Em silêncio escuto o teu dormir
Em silêncio escuto o teu dormir
transporto-me em planos passados
embalo-te em cantigas
e palavras inaudíveis
enquanto o luar nos acompanha
e as estrelas anunciam
menino d oiro.
(e eu ali…
inventando motivos só para te olhar.)
Toco ao de leve teus cabelos,
não vás acordar dos teus sonhos
tão belos, tão ímpares…
não são precisas palavras,
o olhar é demasiado intenso
que magoa profundo.
De novo, mais uma vez
escuto o teu dormir
sinto o cheiro, o respirar
a ausência do teu corpo..
e embalo-me e abraço-me
numa almofada doce, fofa…
Aí… misturam-se lágrimas de saudade
(aquelas que não chorei
só para não as veres….)
Onde estás menino meu?
Ainda ontem te amamentei
e hoje…..
hoje…o quarto só tem as minhas lembranças!
Rosa Maria Anselmo
Junto faces cristalinas
Junto faces cristalinas
na tua mão aberta,
perco meus medos
e rendo-me dócil
numa aurora dengosa.
Em traje de guerreira
sem lanças
sem punhais…
apenas lenços de cetim
guardam beijos de paixão
dobrando as horas
do encontro clandestino.
Nessa tua mão aberta,
deposito minha virgindade
e entre o nevoeiro
moldas as tuas mãos
no volume deste corpo
que flutua,
na cumplicidade do luar
no imenso e no tanto…
na dança dos adormecidos.
E eu…
desperta fico,
esperando a madrugada
de todos os outros dias.
Rosa Maria Anselmo
Convida-me a dançar
Convida-me a dançar
abraça-me o corpo
ajusta-o ao teu
deixa-te experimentar
o cheiro, a pele,
o perfume
dos meus sentidos.
E baila
circunda nossos segredos
dando cor à dança
numa cascata
de sons
paixões e algemas.
Dança comigo
numa timidez atrevida,
numa fúria possuída
chicoteando
doces deleites.
E no ímpeto
de um febril devaneio
dir-te-ei:
- amanhã
voltarei a dançar
contigo,
por mim, por ti
numa sedução
acordada.
Rosa Maria Anselmo
Libertam-se as palavras
Libertam-se as palavras
suavizo teu nome
planto-me em rosas
no teu caminho,
prometo-me em perfume
discreto, suave, perturbador
numa madrugada abrasada
ou noite por acontecer.
Em cada palavra
desfolho-me desvanecida
em saudades..
Agasalho-me em ti
numa quietude orvalhada,
em fusão de sabores e cheiros
teus, meus…
sem medos
e nesta embriaguez desfaleço,
em privacidade sem tempo,
sem urgência..
prenhe de sonhos.
Rosa Maria Anselmo
Perdi-me no bosque
Perdi-me no bosque
da ilusão,
de diálogos interditos
vacilei entre a calma
imperativa
e o enigma dos sinais omissos.
Divaguei
entre a sombra tecida
de finos, quase invisíveis
raios de lucidez
maturados de súplicas olvidadas.
Nesta insónia,
que me engole lentamente,
adormeço sabores, doces
celestes, quase virgens.
Transfiguro-me
numa cegueira lacustre
deito o corpo cansado,
fustigado,
nas quilhas de árvores
desse bosque ilusório
tecendo fio a fio
a teia do esquecimento…
(que me serve de leito)
Rosa Maria Anselmo
Quarteto- 1111 Vanda - Vera - Manuela - Rosa Maria
Desconhecido
Dispo-me de sentimentos
roço nas esquinas da alma
levo espumante para saciar tua pele
-entorna-o no meu corpo
lascivo, provocante.
Beija meus lábios de morango
com o chantilly da tua boca,
vem, toma-me como tua
ficarei nua nos teus versos
possui este corpo que te grita
-Sou selvagem devora-me!
Faz do teu corpo o meu lençol,
adoça-me em delírio
sem juízo, sem limites
alaga-me em sorrisos e desejos
como se mais nada importasse...
Faz-me tua, nesta maresia de sentidos,
louca loucura tua, amante.
E sem receio da alma nua,
descobre os segredos contidos
quebra-me a rocha do silêncio e vem
viril, macho,
… meu desconhecido.
Prometi.... estou a cumprir...
...
Numa louca noite, entre gargalhadas e pura amizade.... nasceu assim este poema "Desconhecido", feito a quatro mãos! Ah... este poema foi lido no almoço do lançamento do livro da Manuela, para todos os presentes! Um beijinho nosso a cada um de vós.
Sou alguém ardiloso
Sou alguém ardiloso
que pisa ébrio
a terra plena de vida.
A folha
que outrora era sonho
e agora é lavor
do vento agreste.
Sou a criatura
que pisa com desprezo
solo santificado.
Sou vera ilusão
do caminhante
que anseia futuro,
fantasia
do além invencível,
desavença
entre felicidade e tristeza.
Sou o objecto voraz
da perversa morte
que em poeira
me volta
a converter.
Rosa Maria Anselmo
29.08.2007
Havia silêncio.
A música despia-se
pétala a pétala
numa torrente
de átomos quase áureos.
Eram muitas as almas
que, emudecidas,
sorviam gota a gota
do tempo que ora corria,
ora era dolorosamente lento.
A voz,
aconteceu.
Era um menino
tímido, envergonhado,
sem a consciência
consciente
da grandeza do seu pertence.
Os mimos soltaram-se
em lágrimas
que rolaram
completamente afónicas!
Foi um momento
Foi um momento
apenas e só um momento
de pura verdade,
de encontro
entre a nudez da simplicidade
e o cálice
que guardava sonhos!
Foi nessa calmaria,
em solo sagrado de ternura,
que te ofereci
unicamente
e em silêncio
o orvalho dos meus olhos.
Rosa Maria Anselmo
Nesta saudade renovada
Nesta saudade renovada
dia a dia,
florescem sinais no horizonte
tão pequenos,
tão singulares
que me fazem ir ao teu encontro.
Aqui estou
numa tagarelice ligeira,
tratando por tu
as coisas do presente.
As rosas, sempre vermelhas,
fazem-nos companhia
abrem-se à frescura do diálogo.
O sol, esse não fugiu,
oferece-nos o calor
que nos falta….
E esta brisa,
que por nós passa ,
nos trespassa,
alegra-se
pelos sorrisos trocados.
Sim, aqui estou!
…
Sentada na laje preta,
granítica,
que cobre o teu corpo.
Desassossego-me
Desassossego-me
nesta ânsia de te ver
só de longe meu amor
só de longe…
O brilho do meu olhar
está agora nas tuas mãos
e eu que não as toco
nem de leve
nem ao de leve…
(assim… sentes?)
O frio entranhou-se-me na alma,
não foi o inverno que chegou,
é a tua ausência.
Regressa, depressa
num voo rasgado
que meu peito suspira…
E olha-me
olha-me nos olhos
vê todo o meu amor
neste sorriso envergonhado.
Veste-me de carinho
despir-me-ei de lágrimas
e num cântico envolvente
em notas soltas de paixão
serei sempre tua.. por inteiro.
Rosa Maria Anselmo