Poema do amor impetuoso
Que eu beba a sua praticidade
Comerei cada atitude sua sensata
Posso respirar a tua objetividade
Adentrar devagar e dócil
no seu pomar de virtudes
E colher as maduras frutas sãs
Mas não poderás beber da minha
audácia ou da minha coragem
Nem comerás a insensatez
do meu coração apaixonado
No meu jardim chove
diariamente e as flores
desabrocham lascivas nas
mãos ao sabor do vento
luxurioso da paixão voraz
Na minha casa em ruínas
não habitarás porque
em minha cama desfeita
Só deita quem já chorou
sofreu e se embriagou
na impetuosa taça do amor.
A casa da Morte
A casa da morte
Do outro lado da rua
Uma casa abandonada
Do outro lado da vida o que haverá?
Morrer não deve ser diferente de fechar os olhos
e abrí-los para um cômodo qualquer abandonado
no qual, nós mesmos
poremos a mobília de sonhos, de amor ou de dor
como nos aprouver.
Minha casa da morte
tem uma estante de livros de poesias
uma “long chaise”
e “Soleil levant” de Monet
no lugar de uma janela.
Uma concha para ouvir o mar
uma velha foto de família
e memórias
que ora choram, ora riem.
A morte é só
mais uma casa abandonada
esperando.
Adriana Costa
Poema publicado na revista Cultural Novitas nº 3.
Solidão
Dói-me a minha solidão
Você tem a sua
Ele tem a dele
Mas eu não posso
Sentir a sua solidão
Nem a solidão de qualquer outro
Só sei que me sinto só
Pequena não, grande
Solidão de ser um gigante
Porque aos meus pés
Ninguém olha para mim
Aos meus pés ninguém me vê.
Imagem: ladysbugwhispers.blogs.sapo.pt
Anoitece
talvez eu queira agora
escrever versos sobre a tarde
que se despede em raios solares
talvez sobre o crepúsculo eu queira falar
sobre a noite que chega densa
e tudo cobre com seu negrume
e tudo fica sob o seu peso
de sono
e solidão.
Imagem: http://farm1.static.flickr.com