Revolto-me ao pensar Que sentiste alegria Quando nasci… Por entre todo o sofrimento, Ainda pudeste olhar-me, E sorrir… Sei que não posso detestar A tua ânsia, a tua euforia Ao teres-me para ti… Mas não vês tu o tormento Que tenta sufocar-me Quando apenas estou a surgir? Gostaria de amar Cada hora do meu dia, E ofertá-la a ti… Dirigir-me sem um lamento, Conseguir mesmo alhear-me, Para te mentir… Dizer-te que não paro de cantar, E que tudo é magia, Que vivo…. Por ti! Mas creio que perco alento E começo a cansar-me… Desejava partir E talvez não mais voltar. Esquecer a melancolia De tudo o que conheci… Procurar outro vento Que pudesse ajudar-me, Sem me fazer cair. Não te quero ver chorar… Fui sincera, Mãe, e sê-lo-ia Para todos. Como fui para ti…. Momento a momento, Procurarei lembrar-me... … E continuar a sorrir!...
(Poema escrito nos anos 60, em plena crise de adolescência)
Perfume de puro jasmim, Tão doce quanto inebriante, Como bálsamo assolador…. Estremecimento sem fim, Delicioso e embriagante, Assim é um beijo de amor.
*
Beijo esse que começa no olhar, Absorve, passeia e entrelaça O teu desejo e o meu querer… Que faz o coração agrilhoar A ilusão que brota e esvoaça Sem disso me aperceber…
*
Expressão de encantamento Numa entrega unissonante De paixão em perspectiva… Beijos, doçura do momento Que se prolonga, marcante, Como chama ardente e viva….
*
Beijo de amor é carinhoso, Ou impaciente e sedento… É o abandonar-se ao desejo Do enamoramento fogoso, Num perfeito consentimento De duas bocas em almejo…
*
Há um beijo no pensamento, Através do anseio e da paixão, Num sonho ou na realidade… Que anula a força do afastamento, Desfralda o corpo para a afeição … Duas bocas, uma só identidade!
Amar-te… é querer-te, É o eterno desejar-te, Profundamente, Agora, sempre, é ver-te E sonhar-te, Intensamente.
Amar-te… é sentir o desejo Quando estás ausente. É o beijar O corpo que não vejo, É a tua boca ardente Que não paro de recriar…
Amar-te… se reviver fosse, É o sentir cada momento Com a ternura de um olhar. Amar-te… é um anseio doce, É o céu, o sol, a lua, o vento, A terra…. E o mar….
Sentada naquele banco Na confluência do rio e do mar, Por entre aquele denso nevoeiro Em que o orvalho saltimbanco Impedia o sol de brilhar, Procurei-te, feiticeiro….
Sob as pontes que cruzam o Douro, Nos relvados que o ladeiam, Ou na areia que jaz prateada… Ali, no abandonado ancoradouro Onde os barcos descansam Embalados pela água amansada…
E a bruma, muito lentamente, Foi, como por encanto, fugindo Deixando o astro sair do seu torpor E aquecer-me, suavemente… E naquele céu azul infindo Vi-te então reflectido, meu Amor…
Onde estavas? Baixei o meu olhar E procurei-te, ainda mais perto… Aproximei-me da margem E ali, nas águas do rio e do mar, Que se cobiçam a céu descoberto, Quis-te como a mais ninguém…
Sou nada, ninguém, Que tu, um alguém, Viu… Sentiu… Fez florescer, E renascer, Suavemente, Intimamente… Olhando a vida, Até aí tão esquecida De momentos lindos, De sonhos infindos, De ansiedade Ou felicidade. Desabrochei com o ardor Do teu doce amor E desse olhar… Do teu palpitar, Do teu bem-querer… Mais e mais, Sem nunca ser demais! Por isso te quero, E espero Que a vida te deixe brilhar, E que não pares de me amar!
Ter-te,… é amar-te…. Esperar que o amanhã chegue, Que o dia de hoje se prolongue, E que o de ontem se repita!.... Ter-te,… é amar-te…. É querer-te, é desejar-te…. É gostar do Sol que se ergue, Deixar que o sonho se alongue E torne a minha vida infinita!
Porque… ter-te, é amar-te! Com calma, na tempestade… Com a doçura da inocência De alguém que foi castigado…. Ter-te, é mil vezes amar-te, É viver-te, é sonhar-te… Sofregamente… ou com suavidade, Beijando-te com a violência De um amor bem guardado…
Saudade da tua expressão, Algures, em tempos idos… Umbilical laço de amor... Debilidade da paixão, Abafada em gemidos... Doce e crua amarra... Enlevo tão assolador... Sensível amofinação….
Olhei… e contei as pétalas Daquela linda rosa vermelha Que ali roubaste para me dar… A cor e o perfume que dela inala São já uma pequena centelha Que poderá um fogo atear…
Aspirei a doce fragrância Vezes sem conta, intimamente, Desejando ser parte dessa rosa… Sonho, fantasia, natural ânsia, Ao sentir tão estreitamente Essa declaração silenciosa…
E na calma da sentida revelação, Entreguei-te uma pétala e uma folha Como se te oferecesse de imediato Um espaço junto do meu coração… Este mesmo, que resguarda e aferrolha Em si tudo o que lhe é muito grato…
Rosa linda, imensa, perfeita, Imagem de sentimento e ternura, Prova de amor simples e crescente… Rosa que me enfeitiça e deleita, Que é uma pequena miniatura De alguma emoção já latente…
Casa de lata, Renda barata, Uma só divisão… E falta de pão… O pai trabalha, A mãe junta a migalha. As crianças choram, Brincam, sujam. Há cão, há gato, Não há comida no prato!
