Voltei... (Para todos os luso-poetas)
Voltei...
Íris Galvão.
Voltei do exílio onde me escondi
com a dor dobrada e muito mais intensa,
pois quando estava, virtualmente, aqui,
eu já sentia a falta da presença!
Voltei, porém, mais forte do desterro...
Nada ensina mais do que a carência!
Perdi contacto, mas achei meu erro:
só piorei as coisas com esta ausência!
Para fugir das críticas injustas,
eu me afastei do site e da poesia...
Fiz a viagem inteira às minhas custas,
sem pensar que ao correr eu me perdia:
não só de mim, até das esperanças
e do convívio dos amigos virtuais...
E se guardei na mala essas lembranças,
a saudade de vocês pesou bem mais!
O tempo apagou nomes e temas,
recordações sumiram quase inteiras:
onde estariam os anjos dos poemas,
as rosas-gente e as veras verdadeiras?
Onde andaria quem só me Mentia
no nome criativo e tão sonoro?
Era tão grande a angústia que eu sentia
que ao lembrá-la eu emudeço e choro!
Voltei, assim, porque não poderia
-estou bem certa disso e não me iludo-
sobreviver, ficando mais um dia
sem ter notícias, sem saber de tudo...
Meu coração partido e já refeito,
acumulou, então, tanta agonia,
que não deu mais no espaço do meu peito
e explodiu enfim nesta poesia!
LINGUA PORTUGUESA
Lingua Portuguesa
A língua portuguesa é prepotente:
invasora,
opressora,
inconsequente...
Penetra, sem licença, em nossa vida:
sinuosa,
verso ou prosa,
sem medida...
Rendidos, aceitamos a presença:
de improviso,
sem aviso,
muito intensa...
E abrimos a fronteira e o coração:
explorados,
dominados,
sem ação...
A língua portuguesa é invencível:
boa amante,
viciante,
inesquecível...
Por isso ela pode ditar leis:
ela zela,
pois foi ela,
quem as fez...
Ela sabe aprisionar e deixar louca
quando toca o céu de qualquer boca!!!
Sou escrava dos meus versos
Sou escrava dos meus versos
Íris Galvão
Meus versos já estão crescidos,
cortaram os próprios umbigos,
já não me consultam mais...
Saem sem pedir licença,
sem achar que é ofensa
me deixar ficar pra trás...
Eles fazem suas leis,
se colocam um por vez
no espaço da poesia...
Fico assim abandonada,
já não invento mais nada
é só deles a autoria!
Eles decidem a rima,
duas embaixo ou em cima,
rima junta ou alternada...
São brancos versos, às vezes,
que brincam durante meses
com a palavra liberada...
São longos ou bem curtinhos,
muitas vezes são juntinhos
e em outras bem dispersos...
Falam de ódio ou de amor,
são bons ou não têm valor,
não são mais meus os meus versos!
Donos do próprio nariz,
dizem mesmo o que eu não quis,
eles são uns anarquistas...
Se exibem, sem censura,
não adianta eu ser dura,
pois fogem das minhas vistas!
Se os versos, meus já não são,
se têm própria opinião,
nunca mais vou ser julgada...
Critiquem os novos autores,
que agora são meus senhores,
pois sou eu a escravizada!
Para minha filha quando criança ou para a criança que ainda existe nela.
Para minha filha quando criança ou para a criança que ainda existe nela...
Olhar verde-azulando
ou azul-verdejando,
encontro perfeito do mar e do céu...
Cabelos compridos,
macios,brilhantes,
castanhos dourados,
castanhos de mel...
Criança esperança,
não tenho mais fim,
beleza saída de dentro de mim!
As faces rosadas
e o sorriso bem feito,
o jeito inteligente,
de quem cedo aprende
e aprende ensinando
quem ensina a lição...
O jeito dengoso
por ser muito amada,
gênio caprichoso,
menina mimada,
pergunta por tudo,
não fica calada,
é o meu maior tesouro,
filhinha adorada!
Para minha filha no seu aniversário (19 de novembro de 2006)
Para minha filha no seu aniversário (19 de novembro de 2006)
Amo você
com um amor tão imenso,
que tudo que digo ou penso,
são versos inexpressivos...
Amo você
com um carinho tão puro,
que quanto mais eu procuro,
mais dispenso adjetivos...
Amo você
de um jeito tão diferente,
que nada me vem à mente,
com força pra proclamar...
Amo você
Com um tão grande desvelo,
que não posso descrevê-lo
por mais que tente expressar...
Amo você
com um amor de mãe pra filha,
que não aprendi na cartilha,
que ganhei com a experiência...
Amo você
com um gostar auto-didata,
que vou carregar bem grata,
pela trilha da existência ...
Amo você
por toda a vida e além dela,
tendo a certeza tão bela,
de ficar no pensamento...
Amo você
e estaremos sempre unidas,
pois nesta e nas outras vidas,
o que sela é o sentimento!
Amo você
e hoje, o meu calendário,
marca o seu aniversário
com um afeto mais forte...
Amo você
por estar sempre ao meu lado,
por ser meu anjo adorado,
meu relicário da sorte!
O que dói em mim ( original )
O que dói em mim...
Íris Rocha Galvão.
O que dói em mim
não é não ter você...
Não é viver tão só com tanta gente...
O que dói em mim
é que eu não tenho o que
poder lembrar pra lhe fazer presente...
O que dói em mim
é que não há saudade
de beijos e de abraços apertados...
O que dói em mim
é que a nossa verdade
são só mentiras e sonhos mal sonhados!
O que dói em mim
é a covardia de não ter ousado,
é saber que este amor não tem sentido...
O que dói em mim
é não poder chorar por um passado
que não houve mas podia ter havido!
