Poemas, frases e mensagens de 20dojja18

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de 20dojja18

Carlos Daniel Dojja é membro da Academia Americana de Poetas e da União Brasileira de Escritores. Seus textos são traduzidos nos Estados Unidos e republicados em vários grupos em diferentes países.

O FAZER DE ALGUNS

 
O FAZER DE ALGUNS

Alguns dentre nós moldam o ferro,
E dele fazem surgir esculturas.
Por vezes vergam o pinho,
E fazem brotar amuletos.

Outros há que se apossam, de variadas matérias.
Edificam templários ou casebres,
Lapidam jóias ou feitiços,
Ardem no frio ou no fogo, sua humana semeadura.

A mim, dentre alguns,
Coube-me outra quimera:
A de esculpir o sentir,
Numa árdua arquitetura:

- Não me aprendi estrada reta,
Fui-me pontes carregadas de atalhos.
Enxerguei partidas, mais cedo que pulsar chegadas.

Vejo-me assim:
Do afeto sou inteiro ou recomeço.
E só o sentir construído, como a palavra viva, me afaga.
Carlos Daniel Dojja
 
O FAZER DE ALGUNS

DO APRENDIZADO

 
Reflexão do Aprendizado

A vida nos ensina amares.
Mel que desliza como neve nos sulcos do chão estendido.
Entrelaçamos as mãos com a doçura da alegria construída.
Colhemos o facho de luz como fruto da semente nova que se principia.

A vida nos ensina desvelar o olhar de quem enxerga para dentro.
Como se o afeto fosse feito minúscula gotícula, que mansamente se entorpece e vai se estendendo do céu em ritmo compassado, fixando-se na ramagem esverdeada da planta, até cuidadosamente novamente cair sobre a terra e começar a possuí-la.

Então uma pequena gota torna-se capaz de amadurecer a mais profunda raiz.
A vida nos ensina que o afeto é um apreender de profundidades reveladas.

Carlos Daniel Dojja
 
DO APRENDIZADO

OUSADIA

 
OUSADIA
No meu intimo, uma desnecessidade se aguça.
Creio descomplexa, de nada ter a desdizer.
Já me levo inteiro de indagações a juntar atalhos,
De quem bem sabe o quanto custa o desviver.

Mas não existo o bastante se deixar de aspirar.
Assim espio manhãs. Não graduo conjuras.
Apraz-me compreender que uma reta contém variáveis.
Meus poros se aguçam de humana envergadura.

Minhas inquietações desfiam-se visíveis.
Confesso-me indisciplinado com as formalidades do risco.
Em quase tudo me arde, o que suponho merecer.

E se não o sentir, não me impele o fio a tecer.
Tenho dificuldades com prognósticos do viver pré-definido.
Não uso decifrador de tempo, para embeber-me do instante.

Declaro-me avesso, em não desfrutar, o que o momento instaura.
E quando me chega, pousa em minhas mãos, como se vindo da alma.

Carlos Daniel Dojja
 
OUSADIA

LUZ DAS ESTRELAS

 
LUZ DAS ESTRELAS
 
LUZ DAS ESTRELAS

Certa feita estive numa aldeia.
Lá me deparei com uma menina,
Sua fome me olhava atentamente.
Tinha o nome de luz das estrelas.
Seu pai não se sabia e sua mãe não vinha.

Perguntei-lhe se sonhava. Disse-me que não.
Mas que quando deixasse de ser miúda,
iria ser médica para cuidar das pessoas e dos que vão nascer.

Você sabe o que é poesia?
Não, não a conheço, interpelou-me rapidamente.
Poesia é feita pra gente?
Passei a visitá-la.

Numa manhã que chovia, nova indagação.
Do que você gosta? Prontamente me disse:
Gosto de comida, de escola e de brincar de casinha quando faz frio.
E vou lhe confessar algo.
- Também brinco de agarrar nuvens com as mãos

Carlos Daniel Dojja
Para Luz das Estrelas, em Angola.
 
LUZ DAS ESTRELAS

DA UTOPIA

 
DA UTOPIA

Quero encravar minhas mãos,
A terra habitada pelo labor,
E dela retirar, sulcos e raízes,
E o fazer germinado.

E em cada manhã, em que se debruça o dia,
Celebrar o brilho do olhar,
Que percorre o sonhar dos homens,
E urrar e gestar as dores do parto.

Para assim embeber-me,
De todas as esperanças,
Que se agarram aos pés dos andantes,
Para me engravidar de utopias.

Carlos Daniel Dojja

* Imagem de heblo por Pixabay

Em homenagem a mulher refugiada com seu filho entre os braços num Acampamento da França, buscando um lugar para viver.
 
DA UTOPIA

DAS ASAS QUE ME VOEI

 
DAS ASAS QUE ME VOEI

Quando cresci em altura, estatura de homem e coração feitio de flor se desbotando, contaram que o mundo era imenso, mais extenso que tudo o que havia e pouco visível depois que se perde o horizonte.

