Again
E lá estava ela de novo
Aquele vago sentido na visão
Aquele vago pressentimento
Uma vaga saudade.
Bolso vago.
Aquela vaga ilusão desencadeada.
Aqueles vagos amigos.
A vaga idéia lhe percorre o corpo.
Lá estava ela.
Com seus vagos cabelos
Surfando na fumaça de um cigarro.
Imaginando tudo novo que virá.
O vago abismo.
A vaga solidão.
A vaga lágrima.
O vago caminho.
O vago sorriso.
Tudo de novo,
Não diria o vago espaço,
O vago..
O Inferno outra vez.
Sozinho
Eu poderia dizer-te coisas tão belas!
Descrever-te teu rosto e como é belo também
Falar-te do teu riso, e como é bom para mim ver-te sorrir.
Ah pequena, eu poderia passar a mão no teu rosto
E olhar bem nos teus olhos, dizer-te
que és para mim assim como o ar
para os pulmões dos náufragos.
E como eu queria!
Que quando passasses de leve assim ao meu lado
Sentisse o aroma do meu rosto
Sussurrando para a minha intensa necessidade
Hoje eu queria descrever-te
E dizer-te o quanto te quero
Porque aos poucos eu morro,
me mato em meu peito.
Mas da caneta meu bem, apenas as lágrimas soltas,
Porque mesmo com o teu semblante inerte
E o teu humor degradável,
Ainda assim até a aurora quando nasce
Percebe que a tua presença é ainda maior que este poema
E que nem ela para mim vai valer o dia
Se desta folha branca nao sair a tua pele negra.
Poema da tarde
Uma aura negra cobriu meus olhos
Diante da esplêndida imensidão do teu destino
E em meus dedos cintilavam a carne estúpida
Entrando cada vez mais afim de abrir-me a pele.
A tua ausência, pensada ausência
Proposital ausência, enfraqueceu-me
E fez-se novamente o tormento do meu ser
A tua pensada e proposital ausência.
Porque tu és a aura negra que queima minhas noites
A vasta e inalcansável planície da tarde
E toda criatura que envolve-se em teus lençóis
Acorda envolto no rubro do teu sangue.
Porque tu és a aura negra da atmosfera
Disposta a fechar-me a garganta e
Porque os meus atos, são os teus atos
Postos feito chama diante do espelho.
Extremos
Sensatez nunca foi meu forte.
Sempre desdenhei desse tipo de sentimento onde na maioria das vezes você é obrigado a fazer o que os outros querem.
Ou o que é melhor para você.
Na verdade ser sensato significa " Não se machuque"
Quase sempre.
Mas, sempre antes de ser sensata, eu me pergunto: " E porque não?"
E porque não arriscar? E porque não cair e aprender? E porque não?
Porque não?
Melhor do que morrer na espectativa do "E se".
E se eu morrer? E se chover? E se eu tivesse entrado pela porta esquerda?
E se eu não tivesse conhecido? E se eu tivesse medo?
E se eu ainda estivesse?
Sinceramente? Morreria no "Porque não" e me suicidaria na dúvida do " E se".
Malta-Verde
Hoje, onde pisam meus pés e correm minhas lágrimas
Hoje onde sussurro com medo dos pássaros em volta
Hoje onde em meus dias felizes andei descalça
Brota da areia o caule torto e a veia morta na desesperança.
Nasce do chão um alarme falso de alegria ao vento
Germina com cuidado cada partícula de um ser que sofre
E até todas as folhas, e frutos e sementes choram de dor
Relutando cada dia mais contra pragas nojentas em volta.
Diante deste espetáculo agourento na mata ainda verde
Ao canto brota em solidão uma rosa nova e sadia
E cresce mesmo sem querer por entre a podridão do mundo
Adiando o que é a maior das dores universais já presente
O grito de pavor dos corpos gelados no frio da solidão
A saudade que agora é, de longe, o húmus da terra mal semeada.
Carta ao ausente
Tu és a presença rara,
Ausente em qualquer outra mulher do mundo
A satisfação sincera que acalma meu sentimento
Tu és a menina linda que surgiu no meio da ingratidão eterna.
E eu morro, estando meu corpo cansado planando ao vento
Será tão divino o momento que tocar o teu rosto
As aves dormirão para novamente acordar ao teu beijo
E eu serei a mais sublime das criaturas por novamente estar deitado no teu abraço
Pequena, se tu soubesse a falta que faz
Os dias perdidos de propósito para estar ao teu lado
Porque contigo meu amor, eu perderia a eternidade de uma vida
E me entregaria de prontidão para ver-te de novo em teus sonhos
Amiga, espere cada dia que eu estiver fora
Porque cada lágrima que derramas
É um chamado a mais para a minha presença
E durante as noites que eu também chorar
Saberei acalentar minha solidão
Porque sei que é o teu beijo que vai sossegar a minha alma desenganada.
O corpo
O teu corpo mole, quente e volátil
(Manso e cheio de querer-me por perto)
O teu corpo liso e cheirando a hidratantes florais
(Afrodisíacos de uma ida sem volta)
O teu corpo que agora anda nao sei por onde
( Mas que eu queria que estivesse à minha porta)
O teu corpo de uma vida adolescente e louca
( E tatuado uma rosa na panturrilha esquerda)
O teu corpo de braços fortes a apertar-me
( E de uma preguiça eterna que eu amo)
O teu corpo um dia amado, mas não por mim
( Mas que não tira o meu desejo de um dia tê-lo)
É este corpo que eu quero,
Não outro que por acaso passa na rua.
É o teu corpo que eu fixo na memória
( E não o da maldita mulher que dizes que desejo.)
Um dia
Espero te abraçar bem forte e ter certeza do teu abraço também
Um dia eu quero viajar com você
Passear na praia, que nem naqueles filmes que a gente viu na tv
Um dia eu quero que o teu " Eu te amo" seja sincero
E que as tuas palavras nao sejam ditas apenas para esconder o que você sente,
Porque eu sei.
Um dia,
A gente vai rir tanto desses momentos que passamos
Que a barriga vai doer, e vamos dançar nas noites de sábado
Eu eu você, um dia vamos brincar com os carmurros passando na rua
E nos sujar na cozinha fazendo doces intragáveis
Um dia,
A gente vai dormir de mãos dadas, sem nem soltar a noite toda
E quando acordarmos nem vamos conseguir nos mexer
Vai chegar um dia, que você nao vai mais querer me largar
E nem sair de perto de mim
Um dia meu bem,
Você vai acordar do meu lado, e perceber que queria ter nascido ali
Ter vivido ali,
E nunca ter saído do meu abraço.
Na rua
Da mão espalmada jaz o quer restou de leve
Esquentando a solidão mal amada de quem sofre
Almejando incessantemente a incrível paz interior
Do frio nasceu o canto- Pobre menina que chora na rua.
Do gozo fervente sobrou água boa de beber
Saboroso e ardente o gosto da navalha que desce do umbigo dela
De meus dias angelicais desejei tal afinidade,
Do rio na face rubra- Menina, não chore de novo.
De meu peito fogoso quem dera nascesse o dia
E invadisse o pressentimento de inércia total do ser humano,
Porque da folha cresce o sabor da gente- Menina nao chore.
Ainda bem que hoje ela parou de brotar tristeza,
Ainda bem que da semente que cai hoje na terra,
A menina só tira os fiapos pra deixar o que há de bom nascer do meu lindo chão.