Notas de um candidato a suicida I
Notas de um candidato a suicido I
Nesses últimos dias tenho me intrigado demasiadamente com dois jovens que conheci pela minha atual namorada. Estávamos em um certo bar, matando o tempo, como de costume até que chegou um desses dois rapazes. Sentou-se a mesa com a gente onde fomos apresentados, aparentava tristeza, angustia em seu olhar, entretanto, sua fala era firme e não demonstrava nenhum sentimento aparente. Em conversa com Daniela após alguns minutos, soltou uma frase que nos causou surpresa. Disse que tinha um amigo preste a cometer suicídio e que caso ocorre-se isso, ele disse ao amigo, que também se mataria. Cabisbaixo com ombros encolhidos, mas a fala ainda firme, depois do dito, desviava constantemente o olhar dos nossos. Daniela tentou usar palavras para sua consolação, contudo, ele demonstrava defensivo e por vezes, disse que palavras não mudariam os fatos. Até o momento então, eu não quis falar nada estúpido até que pudesse entender o que realmente se passava para ter aquele sentimento. Perguntei-lhe o porque do amigo dele querer se matar, já que o suicídio não é a saída para nenhum problema. Então me disse que ambos, não agüentavam as pessoas ao seu redor, seu convívio familiar, social. Terminou me dizendo com respiração ofegante e com as mãos inquietas. Fez-me pensar então que se tratava de um casal de homossexuais sofrendo de discriminação por parte do seu circulo social, familiar. Contudo, não poderia perguntar se eles eram homossexuais explicitamente, já que, não temos nenhum laço de amizade e nos conhecíamos há poucos minutos. Para algumas pessoas que já sofreram discriminação da sociedade, isso é guardado a sete chaves, entretanto, para outras é um motivo de orgulho, enfim, pela maneira dele estar vestido e da maneira que se comportava, tive certeza de como era seu comportamento. Então lhe perguntei, qual era o grau de amizade dos dois. Disse-me pensativo que eram como irmãos e começou a me falar do tal amigo, disse sua idade, ambições... Ainda que havia me dito que eram como irmãos, não conseguia descartar a idéia de serem um casal. Via em seus olhos e gestos a maneira como falava do amigo, porem, o que ele me disse havia me feito pensar que era apenas uma crise da adolescência, por atenção, medo, descobrimento e sentimentos diversos. Pois, o que conversava conosco tinha 21 anos e o amigo 17 anos. Dani tentava convencê-lo do contrario, mas ainda sim, se comportava defensivo, depois de alguns segundos em silencio, ela foi ao banheiro. Então lhe disse porque os dois não poderiam fazer uma viagem pelo litoral, pegar as primeiras vagabundas que encontrassem, para sair dessa rotina opressora. Ele deu uma risada, ficou pensativo e disse-me que não importava o que eu dissesse ou o que fizesse, não mudaria os fatos. Disse-me também que a mãe do amigo o reprimia de tal maneira que não o deixava sair de casa e isto era apenas mais um motivo do seu desejo, referindo também, que havia uma lista para o porque deste desejo. Fiquei pensativo por alguns segundos até que Dani voltou conosco. Disse-lhe então novamente que o desejo da morte esta em todos nós, entretanto, não explicaria o seu desejo antecipado, se é podemos dizer antecipado. Já que nunca saberemos quando iremos morrer, enfim... Disse-lhe que em casos enfermos onde se sobrevive por maquinas, poderia ser entendido, mas no caso deles... Problemas todo mundo tem, ódio de nos mesmo e de nossa sociedade também. Basta achar uma maneira para resolver, solucionar este problema. Por que não tentem conversar com um psicólogo, um analista, não sei, mas concerteza podem ajudar a descobrir o âmbito deste desejo. Dani me apoiou na idéia buscando e segurando a mão dele, contudo, ele respondeu diretamente que nenhuma conversa, analista adiantaria. Isso já estava me deixando irritado, toda essa defensiva da parte dele e ao mesmo tempo em que se mostrava disposto a nos escutar, recuava rapidamente quando íamos contra seus ideais, se posso assim dizer. Então lhe disse de um problema familiar, um câncer que foi muito difícil no momento superar e ainda hoje é difícil, mas nem por isso ninguém desejou a morte, todos lutamos contra ele, apoiamos de todas maneiras possíveis. Não digo que superamos o problema, mas as vezes o fingimos que o superamos para ver o problema diminuir e por algum tempo desaparecer. Ele sempre estará lá, mas é nossa função dar o apoio necessário a essa pessoa e não aumentar sua dor, minha família inteira rapou o cabelo junto em um tipo de sinal de apoio na quimio, já que para ela (a pessoa com câncer), foi terrível perder o cabelo, acabava com a sua vaidade. Não houve a resolução, já que não é algo que possa ser solucionado ao contrario de vocês. Ao terminar de dizer, ele se comportava cabisbaixo e reflexivo. Então se levantando da mesa, disse que eu era muito esperançoso. Nos cumprimentamos, então lhe disse que prefiro ser chamado de um insistente filho da puta, rimos e cumprimentou Daniela que o convidou para ir a sua casa. Marcaram um dia e foi embora...
CB