Poemas, frases e mensagens de Earnshaw

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Earnshaw

As nuvens...

 
Movem-se soltas, vagas,
Com ausência de cor ou acinzentadas;
Unem e desunem seus braços
Cúmplices, preenchendo espaços.

Roubam olhares, arrastam pensamentos,
Seguindo seu rumo dependente dos ventos.
E, como em muitos outros momentos,
Também aqui me cativam o olhar!
E o quanto me fazem pensar...!

Em que penso? Perguntarás retoricamente...
Não sei...talvez! Penso no que, provavelmente,
Também tu paraste para pensar,
Ou pensaste inconscientemente
Tentando não pensar...

Eu limito o meu pensamento em ti, em mim,
No «nós» que outrora fomos
E no que agora somos...
E dou por mim esquecendo o suposto fim
E revivendo o meio que geramos...
E penso e repenso nas palavras que dissemos,
No perto que estivemos
E no longe em que estamos...
 
As nuvens...

Vem, morte!

 
Que venha a Morte e que me leve. É só isso que eu quero...
Que venha ela, e me leve para onde for. Não me importa...
Que me leve, se for a única solução de apagar este desespero.
Que me leve ao seu túmulo adormecido, que me abra a sua porta!

Que venha a Morte. Que me guie até si e me faça sua escrava,
Que me leve com ela. E que me deixe a arder no inferno,
Que possua a minha alma, tão mortal, tão frágil e cansada,
Se for esse o preço a pagar pelo meu descanso eterno...

Eu dispenso o perdão, apenas quero o teu mórbido manto...
Vem Morte! Em ti me refugio, em ti quero afogar aquela dor,
E nos escombros do inferno queimar a minha má sorte...

Vem Morte! Vem escuridão! Só eu sei como te desejo tanto!
Leva-me no teu sinistro seio adormecido, enche-me de ódio e rancor...
Guia-me até ás trevas e deixa-me penar pelo que não fiz...Vem Morte...
 
Vem, morte!

Vácuo

 
Pinto-me no espelho da vida

boiando na maresia da cobiça;

Ondas me puxam, ondas me arrastam...

Indagada em águas perdidas,

caída no solo da preguiça

avistando pegadas que se afastam.

Varro-me do chão para a pedra fria,

de ouvidos surdos, boca calada

olhos inchados de substância lacrimal,

pernas atadas, cabeça vazia

sem caminhos, sem estrada,

um vácuo descomunal!
 
Vácuo

Sigilo de fada

 
De asa presa sobre a mesa de retalhos de memória
Rasgo pedaços de tecidos manchados de história…
Uma vaga de azia cai sobre a noite caótica;
Longe vai agora o sabor a fruta exótica
Da tua boca molhada, doce, desfrutada.

Um chamariz rompe de súbito a fria madrugada,
É o coração que reclama a alma mumificada
Imersa no desejo inconfessável de te venerar…
Miro o céu revestido de mágoa que não vai desnublar
Como que por castigo, por te amar sigilada…
 
Sigilo de fada

Raízes profundas

 
Incapaz de desenraizar este sentimento que me revolta,
Deambulo por entre as horas e no tempo me escondo
De um futuro que temo encarar sem os teus braços á minha volta.
Anseio pela independência da minha mente, busco uma nova rota
Mas ainda sinto o teu cheiro que ficou no meu ombro...

As minhas pálpebras pesam, a minha cabeça estala,
Gera-se um vazio ímpio que se dilata a cada segundo
De desolado silêncio na árdua ausência da tua fala;
Tento libertar o que guardo, mas a minha voz se cala
E é agora, também, prisioneira deste sentimento profundo.
 
Raízes profundas

Trilhos

 
Como o vento que me bate no rosto,
Procuro em ti um encosto.
Um luar em noite de lua nova,
Quando os barcos atracam, por fim, no cais.

Não vens. Nem sei, tão pouco, por onde vais,
Quando o sol sadio morre pela lua.

Cresce em mim a certeza.
Como a frieza fermentada pelo norte.
A certeza de que sou tua.

E o que sou eu no teu caminho?
Uma gota de orvalho arrefecido?

Sigo os trilhos da minha sorte.
Abro a cama. Tentando calar a boca,
Encolho-me num abraço ausente, teu.
Mas a razão engana-me, dizendo que é meu.

E tu não dizes nada. Estarei louca,
Semeando uma quimera?

Não a oiço mais. Sei que me engana
Cerro a minha mão na tua, que me espera.

E perguntas-me o que sou.
E eu desenho-te nos lábios uma chama
E segredo-te ao ouvido:
“Sou aquela que te ama”
 
Trilhos

Lá fora

 
Lá fora, o Inverno. E as árvores agora nuas
De tão despidas pelos seus modos toscos.
Acenam-me e nelas sinto o aconchego
Que nem o Inverno é senhor de delir.

