DESABAFO
a minha ausência ditou o esquecimento. o teu. o alívio por não continuares a encontrar-me nos teus dias. repeti-to vezes sem conta enquanto me juravas a mentira. enquanto juravas o quão importante era para ti a minha felicidade. e eu via a tua falsidade os teus outros amores os teus outros não sei quem num jardim florido e sem perfume.
ainda bem que te foi fácil. ainda bem a minha coragem.
COMO FAZER AMOR/1
Como fazer amor.
A cumplicidade na residência de um olhar. Baixo de gosto amargo. Disfarçado de tristeza no cair da realidade. Entre nós. Não podemos. Se...
Amor tantas vezes feito nessa linguagem de verde raiada. De terra por sulcar.Nosso vulcão mudo. E o sorriso. Sempre o Sorriso. Do que sabíamos.
Meu tudo nesse Sorriso.
De querer adiado.
[Vem e toca-me. Lê-me dizia-te. Procura-me depois dos pontos na curva da vírgula. Nas minhas curvas. Nas que te podem tocar. Que podes. Assim. Em toques de anjo. Meu Amigo...]
...
De tanto passar à porta do teu rosto já não sei por que foi assim.
Talvez nunca te tenha visto como agora. Talvez nunca tenha ouvido o que dizias. Talvez nunca no eco de um desejo gritando sim.
É já tardio este Nunca. É mudo este Talvez.
É um beco sem saída o teu rosto. Um beco com uma porta que se fechou.
[Às vezes, ai! Às vezes... Cerro os punhos na timidez de um gesto de um fletir de dedos que desejam...]
AMOR DO MUITO MAIS
Amar-te é muito mais do que dizer-to. Ou dizer-me.
Tantas vezes senti que amar-te poderia ser estar sentada perto de ti ou apenas no mesmo espaço do que tu. Saber-te no cais do meu olhar bastava. Um olhar cruzado um sorriso que se armava um inclinar de cabeça... Estava tudo no que nada parecia.
O amor feito chegava num tocar de polpa de dedos num rodear de cintura num encostar leve de posse abrupta rápida.
E hoje sei-o eram de desejo todos aqueles momentos inconfessos.
E não. Não era só Amor d'Alma.
DIZER ADEUS.
Não sei bem como é dizer adeus. Pode ser um até breve! um até sempre! ou não dizer nada e simplesmente ir e não ficar. Será isso. Que seja. Tu perceberás.
Saberás.
QUASE (enigma)
Quase a sentir o beijo.
Foste hálito por entre o desejo. Quase lábios enquanto me perdia no verde do teu olhar. Quase.
Perfeição que éramos num quase que tínhamos. Nunca mais do que isso. E como somos até hoje.
...2
Sei que não fecharás os olhos as mãos o abraço. Sei que não. Sei simplesmente.
Se for ainda. Um dia.
Fomos sempre despedida. De até amanhãs.
Mas sabias que não voltaria a ser a haver a esperança da conquista do tempo como antes de breves sei que te volto a ver. Amanhã. Foi naquele dia. Tinha de ser.
Foi o olhar as costas voltadas a lágrima algures na alma. O sabor ainda tépido na palma das mãos.
Tinha de ser. Foi. Naquele dia.
OUTRA SOMBRA DO MEU SER
fácil nunca poderia ser. obrigamo-nos às leis ao amor pelo outros ao seu estar bem leves alegres e esquecemo-nos de nós.
que me faltas? naturalmente mas é isso que sempre soubemos que seria natural. o não haver nós porque nunca chegámos a encontrar-lhe o lugar. porque sempre o evitámos...
e não, a culpa não foi só minha. melhor, a impossibilidade não foi por mim criada, não tinha de ser, sempre existiu nesse peso sobre as nossas cabeças, revertendo o desejo.
e sim, não tem sido fácil. é sempre no teu regresso que escancaro a janela para que saias.
DESEJAR
hoje chego aqui porque sei que é aqui que sou livre.
sem nome. sem perfil. sem Pátria.
aqui e hoje sou só eu e as minhas palavras. é nelas que devem ler-me e não fora da esquadria deste branco.
hoje chego aqui e posso palavrar. escrevo e sei que ouves. digo e sei que sentes. choro e sei que acaricias a minha dor. sinto-te... e sei que desejo voltar amanhã.
NATURALMENTE
Não haveria Dor.
Não haveria Saudade sem ti.
Mas também não haveria em ti.