corações batendo juntos
É um desafio!

As vezes
Viver de restos urbanos
É a opção dos seres humanos

De segunda mão
Do terceiro mundo
É um desafio!

Desmoralizado sistema
Tão já viciado
Do mesmo emblema

Gaviões preparados
Pousando ou pousados
Num pobre avião
A nave abutre
A mão da nação

Desmancha prazeres
Praça dos Poderes
O caro sem graça
O barato na praça
Vendido a preço
De moeda verde
Injusta batalha!

Diário de bordo
Colunas fantásticas
Eu quero um postal
Dos alpes do Alaska

A imagem real da ilusão
Gerada num vídeo
De televisão
Por um satélite
De transmissão

Mulheres no ringue
Com luvas de boxe
Receitas de doce
E filhos no mundo

Cidade urbana
Que gera o consumo
Das vidas humanas
Esgoto profundo
Digne-se!
 
DIGNE-SE

CAMINHOS

 
CAMINHOS
 
Na solidão do asfalto
Chuto tampinhas

Mãos nos bolsos
Roupa negra
"Carlitos nú"

Nua indiferença
Do vento na mata
Folhas sêcas
Correm e param
Incessantemente barulhentas

A infinita estrada reta
O horizonte longíncuo
Silêncio e ruidos
Inter-valados

O tempo não passa
Os passos do tempo se arrastam
O sol castiga
Ora quente, ora vibrante
Exala mirangens do chão negro

Caminhos sem direção
Travessas sem placas, sem luzes
A tarde à dentro, adentro
Atento desfechar do dia
Sem luzes de cruzes no céu
Recuso roubar estrelas, a vida

Afora o tempo
À fora os anos
À forra o sentimento
Não tem sentido
Sentido de tormento
Roubo a mim

Os olhos brilham
A noite escura e fôsca
O céu negro está agora fiel
Com os céus da memória

O espírito levita
O corpo evita o contato da morte
Fraco e tonto, caminho
Caminhos já tortos, tropeços

Os olhos embaçam
As luzes me faltam

Inúteis luzes
Inúteis caminhos
Inúteis todos.

(leia também de minha autoria "Caminhos à Vida"
 
CAMINHOS

DE QUÊ

 
DE QUÊ
 
Há tanto espaço lá fora
Perdido na memória
De embolar horrendo

Um trem partindo
Um velho rindo
Um anoitecer fervendo

Há a nossa história
O que existe agora
Um edital do tempo

Um chegar nascendo
Um lugar vivendo
Um partir morrendo

Há tanto espaço lá fora
Há a nossa história
Uma vida em têrmos

Há um velho rindo
De quê?
 
DE QUÊ

NON-SENSE

 
                         NON-SENSE
 
Manhã vinha
Brasil inteiro chovia
Meu corpo, meu grito zunia
Carne e osso na flôr da folia

A rudeza da raça, da força
Da garra, da era das máquinas
Na cama

Flagelo de noites
Que foram intactas
Castelos afora
Poesias de porre
De certos apuros
Paixão e surpresa

O cristal dos seus dentes
Seus olhos ardentes
De mel de pureza
Tão àvido brilho
De grande beleza

Do branco mais firme
Dos cisnes do filme
Suave, perfeito
Fiel realeza

Manhã é seu nome
Ou sexo, ou mistério,
Ou silêncio polido de brio
Um rosto inocente
Um jeito "non-sense"
Que a vida poliu

Possuir-te é sonho
Há algo por vir inesgotavelmente
Ansiosamente há algo beirando
Os porões da loucura
Espécie atenta
De certeza e agrura

Amar-te é um dom
É descobrir que a chuva
O mêdo e a vida
Tem sabor de folia
De paixão, de carnaval, de sol
Tempo inteiro.
 
                         NON-SENSE

CAMINHOS À VIDA

 
CAMINHOS À VIDA
 
Vê' ... corceis
Pontos na relva
Reconhece-os?
Brincalhões, singelas lanças

Que fazes se não danças
Se não foges. Cansa-te?
Intima tua alma
Ao convívio da vida. Custa-te?

O revoar das flores
Embebece as cigarras
Percebe-as?
Feitias, longas, trigantes

Dê "Vivas" como antes
Um sonho adiante
É um ponto, um sinal de espera

Há coração que desespera
Se há vida nos trigais?
Andes'
Onde quer que fores
Alguém te acompanha
E onde quer que estiveres
Não estarás a sós

Haverá vida'
Pois sempre e em qualquer lugar
As àrvores florescem

Ah' E não te esqueces'.
 
CAMINHOS À VIDA

ABSURDO

 
ABSURDO
 
O absurdo que voce diz
É gostarmo-nos tolamente
O segredo em nossos olhos
Está na magia contida ao nos vêrmos

E não é segredo
É um misterio profundo
Um almíscar de paixão e medo
Um desejo, um ensejo, um grande amor

O absurdo que voce diz
É gostarmo-nos loucamente
O segredo de nossa loucura
É bebermos da mesma essência

E não é segredo
É um sonho profundo
Um medo inesperado do mundo
Um amar matematicamente calculado
Um absurdo quase preciso.
E não é segredo.
 
ABSURDO

SINÓPSE

 
SINÓPSE

Enganar-me-ei
Sempre que possível
Presumo.