Casa de lata, Onde o tempo mata. Abrigo de duro chão, De vidas lutando em vão. Casa que o pobre talha E imagina sem falha. Casa onde se enterram Projectos que se sonham. Casa de lata, triste fato Para quem na miséria é nato!
Tu és a minha sombra constante Que me abraça sem atropelar Nas escaladas do meu sentir… Tu és a minha estrela cintilante Que não cessa de brilhar E aparece para me descobrir…
Tu és a minha pena e alegria, O meu brilho e escuridão, O meu nada e o meu tudo…. Tu és para mim a dicotomia Que se agita nesta vastidão Do âmago secreto que desnudo…
Tu és tudo o que não tenho, E é por ti que me aventuro Por entre ilusões e certezas, Usando a minha alma e engenho, Para destruir todo e qualquer muro De isolamento e tantas asperezas…
Tu és quem passa, ao meu lado, Sem me fitar, vezes sem fim… Sem sequer saber que existo… Tu és o meu sonho inacabado, Arquitectado dentro de mim E pelo qual eu não desisto…
Tu és para mim o ar que respiro, Os meus olhos, a minha energia, O meu sangue, a minha vida… Tu és o primeiro e último suspiro Do meu ser em exaltada rebeldia E da minha alma amadurecida…
Que tem a vida de tão poderoso Que facilmente se expande Nas palavras dos meus poemas? Por entre todo o rumo anguloso, E antes que a vida se abrande, Assim rompo as minhas algemas…
Elevam-se palavras voláteis Ao som de doces melodias, Impelidas pelo odor a alfazema… Também pétalas de rosas versáteis, Exibem deleitosas acrobacias De voluptuosidade suprema…
São cantos de eterna delícia Lançados pelo acontecer De tantos desejos e vivências…. São brados de amena euforia, Que se sucedem ao apetecer De momentos e cadências…
Escapam-se em catadupa ágil Como cascata fresca no estio Caindo do alto da montanha... Emolduram minha vida frágil, E assim vão derretendo o frio Da solidão que me acompanha…
Embuste ou mentira, Ocultação e falsidade…. Vidas em conflito, Dispersas na fraqueza Que menospreza Aquilo em que acredito, No culto da verdade Por muito que nos fira!
Afasto-me do teu ardil. Não quero a tua desordem De sentimentos indefinidos…. Ou de vida tumultuosa, Que abraças, tão sinuosa, Em mutismos comprometidos, Monossílabos que me recordem O muito que tens de pueril…
Destruíste a possibilidade De ambos vermos o mar …. E sentir a noite em comunhão …. De seguir pela vida abraçados Naqueles sonhos entrelaçados…. Desfrutando dessa aquietação Que existe no poder de se amar E viver em cumplicidade!
Apareceste no horizonte matizado De um sonho longínquo e intermitente, De cheiros e sabores desconhecidos…. Odor a lindas rosas, a um fresco relvado… Paladar de saboroso manjar ardente… Amálgama doce para os meus sentidos…
Cavalgaste numa nuvem que passava, Sem esconder esse sol que nos ilumina… Passaste algumas montanhas, vales e rios… Sempre tentando olhar e ver o que se passava Na terra que lá em baixo, muito em surdina, Te lançava cânticos… e fortes desafios…
Subindo pelas escadas da longa procura, De amor delicado, sereno e compartido E de ternuras presentes e enfeitiçadas, Agarrei nessa nuvem que passava segura, Arrastando-a para o meu paraíso perdido De momentos e tantas horas desperdiçadas….
Segurei-te bem nos meus braços… Aninhei-me na meiguice do teu olhar, E mergulhei no meio da felicidade…. Expulsei todas as tristezas e fracassos…. Dei-te a mão, comecei a viver e amar, Fiz do meu sonho uma eterna realidade….
Se eu pudesse estar contigo, Far-te-ia viver o sonho de uma hora, Em que se perde toda a noção Do tempo, do mal, do castigo, Da gente que sofre e grita lá fora, Sem Amor, sem o luar duma noite de Verão!
Amo-te, perdida nos teus braços Que me apertam possessivamente Com a ternura calma de quem deseja… Amo-te e enterro os meus fracassos, Numa entrega total… suavemente, Amo-te sobre o que quer que seja!
A saudade Que me invade Não dói, mas pesa, Não mata, mas apresa… Vem do coração E com toda a razão Ai está em cada momento Num constante batimento… + Esta mesma saudade Acumula a imensidade De uma enorme represa De águas em correnteza, Sentimentos em constelação, Querenças em afirmação, Sem atordoamento, E em renascimento… + Bendita a saudade Que na sua imensidade Me prepara para a afoiteza De renegar essa tristeza Que nasce do aluvião De sensações em ebulição… E origina esse sentimento Lindo, em amadurecimento… + De ti sinto essa saudade Envolvida em suavidade, Sujeita à delicadeza De uma ténue incerteza… Saudade que, na ligação De duas almas em eclosão, Responderá ao chamamento De vidas em delineamento… +