O que dói em mim
é escutar a sua voz distante
quando queria ouvi-la em meu ouvido...
O que dói em mim
é não ter sido amante,
nenhum gesto de amor ter recebido!
O que dói em mim
É ter amado tanto,
ter arriscado e não receber nada...
O que dói em mim
não é nem mesmo o pranto
mas a alegria que me foi negada!
O que dói em mim
é que não teve jeito
de você compreender meu sentimento...
O que dói em mim
é o que não morre no meu peito
e sobrevive em meu pensamento!
O que dói em mim
é o segredo divulgado
e o que era só seu, passado à frente...
O que dói em mim
é o amor ridicularizado,
muito mais do que você indiferente!
O que dói em mim
é não ter começado,
pois a saudade me faria companhia...
O que dói em mim
é o rancor guardado
por você não entender o que eu sentia...
O que dói em mim
é o sentimento de lealdade
que me negou o direito a ser feliz...
O que dói em mim
é que por amizade
você negou na vida, o que eu mais quis!
O que dói em mim
enfim é que eu bem sei
que você também não pode se esquecer...
O que dói em mim
é saber que se eu errei
você errou bem mais por não querer!!!
(O poema O que dói em mim tirou em 1º lugar no Concurso Poemas de Amor do Estado do Rio de Janeiro - Brasil... Posteriormente fiz um outro poema com o mesmo título, que já enviei...)
No navio negreiro
No navio negreiro...
Letra: Íris Galvão.
Cortando os mares,
no fundo de um porão...
Sem sentir todo o frescor, dos ares!
A tristeza em meu coração
escorrendo em forma de suor...
As correntes da humilhação
causando a dor maior...
Longe a liberdade,
tão perto a escravidão...
Indefeso e triste estou, saudade!
A revolta vai crescendo assim
em meu peito e no mar também...
Peço a Zâmbi pra botar um fim
em mim e o banzo vem...
Não desista nunca de lutar
pelo espaço que é seu na vida...
Mesmo quando acorrentado
a mente livre acha a saída...
Mesmo quando o peso da opressão
for demais para agüentar nos ombros,
não se esqueça que a escravidão
gerou muitos quilombos...
Quando o sêmen se fez gente ...
Quando o sêmen se fez gente...
Poema para minha filha Karla, feito hoje, dia de seu aniversário.
Quando o sêmen se fez gente,
dentro da minha barriga,
tudo mudou de repente,
eu me senti protegida...
Nos nove meses de espera,
que esquecer não consigo,
preciso ser bem sincera:
você foi o meu abrigo!
Quando, enfim, você nasceu
e cortaram seu umbigo,
por vencida não se deu,
ficou ligada comigo!
Quando acompanhei seus passos,
dando a mão para ajudar,
me prendendo com seus laços
você me ensinou a andar...
Foi você, minha querida,
que quando de mãe me chamou,
tornou plena a minha vida,
e a inspiração começou!
Desde então se você fala,
é só pra me elogiar...
E se, às vezes, você cala,
eu entendo o seu olhar...
Nas horas que estou feliz
você se alegra por mim...
Se estou triste, você diz
que a tristeza vai ter fim...
Por toda a vida ficou
Perto de mim, me amparando,
casou-se e não me deixou
continuou me ajudando...
Foi você, quando enfartei
que me falava chorando:
- você é forte, eu bem sei,
continue então lutando...
Quando fui para a UTI,
junto à parede ficava:
- Mamãe, eu estou aqui..
E sua voz me animava...
Quando tive que operar
e me deixaram partida,
você é que estava lá,
segurando a minha vida...
5 pontes colocadas,
dentro do peito rasgado,
todas elas sustentadas
por você sempre ao meu lado!
A saudade que calada
sentia do seu filhinho,
pr´eu não me sentir culpada
me escondia com carinho...
Você dizia: - Eu sei bem,
que não pode ficar só...
Faço-o por ele também
que espera pela vovó!
Devo a você a vitória,
se hoje sou sobrevivente,
você mudou minha história,
quando o sêmen se fez gente!
Há em você...
Há em você...
Íris Rocha Galvão.
Há em você um magnetismo que me inibe,
onda elétrica solta, desconexa,
algo que me assusta e me fascina,
um ímã poderoso que aproxima
e ao mesmo tempo afasta,
nesta sensação estranha e tão complexa,
que me faz sentir o indefinido,
aquilo que pressinto mas que não tem sentido,
algo muito forte e proibido...
Há em você um mistério e uma promessa,
Algo tão profundo e louco,
que muda para tudo o que é tão pouco,
que não vê barreira que impeça
esta afinidade grande e anormal,
que não nasceu do tempo e nem da intimidade,
que surgiu insensata de um momento
em que não separei o bem do mal,
em que eu confundi mentira com verdade...
Há em você algo que eu nem sei o quê,
mas que perturba, emociona e toca fundo,
lá bem no fundo do meu coração...
Há em você algo irracional, mas que se faz razão!
Razão deste poema cujo valor está ligado
Apenas a quem o inspirou...
Poesia sem futuro, presente ou passado,
versos ao sabor da inspiração,
porque você somente é uma dimensão ...
Pedido para Tália
Pedido para Tália:
Íris Galvão
Teus versos riscam no espaço
melodias sem compasso
que chegam ao coração...
São canções que sempre vejo
transformarem-se num beijo
de amizade ou de paixão...
São o vinho já provado
que ofereces com cuidado
na palma da tua mão!
São o pecado mais certo
ou a virtude mais perto
da loucura e da razão!
Sendo enóloga e poeta,
mexes na medida certa
com a nossa lucidez...
Por isso, Tália, te peço:
quero provar vinho e verso
e chegar à embriaguez!