Somos recíprocos?
As vezes minha inspiração cabe numa estrofe,
Tantas outras no chorrinho
Impaciente me espera no final da curva,
Na metade do livro
Na troca de sinais
Então a dou espaço, e ela pousa, graciosamente.
Penso se somos partes separadas de um, ou dois que encontram.
Tenho pensado na minha reciprocidade,
Se formos um, tenho negado a mim.
Se formos dois, tenho negado também.
Digite um título
Acordei.
Recorro ao nosso compromisso silencioso, onde vibramos entre nós sempre o melhor.
Esboço um riso, e quase consigo ouvir a P!nk embalando essa cena.
Breve, salto um riso, e seus pequenos e atentos olhos me vêem.
Em meio ao grande verde me espreito, curiosa não avanço à sua presença, incomum te ter a vista.
Circula os cabelos numa impaciência emergente de travessia, mas aos seus pés a corrente água te assenta, então suspira.
Ando entre as árvores, e num sobressalto te vejo na outra margem, o sol te beija e sua leveza sobrepõe o peso da cesta que traz nas mãos.
Leia-me do fim ao começo
Se você pudesse...
Se você pudesse me ouvir por dentro, saberia que a sua voz é o meu som favorito,
Que a minha memória mais tátil é a maciez da sua pele nos meus dedos, é seu nariz tocando meu rosto, e o encontro dos nossos lábios nos dois hemisférios,
Você notaria que meus olhos vibram quando te veem, e que com você e por você eu já experimentei todo o tipo de inundação e êxtase.
Se você pudesse me sentir por dentro, ia vivenciar as temperaturas mais oscilantes, desde a brisa do começo de primavera, quando te tenho pela manhã morno,
A geada que perpassa meu dorso a qualquer sinal de silêncio e desencontro,
A erupção quando ultrapassamos a física tradicional,
Se você pudesse viver em mim, notaria que foi meu amor primeiro, a dor mais densa, a lembrança da fuga, o novelo mais macio, a linha mais tênue, a composição mais rebuscada, a inspiração mais constante, o desejo mais selvagem, e a saudade eterna.
Se você pudesse me sentir por dentro, iria entender que o meu querer ultrapassa o agora, é para sempre.
SER 3
Céu tem 3 letras
Mar,
Sol,
Elo,
Luz,
Pão,
Até a Lua.
, seu
3 letras.
Amor tem 4!
Se o amor liberta, por que a sós tem 3 letras ao mesmo tempo que nós?
Parece uma brincadeira gramatical, ou as vezes loucura.
Queria eu ser, ser 3 (nós).
Se eles pudessem me ouvir...
Se eles pudessem me ouvir...
O farol ficaria verde,
A estrada seria reta,
Continentes únicos,
A Lua beijaria o chão,
As paradas seriam mudas,
O som em Caetano,
O café quente,
A boca úmida,
O coração atento,
Medida certa,
Seus braços abertos.
Onde cabe uma saudade
Nas mãos e nas digitais que um dia estiveram com as suas e,
hoje guardadas numa caixa secreta, se reviram prontas para saltar o cadeado.
Cabe na boa música que atravessa meus ouvidos e sentam nas minhas fontes,
toda aceleração amenizada pela sua voz, injeção letal de entrega.
Cabe nos meus olhos, que revigora-se da tristeza através de fotografias mentais, se fecham e te veem.
No papel onde cravo toda a sua ausência e danço com as minhas falas, várias reprises emocionais.
Cabe no meu corpo que tem seu histórico sensorial, amor marcado como tatuagem.
Nós - Nó - Nosso
O que é um nós senão um nó dado no peito?
Uma corda simbólica que alveja os corpos, dá-los cadência e submissão.
Um vidro em tiras que fatia a carne, verte vermelho que queima na exaustão.
Um nós cego capaz de tudo capturar,
uma ciranda de letras que cabem no corpo, mas que escapa no nós.
Pouso e Pausa
Quero pouso em seu peito, feito pássaro que migra e encontra um lar para reproduzir. Que quer aninhar em teus ombros, fazê-los de ninho, e ali nutrir até crescer.
Quero suavemente pousar em seu ventre, feito folha que depois de carregada pelo vento, seca e oscilante, descansa, quase como num fôlego quando beija o lago.
Quero um pouso nos seus olhos, ver o frescor de primavera, a luz irradiando o meu ser. Você, meu Sol, me atravessa e me faz ver.
Quero uma pausa dentro de você, sentir todos os seus temores e arrepios, meus dedos com os seus, um pouso na eternidade.
Quero criar novas palavras no seu corpo, sussurrar promessas nos seus ouvidos, cumpri-las todas ao acordarmos.
Eu quero pouso e pausa em você.
Na dor, leia-me
Como pássaros que migram entre as estações percorrendo quilômetros e quilômetros de distância até alcançarem refúgios, e muitas vezes optam, apesar do cansaço, por quilômetros extras, alternando as alturas, não desperdiçando energia, fazendo pequenas paradas de reabastecimento, e utilizando a bússola interna e o campo magnético para permanecer em rota. Estes mesmos pássaros sobrevoam em meio as estrelas e o Sol, e em consciência coletiva alcançam um clima favorável e seguro para alimentação e reprodução. Uma vez superada a estação, retornam ao seu ponto de origem.
Assim é o nosso amor, que em dado momento se viu migrando, voou e alcançou terra favorável, mas longe de nós. Esse amor se pôs nos mais variados desafios de altura e nos viu frutificar em outros campos, afinal somos essencialmente bons e servis. Entretanto esse amor tem bússola interna, e pode ou não voar com escalas, mas que tem ao seu favor o Sol (você), as estrelas (eu) e a própria paisagem como orientação (a nossa essência), ou seja, assim como os pássaros, retornará ao ponto de origem.
Declaração Desordenada
Eu procurei um texto que falasse de devoção, só entrei meus pensamentos;
Eu busquei uma flor que representasse a sua beleza, e só cheguei na sua pele;
Eu necessitei de forças e só sua boca me revitalizou;
A minha fome só seu corpo matou;
Da minha água só você bebeu;
A minha embriaguez era de amor;
As noites em claro minhas declarações;
As declarações que não chegavam em texto, ouvia o coração;
E o seu coração me guarda, me ampara e me nutre;
A nossa verdade é viva, embora fugaz;
A mente não acompanha;
O raciocínio não entende;
O coração salta;
O corpo flamejante;
A ilusão rasa;
A saudade profunda...