Pois toda solidão é pura
Todo estravazar é lívido
Toda imensidão é bela
Pois todo belo
É decalque do feio
Pois todo aquele que cultua a verdade
Contemplará só a realidade

Invocará e contará a todos
A essência simples do saber amar
Buscará na plenitude da vida
O saber de si e materializar
E espiritualizar-se
É tentar,
Presumo, enquanto vida
O eterno sentido do saber viver

Buscando e rebuscando o amor
No amor perdido
No amor defeito
Sofreguidão insana
No amor direito
No amor respeito
Da fúria, da alma, da justiça

Calmo, explosivo
Enganar-me-ei
Sempre que possível
Presumo.
 
SINÓPSE

VELHO MESTRE ANDARILHO

 
VELHO MESTRE ANDARILHO
 
Nos chãos onde seus pés pisaram
A terra logo então tremeu

A planta que adormeceu seu sono
Viveu, depois morreu

Não existiu no canto do acauã
Algo que o fez tremer, ceder, fugir

Em seus braços fez jungir o grito
Do animal feroz, fugaz, viril

Dos mistérios de rios profundos
As pedras que o fez sonhar

Seus sonhos em doces segundos
Brilhando para o seu olhar

A desbancar todos segrêdos
D'um dia, d'um mês, d'um ano

Marchando sem sentir o mêdo
De parir o viver do morrer
Sonhando.
 
VELHO MESTRE ANDARILHO

SEDUTOR AMIGO

 
SEDUTOR AMIGO
 
(Para Leila Pinheiro)

Sedutor amigo
Dessa bandeira empunhada
Pelas mãos tão calejadas
A paixão

Sedutor amigo
Minha canção ecoa solta
Como um avião pousa na volta
Encanto livre da gaivota

Tenho na esperança
O seu furor
Marcas no corpo
Do seu amor
Tenso e febril
Marcas de choro

Desesperado anseio
No decorrer do tempo
Tornei-me sua
Raíz de planta
Solta na rua
Frágil e simples

Fases da lua
No meu sofrer
Não mudam
Nunca.
 
SEDUTOR AMIGO

COGUMELO

 
COGUMELO
 
Eu vi a terra tantas vezes
Dar a impressão
De se partir em sete mil tempos

Eram sete mil pedaços
Em cores tão brilhantes
Que guardei essa visão grande e vibrante
Como fotos
Num arquivo deslumbrante

Eu vi a lua tantas vezes
Dar a impressão
De se perder em minhas noites

Contei sete segundos de açoite, de delírio
Fazia frio, mas arrisquei hesitante
Um chá de cogumelo

Então minha musa disfarçada de amarelo
Veio e encantou minha loucura
E era pura, toda pura
Toda feita de metal

Eu vi na terra tantas vezes
"Lennons" caricaturados

Eram seus discípulos incorformados
Que se escondiam da loucura
E do mêdo da tortura intrigante
Que é ser vivente de um planeta
Onde a paz jamais será a meta
Onde a paz, sempre será um cometa
Escapando numa lente.
 
COGUMELO

RE-CANTO

 
RE-CANTO
 
A vida de fato existe lá fora
Após o horizontal

O sol nasce quente ou frio
Acordando a cria do meu curral

O corpo gordo da moça dói
Aproxima-se a hora do parto

Se a chuva cair bem forte
Veremos frutos nascer no mato

Pego a viola ranjenta
E só toco coisas de fazer doer

Encravo no seio dela meus dentes
E a faço se derreter

A água molha seu corpo
Me ascende a concupiscência

Remédio nasce no mato
Da folha bonita de qualquer essência.
 
RE-CANTO

O OLHAR DO HOMEM

 
O OLHAR DO HOMEM
 
O olhar do homem
Quando olha o longe
É o olhar da fome é o desejo de voltar
Ao seu lugar onde nasceu

O olhar do homem
Quando olha o longe
É o olhar da sêde
Que guarda um segrêdo, no modo de olhar
E não revela nem por Deus

O homem enquanto é cego
Seu olhar é o bater do martelo
Sobre a sua verdade
Com a intensidade do branco da lua

O homem não se observa
O que ele é já vem do berço
Ele é o jeito que a vida situa

O olhar do homem
Quando vê o longe
É sua maior inquietação
É o rumo da estrada, é o coração
Querendo saltar do peito
Em cada jeito que o homem olhar

O olhar do homem
Não é o olhar da espera
É o olhar da fera querendo saltar
Do curso de um rio profundo
Pros céus, pros limites do mundo
É o olhar de quem quer desertar.
 
O OLHAR DO HOMEM

SENTINELA

 
Nessas ruas e vielas
Entre prisões e labirintos
Andando sinto
Que jamais encontrarei
O sentimento
Que eu sempre procurei

Tanto sonho e fantasia
Dia após dia de insussesso
Confesso a cidade te escondeu
Numa barreira a dividir voce e eu

Nessas praças, frias telas
A sentinela em que me encontro
É um ponto a mais de saudade
Rondando sem fé
Neste resto de cidade.
 
SENTINELA

Daniel Flosino Lopes (Danny)
Poeta, compositor e escritor

Canções em festivais de músicas como MPB-Shell, coletâneas literárias da Shogun Arte e Crisalis Editora pelo Rio de Janeiro, crônicas no jornal Gazeta de Ribeirão Preto entre outras obras.