Venha o vento gélido das alturas
E as chuvas de Dezembro, no seu dorso.
Com os cabelos, crescer-me-á o sossego
E a vontade incessante de existir.

Ainda que apartados.

De olhos esbugalhados
Defronto o sono que quer reinar.
Não deixo sequer escapar
Uma oportunidade de te sentir.

Sem nunca deixar de te sentir saudade.

Levito, como me ensinaste, sem medo de sucumbir.
Porém, deixa-me triste de tanta ilusão criada.
De tanto sentir os nossos corpos num só, e mais nada.
E não saber em que maré te esperar.

Espero-te, crédula, sem me lembrar
De teres dito que vinhas. Vens?
Não importa a resposta. Não digas nada.
Deixa o silêncio me dar respostas vagas.

Apenas vem.
 
Lá fora

Só tu

 
Só tu me fazes exprimir com agrado
Uma pequena contracção do músculo facial,
Um sorrir de leve consensial
Incongruente ao meu fado...

Fado não! Perspectiva privada
De outros possíveis campos de visão,
Palavras surdas sem entoação
Projectadas numa mente aluada!

Só tu me vês mesmo quando não me quero ver,
Me ofereces a tua mão firme e persuadida
E me arrancas da mediocridade!

Aceitas, sem entender, este jeito estranho de ser
E tentas atenuar esta melancolia desmedida
Irracionalmente acrescida de leviandade...

E dói saber que te iludes e me tentas iludir,
Que sentes o que não sou apta de sentir,
Que não desistes mesmo quando te alego a desistir...

E estás quando não estás, quando não estou,
Quando me nego a deixar ir o que passou,
Sem exigir nada, sem retorquir o que sou!
 
Só tu

O falar e o dizer

 
Há quem fale e não diga. Eu opto por dizer e não falar. São escolhas.
A fala torna-se repetitiva e trivial. Fala-se por falar, mas não se diz por dizer. A fala instala-se entre o dito e o não dito, por isso, nem sempre, tem significado algum.
Eu digo que o dia está lindo, e está deveras lindo! O sol irradia o espaço, clareia-me os olhos, expande-me a calma. O chilrear dos pássaros, que pousam no telhado, combina tão bem com o sol e o céu desmaiado de azul. Tudo isto vos parece, pateticamente, estéril, eu sei! Mas o parecer é algo que assenta, perfeitamente, na superficialidade. Acho que está tudo dito, não está?
O dia está lindo, é um facto. E não o digo por dizer. Não vou falar que o dia está lindo. Falar com as paredes não é bem um passatempo preferido, embora o pratique muitas vezes, como resultado da doidice.
Estar doida tem o seu lado bom. E a doidice é relativa. As mentalidades também. A doidice é capaz de admitir o que é e o que não é, conscientemente. Embora não pareça muito coerente um doido distinguir a realidade da doidice. Mas a doidice admite, mostra-se e, a sanidade esconde, tapa, dissimula, inventa, manipula.
Estou sã na minha doidice, mas doida na minha sanidade. Será? Como pode um doido saber se é um doido saudável? Não sei, devo ser doida supérflua. Apenas sei que posso afirmar, seguramente, que a doidice me faz bem, sinto-me bem nela. A sanidade magoa-me, por isso evito-a, não a desejo.
Digo, então, que sou doida. E se o digo é porque, realmente, o sou, senão limitava-me a falar.
 
O falar e o dizer

Felicidade

 
Oh… pudesse eu escrever assim! Descercar-me da ordinarice que aspiro e machadar a mente, ao ponto de a revelar com a mesma proporção com que nos embates.
Pudesse eu sentir essa pureza imune ao ar imundo oriundo das volições devassas que caracterizam estes retalhos de carne que deambulam. Retalhos de carne pútrida de que também sou feita.
Pudesse eu conhecer mais que a sombra que, própria, me ofereço, por me agradar a pacificidade que julgo encontrar. Idiota! Sim, eu sei… é medonha idiotice sequer pensar subsistir na sombra o sossego. O sossego não reside no ermo, reside em cada um. Basta o deixar habitar, abrindo alas até aos escombros recônditos da alma.
Pudesse eu falar a língua que tu falas. Quem te ensinou? O Amor? Sim, o Amor… esse grande vivido Senhor que afortuna, somente os mais dignos, de aprender e acarretar a sua palavra. Pudesse eu, um dia, conhecê-lo também…
Pudesse eu possuir esse brilho com que te pintas todas as manhãs. Essa brilhantina que resiste á chuva miúda, ao vendaval adolescente de temperamento agreste e á geada do longo Inverno tenebroso.
Pudesse eu possuir a chave da porta da câmara onde trancas as mágoas, que escondes de outros olhos. Pudesse eu possuir a chave que te veste tão pura e descobrir que não és uma fábula, Felicidade, mas de carne como eu.
 