Disseram para observar que com cautela, os pés podem nos levar com segurança aos destinos já percorridos.

Eu que era cheio de ruas e afetos não visitados, intriguei-me.

Se tudo é tão repleto de amplitude, como haverei de agarrar-me a vida e habitar essa longínqua esperança, para saber-me andante de tardes que não conheço e de noites amanhecidas de claridade.

Interroguei-me tanto, que nem conseguia desacordar o desânimo das pernas, nem vestir-me com as roupagens da ousadia.

Deveria aceitar que só cabia-me reivindicar passos e trajetos com chegadas previsíveis.
Nesse tempo, me era tardio o vento, que se esgotava por baixo dos montes e perdia-se na planície.

O vento que a tudo varre, não leva o receio do desconhecido e às vezes traz as poeiras que embaraçam a vista.

Saía a esmo. Tentava colher certezas. Queria compreender o absoluto do tudo ou nada.
Apanhar as tochas de ventania e verter água na terra ressequida.
Ser o protagonista que sabe os finais não proscritos.

Tudo era de fato longínquo, para o além do perceber a frente.
Mas decide insistir-me, pois houve uma ponderação.

Se por acaso tivesse o êxito de me alçar para além do nevoeiro, encontraria um espaço ainda maior, após a condensação aquática das nuvens.

Nesse dia, diante de tanto desalento de nada poder desver. Enxerguei um pássaro.

Ele saiu da terra, cruzou o mar, planou nas alturas e no mais alto do alto que se via, arriscou-se a pousar num raio de luz imensa, recoberto em tons amarelados e ocres.

Espantados não sabiam como aquele pequeno ser havia chegado às proximidades do sol, mas houveram por bem adverti-lo, pois caso se fosse para mais além, certamente iria deparar-se com um movimento em expansão inalcançável, que nem de chão se fazia.

Diante de tantas e severas advertências. Tornei-me desde então, bebedor desta sabença.

Às vezes me empresto vôos. Vou-me indo, com a percepção de que posso lançar-me a descoberta.

Nunca sei o que virá depois que o passado do vento e o presente das nuvens se fundem.

Teimo em fingir-me capaz de atingir infinitudes, parir-me de acontecimentos.

Desde isso, quando posso, ponho-me asas estradeiras e olhares para o mais além do ver.
Carlos Daniel Dojja
*Imagem de enriquelopezgarre por Pixabay
 
DAS ASAS QUE ME VOEI

DO APRENDER

 
DO APRENDER

Aprendi sorvendo. Somente o que me fez inalar.
O que despercebi não me fez entrever.
Não atingi alturas, sem pisar-me de chão arenoso.
Não extrai sal da terra, sem entregar as mãos repartidas.

Tenho alguns saberes, que me fazem apreendedor.
Uma arquitetura de razões pronunciadas.
Das mais súbitas, como aquelas a se moldar na quietude,
As derradeiras, como as que pungem na pele na alma.

Pouco aprendo, quando dos outros não me entrelaço.
Pouco sei se não me ponho a observar a intimidade.
Por isso ressoei-me em cada canto, num circulo de andanças,

E ainda me faço toar a cada instante que me ensina o olhar.
Distanciei-me por vezes para observar as perguntas.
Tantas outras respondi sem aderir ao absoluto.

Fui vário, múltiplo, único. Só assim fiz-me existir.
E ao ser, precisei reler a estrada e desvendar a travessia.

Carlos Daniel Dojja
 
DO APRENDER

Brincadeira da Árvore

 
Brincadeira da Árvore

Certo dia, um menino perguntou-me,
Se eu sabia brincar de árvore.
E começou explicando-me:
- Primeiro a gente pinta nos galhos,
os nomes das pessoas que gosta.
Depois, escreve nas folhas palavras,
Como ternura, abraço, encantamento.

Também acrescentou que pode-se deixar água,
De cor amarela rio para que a árvore se descreva,
Mas nenhuma árvore é desigual a outra,
e todas sabem falar com a terra.

Contei para ele que eu brincava de estrela viva.
Era assim: Minha mãe desenhou uma estrela,
E colocou numa caixa alaranjada de madeira.
Ensinou-me que deveria toda noite,
Abanar com as mãos para que o brilho,
Não se perdesse no vir a ser do tempo.

Sem indagar-lhe qual era a língua das árvores,
Ele visivelmente empolgado me relatou:
- Quando eu crescer vou ser astrônomo,
Ou pirata do bem. Isso para trabalhar.
Para viver, quero aprender a falar com as borboletas,
Dar um vagalume de presente para minha namorada,
Que ainda não sabe de nenhuma das duas coisas.

Também vou descobrir como se faz um poema.
Você pode me emprestar sua estrela,
Para eu colocar na minha árvore?

