Somos recíprocos?
As vezes minha inspiração cabe numa estrofe,
Tantas outras no chorrinho
Impaciente me espera no final da curva,
Na metade do livro
Na troca de sinais
Então a dou espaço, e ela pousa, graciosamente.
Penso se somos partes separadas de um, ou dois que encontram.
Tenho pensado na minha reciprocidade,
Se formos um, tenho negado a mim.
Se formos dois, tenho negado também.
Domingos
Sinto saudades
E as vezes ela me pega no colo e trata o corpo. Fecha-me como baú.
As vezes corta e oferece o chão, nada na minha pupila.
Apresenta melodias,
E as vezes a sua voz.
Me acalenta com estrofes
E aos domingos dispara.
Dispara e aperta,
É sútil e maestra.
Professora toma-me a lição,
Sentir você é tê-la.
Ter você é senti-la.
Digite um título
Acordei.
Recorro ao nosso compromisso silencioso, onde vibramos entre nós sempre o melhor.
Esboço um riso, e quase consigo ouvir a P!nk embalando essa cena.
Breve, salto um riso, e seus pequenos e atentos olhos me vêem.
Em meio ao grande verde me espreito, curiosa não avanço à sua presença, incomum te ter a vista.
Circula os cabelos numa impaciência emergente de travessia, mas aos seus pés a corrente água te assenta, então suspira.
Ando entre as árvores, e num sobressalto te vejo na outra margem, o sol te beija e sua leveza sobrepõe o peso da cesta que traz nas mãos.
Leia-me do fim ao começo
Se você pudesse...
Se você pudesse me ouvir por dentro, saberia que a sua voz é o meu som favorito,
Que a minha memória mais tátil é a maciez da sua pele nos meus dedos, é seu nariz tocando meu rosto, e o encontro dos nossos lábios nos dois hemisférios,
Você notaria que meus olhos vibram quando te veem, e que com você e por você eu já experimentei todo o tipo de inundação e êxtase.
Se você pudesse me sentir por dentro, ia vivenciar as temperaturas mais oscilantes, desde a brisa do começo de primavera, quando te tenho pela manhã morno,
A geada que perpassa meu dorso a qualquer sinal de silêncio e desencontro,
A erupção quando ultrapassamos a física tradicional,
Se você pudesse viver em mim, notaria que foi meu amor primeiro, a dor mais densa, a lembrança da fuga, o novelo mais macio, a linha mais tênue, a composição mais rebuscada, a inspiração mais constante, o desejo mais selvagem, e a saudade eterna.
Se você pudesse me sentir por dentro, iria entender que o meu querer ultrapassa o agora, é para sempre.
Encontro
Quero na sua boca circular, explorar na sua geografia todos os solos,
Dos seus olhos quero o mar, lançar sem velas e a dentro navegar,
Desnuda provar que a minha boca é fonte, frutificar em cada canto seu, e uma rosa desabrochar.
Assim em corpo, provocar todo o riso e dor, a aceleração de um coração dividido em dois corpos.
Quero me ater em estar em você, sentir minha alma pulsar para fora e pular no seu colo, para você ninar.
E a sua, na minha mão, dar-me a chance de trança-la no peito, para nunca mais sair.
Poesia perpétua
Na tua forma o poderio,
Força incessante e amável que me vela a noite,
No peito que acolhe e me aninha, o ávido aconchego que chega com sussurros.
Na contemplação da sua companhia, o brilho que encandece meu rosto, embebido do seu açucarado olhar.
Você, minhas súplicas românticas respondidas num único frasco, a selvagem força que me faz sonhar;
Poesia atravessada em meu peito, pronta para saltar.
Sinais da sua presença: o meu gargalhar, suspirar e pensar, a vulnerabilidade que se achega confortável, pousa sem poeira levantar, sútil.
Nas suas mãos várias vidas, envolvidas em meus dedos, um encontro.
O gesto eterno de nossas manhãs, seguimos performando o paraíso e o pecado;
O êxtase de sermos uma poesia perpétua.
Dente de leão
Beija o sol ao amanhecer, sua palidez não desfaz a leveza que traz.
Se posiciona livre e selvagem. As inúmeras espécies são apanhadas na mão, enquanto ela ao menor sinal de aprisionamento se desfaz com o vento ou por inteira.
Olha o campo e não teme, agrupada ou não, traz da terra sua força.
Manifesto ao tempo
O que te fizemos para penalizar-nos?
Foi inexistência de Bach ou Chopin em nossos domingos?
A ausência de citar Drumont nos bilhetes?
Foi o Merlot Português que não chegou as nossas taças?
Ou a nossa negligência quanto a Eros e Psiquê e O Beijo de Klimt?
Quem sabe Cronos se zangou pela forma que utilizávamos nossos dias?
Não há beleza nessa aliança com o destino e as escolhas, para nos deixar em suspensão por tanto...
Os nossos domingos se resumiam em poucas horas,
Nossos ouvidos se preenchiam com sussurros,
Meus bilhetes eram autorais,
Nos bastava água e suor,
E a obra se via materializava sob o colchão, em exposição quase como cerâmica nua,
O tempo em nós nunca dilatou, somente pupilas.
Sentimentos
São amarras,
Nó no coração.
As horas avançam nos dias,
Mas não apagam lembranças.
O tempo coroe construções, dar-nos tempo para nos reerguer, mas é incapaz de lidar com memórias.
A profundidade do que eu sinto é um voto,
Uma devoção já percebida.
Minha mente preenchida do cotidiano pode até esquecer, mas meu coração lembra...
Nó no coração.
Posso
Posso ignorar os trovões, mas não meus pés molhados.
Posso desviar das canções, mas não de uma memória.
Posso romper com os poetas, mas não desobedecer meus dedos.
Posso olhar a vida de forma crua, mas não deixar de ouvir os pássaros.
Posso acreditar na conduta e retidão, mas não ignorar essa fenda que me parte.
Posso possuir todo o tempo, engolir os assuntos, mas não desligar o meu subconsciente.
Posso me entreter, mas não esquecer.
Posso não falar, mas a saudade existe.