Felicidade

Dentro de mim

 
Não sei se ouves os meus pedidos…
Se os ouves sei que nada podes fazer,
A não ser o mesmo que eu: chorar e lamentar
Ou simplesmente continuar a sonhar
Um sonho que não pode acontecer…

Olho em redor, tudo me lembra de ti;
Suspiro profundamente, sinto a tua presença
Mesmo sabendo que já não é possível ter-te aqui…
Sei que um dia lhe chamarão doença…
Por enquanto chamo-lhe um sonho incompleto
Do qual não me consigo libertar;
Um futuro incerto, um longo deserto
Que, sozinha, terei de atravessar…

Na minha praia deixaste pegadas
Que o mar não conseguirá apagar
Na minha lua deixaste estrelas apagadas
Que, cegamente, ainda sonho vir a alcançar…
Ainda procuro uma voz, um rosto
Que me façam sentir perto de ti;
Ainda divaga um eterno desejo
De reencontrar quem, um dia, perdi…

Dizem que não há nada que o tempo não cure;
Que as ondas da vida trarão nas asas do tempo
Outro alguém que ocupará o teu lugar…
Mas acredito que tão sublime sentimento
Jamais alguém poderá igualar…

Não sei se me escutas…se me vês…
Há dias em que penso que sim
Porque te sinto dentro de mim…
E, por mais distante que estejas,
Mesmo que não me vejas,
Mesmo que tenha sido o fim,
Para mim estarás sempre vivo
Porque sei que vives dentro de mim…
 
Dentro de mim

Hoje desisto!

 
Hoje não estou, não me sinto! Não me existo!
Fechei-me na concha, bem no fundo do mar,
Apenas olho em redor e me limito a odiar,
Já que amar não me é possível...desisto!

Desisto de procurar o que sei que não vou encontrar;
Desisto de tentar acabar o que nunca comecei,
O que apenas sonhei e, sem sequer ter, tanto amei,
Tanto desejei, como a lua que deseja o mar!

Hoje não penso, apenas relembro o que já passou;
Não choro, apenas me escorrem lágrimas de dor
Repletas de sonhos dilacerados e feridas de amor.
Hoje não sou eu, sou ninguém que em mim estagnou.

Hoje é como um ontem, como um amanhã
Já tão vivido, sentido, tão perdido e esquecido;
Hoje é uma página branca no meu livro entorpecido
Onde guardava as minhas mágoas pela fria manhã...

Hoje sou o nada, sinto o nada! E o nada é tudo isto
Que vejo, que sinto…que futuramente verei e sentirei
Na vida vazia que levei e forçosamente levarei...
Ontem tentei, joguei e perdi!Hoje...Desisto!
 
Hoje desisto!

Espero-te

 
Cada segundo que passa, tem o peso de um penedo, rasgando-me o peito. Sinto-o. Um penedo lascado com as lâminas da saudade.
Persigo as badaladas do relógio que me desafia, mostrando-se imóvel.
Espero-te pela noite dentro. E pela noite fora. Em todas as maneiras possíveis, fixando o relógio, sem ver as horas passar.
Espero-te. Todo o resto é secundário. Esperar-te é a minha prioridade vital.
Mas é inútil esta espera. Esta ânsia desmedida. Esqueci-me que mudaste. Esqueci-me do pouco tempo que te sobra. Ou do tempo que não te sobra…
Fecharei os olhos e esperar-te-ei em sonhos. Talvez, aí, apareças. Sendo aquele primeiro que eras.
 
Espero-te

A alvorada

 
Sinto perto, já bem perto, a alvorada
Vem lembrar que não te esqueço,
Nem tão pouco me esqueço de te pintar
Na tela da quimera alada.
Fecho os olhos para um novo começo
Que está longe de começar.
Pede-me tudo, e tudo te darei!
Porém, não me prives de te sonhar…
Não tarda, chegará a alvorada
Para de mim te levar, eu bem sei…
Virá veloz, definida, montada
No dorso da realidade degenerada
Sinto chegar a alvorada,
Abro os olhos e olho em redor…
Ruínas são tudo o que de nós resta, amor…
 
A alvorada

Rastos

 
Rastos de cor incolor definem o olhar
indagado no dependente respirar
dessas palavras, desse teu jeito
que me anestesia, delirando no meu leito!

Questionar o que foi ou não feito
tornou-se o alento vital
da minha estrutura encarnada abissal
que bombeia no interior deste peito!

Rios de sangue ímpio e talhado
pelos males fatídicos do passado
correm desgovernadamente em contra-mão,
sarcásticamente sem razão...