Carlos Daniel Dojja
In Poemas para Crianças Crescidas
 
Brincadeira da Árvore

INQUIETAÇÃO

 
INQUIETAÇÃO
Insisto-me entre a inquietação e o quase extinto.
Quando saio de mim, rumores restauram procura.
Me parto compassado, a estiar anseios, na vigia.
Abro-me em clareiras, soergo esperas, às vezes me avisto.
Enxergo o que entrementes não desbota, na audácia.

Pungidos olhares, fração reflexa, reverbero esquecimento.
Não me apraz desconhecer. Não me entristece distinguir.
Posso imolar finais prescritos, acontecer-me de outro.

Descreio que a finitude nos reserve,
Apenas nada na transcendência de tudo.
Tenho que viver-me como quem se conta,
Alembrado da existência que exprime.

Carlos Daniel Dojja
In Poemas para Versar
 
INQUIETAÇÃO

O QUE JOÃO ME CONTOU

 
O QUE JOÃO ME CONTOU

João pescador assim me falou:
A maior boniteza que tem pra vê,
É quando a onda bate no mar e beija a pedra na areia.
É como se aquela beleza toda fosse pra avisar,
Que a onda nasce da água e pra ela vai voltar.

Mas também tem outra coisa, que mais formosa não há.
Até me fogem as palavras de tanto admirar.
É quando no mar, eu vejo os olhos de uma moça,
Feitio de estrela que não cessa de piscar.

Então eu fico confuso, sempre a imaginar.
Pro sinhô que gosta de estórias, eu lhe posso contar.
Já pensei em ajuntar a onda, com os olhos do amar.
Fiz até uma promessa, que vivo a suplicar.

Quando minha hora chegar,
Esperem a noite alta e me joguem inteiro no mar.
Vou virar mistura de lama, coberto de calcário, envolto de sal,
Para nascer como pedra, estendido a beira mar.

Então, nem queira saber, que alegria será,
Eu me vivendo banhado de ondas, a relembrar,
Toda a vida que viceja, quando se descobre um olhar.

Carlos Daniel Dojja
- Em homenagem a João que já virou Pedra no Mar do Sul
 
O QUE JOÃO ME CONTOU

DAS ASAS QUE ME VOEI

 
DAS ASAS QUE ME VOEI

Quando cresci em altura, estatura de homem e coração feitio de flor se desbotando, contaram que o mundo era imenso, mais extenso que tudo o que havia e pouco visível depois que se perde o horizonte.

Disseram para observar que com cautela, os pés podem nos levar com segurança aos destinos já percorridos.

Eu que era cheio de ruas e afetos não visitados, intriguei-me.

Se tudo é tão repleto de amplitude, como haverei de agarrar-me a vida e habitar essa longínqua esperança, para saber-me andante de tardes que não conheço e de noites amanhecidas de claridade.

Interroguei-me tanto, que nem conseguia desacordar o desânimo das pernas, nem vestir-me com as roupagens da ousadia.

Deveria aceitar que só cabia-me reivindicar passos e trajetos com chegadas previsíveis.
Nesse tempo, me era tardio o vento, que se esgotava por baixo dos montes e perdia-se na planície.

O vento que a tudo varre, não leva o receio do desconhecido e às vezes traz as poeiras que embaraçam a vista.

Saía a esmo. Tentava colher certezas. Queria compreender o absoluto do tudo ou nada.
Apanhar as tochas de ventania e verter água na terra ressequida.
Ser o protagonista que sabe os finais não proscritos.

Tudo era de fato longínquo, para o além do perceber a frente.
Mas decide insistir-me, pois houve uma ponderação.

Se por acaso tivesse o êxito de me alçar para além do nevoeiro, encontraria um espaço ainda maior, após a condensação aquática das nuvens.

Nesse dia, diante de tanto desalento de nada poder desver. Enxerguei um pássaro.

Ele saiu da terra, cruzou o mar, planou nas alturas e no mais alto do alto que se via, arriscou-se a pousar num raio de luz imensa, recoberto em tons amarelados e ocres.

Espantados não sabiam como aquele pequeno ser havia chegado às proximidades do sol, mas houveram por bem adverti-lo, pois caso se fosse para mais além, certamente iria deparar-se com um movimento em expansão inalcançável, que nem de chão se fazia.

Diante de tantas e severas advertências. Tornei-me desde então, bebedor desta sabença.

Às vezes me empresto vôos. Vou-me indo, com a percepção de que posso lançar-me a descoberta.

Nunca sei o que virá depois que o passado do vento e o presente das nuvens se fundem.

Teimo em fingir-me capaz de atingir infinitudes, parir-me de acontecimentos.

Desde isso, quando posso, ponho-me asas estradeiras e olhares para o mais além do ver.
Carlos Daniel Dojja
*Imagem de enriquelopezgarre por Pixabay
 
DAS ASAS QUE ME VOEI