Meus Olhos
Meus olhos percebem
as linhas que separam
o corpo da alma.
No deserto,
os dedos desenham
rios, árvores e pedras.
Ouvem os pássaros
as folhas secas
levadas ao chão.
Bebo estrelas
e embriago-me.
Sonho manhãs.
Abandonada
sinto-me abandonada no inverno.
deixo as portas sempre fechadas,
espero luares além das janelas.
quando rezo, espalho no ar,
o cheiro de velas;
guardam as mãos as louças
do último jantar...
uso os vestidos mais velhos
e as blusas furadas pelas brasas
dos cigarros esquecidos no cinzeiro.
ensaio palavras de arrependimento.
Os olhos secos, livres da saudade,
se quebram quando veem teus lábios.
Filhas do Sol
Dormem meus olhos...
Ouço poemas tatuados
na ponta dos dedos.
Iluminadas,acordam as almas.
Desenham pedaços de estrelas,
e renascem como filhas do sol.
Dança dos olhos
Comprei sandálias de prata,
argolas de ouro
e vestidos de baile.
Espero-te.
Na rua do sonho,
separo estrelas,
desfio luares.
Passa o vento,
dançam os olhos.
Levo à fogueira,
folhas e flores
mortas.
Trago de volta,
chuva e semente.
Dezembrai
Dezembrai, ó homens!
O sol desce sobre os ombros,
ilumina o riso e o canto.
Há movimentos e cores,
na cadência dos poemas,
na colheita dos frutos,
no sonho das manhãs.
Dezembrai, ó homens!
Viva a esperança e a luz
nas horas do ano melhor.
O clone
.
.
.
.
.
Longe do espelho,o clone colhia pétalas de rosas.Depois do luar, de mãos dadas com sereias,sentia a ausência das estrelas.
Doidas palavras
Cala-se o amor,
com os olhos cheios
de lágrimas.
navegam
palavras
soam azuladas
na transparência
do mar.
Viagem
Cansada de esperas,
desfio almofadas
bordadas com fios
nylon e ouro.
Ilumina-se a sala
ao som de beijos.
Sinto as mãos calorosas
ao recordar teus desejos.
Ouço as vozes da madrugada;
Atravesso as pontes do tempo...
Celebro o final da viagem
nos mares da vida inteira.
O amor é água
e silêncio antes
do sol.
Estrelas ouvem
o estalo das folhas
na língua seca
dos caracóis.
Descasco maçãs.
Canto à mesa
e espero a flor
das romãs.
O caderno azul
.
.
Queria reviver a manhã de ontem.
A mesma daquele mês de agosto
quando meu rosto colava-se ao teu.
Queria a literatura mais pomposa,
A tua voz mansa a desenhar palavras
nas cores da tarde volumosa.
Longe havia o perfume no verde
das folhas caídas nas margens.
Queria a arquitetura do poema,
a retocar fotografias do amor,
nas paisagens pintadas
num caderno azul.
Toalhas
O silêncio iluminava a sala.
O amor nascia entre palavras
murmuradas e canetas furtadas.
Assim desenho o auto retrato.
Ouço o eco dos poemas alucinados
fotografados dentro da alma.
Recordamos mágoas
entre paredes mofadas
e toalhas rendadas.