Que razão encontraria pois
entre tanta desavença entre dois
lados que se chocam num só corpo,
que navega ancorado a nenhum porto?
 
Rastos

Tempo

 
O tempo. Sempre sem tempo.
Diria que até me sobra.
Tempo de espera. De inquietação.
Tempo indeterminado.
Cavalgante, o tempo que ficou.
O tempo.
Deveria fazer-lhe o mesmo que me faz.
Dar-lhe a cheirar a própria ausência
Nos seus passos colossais.
E sentir-se morrer aos pouquinhos
No travesseiro amolgado.
 
Tempo

Calo-me

 
Hoje senti que o tinha que fazer. Que te dar um abanão e mostrar-te que existo, embora apática. E o quanto preciso de um abanão teu.
O vento está mais frio pela manhã, mas encaro-o de sorriso cego. Sinto-me aconchegada nas tuas palavras, mas queria mais. Queria que tirasses a venda dos olhos, sem ter que te pedir. Sem que seja eu a tirá-la. Que sentisses um quarto da falta que me fazes. Já nem te peço que a sintas como eu a sinto! Sufocarias, por certo, como eu sufoco com a tua ausência, com as tuas palavras… ou a falta delas.
Queria respostas, sem ter que questionar. Sem que te sentisses cercado.
E calo-me anseando a tua chegada…
 
Calo-me

desabafo

 
Nada de novo. Senão esta incómoda cefaleia que se arrasta desde a tarde. Fecharia os olhos e, elevaria a mente, se esta não estivesse tão sobrecarregada.
Imagino como seria bom se o pensamento tivesse um botão que o desligasse. Mas não, não tem! E, hoje, o pensamento pouco ajuda, ou nada!
Uma manhã rotineira, com uma tarde agitada e uma noite demasiado tranquila, torna-se fatigante demais para a minha inconstância. Nem quero imaginar os dias que se seguem, passivos, inquietos e longos. Temo me afogar em tão grande enfado.
Faz-se tarde. Estou corroída pelo cansaço e o tédio pelas minhas próprias palavras. Sinto vergonha delas, da sua trivialidade intacta. Sinto vergonha das minhas mãos inaptas, da minha credulidade incrédula, dos meus pés moídos com tanto caminho ainda pela frente. Tenho vergonha da minha voz trémula de tom miúdo, vergonha do que fui, do que sou que me coíbe de vir a ser. Tenho vergonha, não da minha imperfeição, isso é o que menos importância tem, de já tão banal que é. Tenho vergonha de mim.
As pálpebras pesadas vão ganhando terreno ocular. Não vale a pena resistir e combater a indolência. Vou dormir.
 
desabafo

Porque te espero?

 
Porque, aqui, me detenho, testemunhando o sol franzino estalar, timidamente, por entre as nuvens carrancudas e pardas? Porque se abate a chuva e me molha a já encharcada alma? Porque o clarão das minhas quimeras e o soalheiro dos meus anseios não é suficientemente quente para a enxugar? Porque os olhos, embriagados de utopias, se abrem e avistam o que eu nego e recuso conhecer; porque o tempo mata toda a oportunidade de colorir os espaços que ficaram por preencher; porque os ponteiros do relógio da veracidade batem no sentido oposto ao meu, que não funciona contando os segundos, nem os minutos, nem as horas… mas as memórias.
Porque não entrego a luta que, logo ao nascer, já está talhada para a derrota de sucumbir? Porque espero, se nunca encarei bem qualquer, eventual ou ciente, situação de expectativa? Porque insisto e, clandestinamente, creio se afirmo desacreditar? Porque sinto a tua mão no meu ombro quando atiro a minha confiança pela janela fora; porque sou e quero ser o fundamento primordial de dilatar o engenho do meu horizonte; porque quero ficar, pois nem sempre ser feliz e livre é optar por ir; porque quero continuar a escalada do sentido, porque pressinto que há ainda muito por sentir, mesmo sabendo que há muito chão para tropeçar e muitos buracos para cair…
Porque espero por ti? Porque a lua me ensinou a esperar pelo dia que há-de vir.
 
Porque te espero?

(sem titulo)

 
Semi oculta entre os lençóis;
dispersa entre o antes e o depois
deste infortúnio retrocesso
que, encalhadamente, atravesso,
seguro as pálpebras com a mão,
num tal acto de brusquidão
que me entorpeço...

Observo este espaço a que pertenço,
onde me criei, sofismei e decresci
á medida que o tempo cresce em si...
Recordo retalhadamente a infância desde o berço;
solto uma lágrima de nostalgia,
cerro os olhos por cobardia
e, já tarde, adormeço.
 
(sem titulo)